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Tecnologia é aliada contra mudanças climáticas no Pantanal

Enquanto as interferências climáticas afetam parte do bioma, a pecuária de corte, especialmente na fase de cria, tem sido uma fonte crucial

O Pantanal passa por transformações impulsionadas pela tecnologia, resultando em aumento na produção. Em novembro de 2020, incêndios devastaram 26% do bioma, afetando 4,6 bilhões de animais. Nos anos seguintes, as queimadas aumentaram na região, algumas ligadas a ações humanas e outras a fenômenos naturais, como a autocombustão do cerrado.

Os extremos climáticos no Pantanal, caracterizados por períodos de chuvas com inundações e secas com queimadas, impactam significativamente a produção e a região. Enquanto as interferências climáticas afetam parte do bioma, a pecuária de corte, especialmente na fase de cria, tem sido uma fonte crucial de produtividade, com os bezerros sendo a principal ênfase da produção, sendo levados para regiões periféricas para recria e engorda, conforme indicado pela Embrapa Pantanal.

Ainda assim, de acordo com a coordenadora do projeto Viva Pantanal, Tatiana Scaff Teles, as interferências no clima foram decisivas para as alterações da produção no local. “No Pantanal, os produtores sofrem com os extremos, como a seca vivenciada nos últimos anos, bem como a falta de água, tendo impactado a queda na produção. Sendo assim, muitos produtores tiveram a sua produção afetada pelo encarecimento do preço dos produtos”, enfatiza a coordenadora.

A especialista destaca a importância da mecanização no campo para reduzir a dependência das ações humanas, especialmente em operações de limpeza e manutenção de pastagens. No entanto, a implementação desses mecanismos na região do Pantanal ainda é lenta, enfrentando desafios como a especialização da mão de obra. Apesar dos obstáculos, a introdução de novas tecnologias na região tem impulsionado produções eficientes, tornando o Pantanal competitivo em relação ao Planalto. A especialista ressalta os benefícios, incluindo a diversificação de raças na pecuária e a possibilidade de práticas mais intensivas e seletivas na criação de animais.
 

Informações: AGROLINK.

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Israelense ICL adquire empresa paranaense de insumos biológicos

Negócio com a Nitro 1000, de Cascavel, foi fechado por US$ 30 milhões

A israelense ICL, que atua no segmento de insumos para agricultura e pecuária, informou nesta quarta-feira que adquiriu a paranaense Nitro 1000, com sede no município de Cascavel e foco em produtos biológicos. O negócio foi fechado por US$ 30 milhões e fortalece os planos da ICL de construir uma plataforma relevante de biológicos no Brasil, que já é responsável por 20% do faturamento da multinacional (US$ 7,5 bilhões em 2023).

“A estrutura da Nitro 1000, aliada aos nossos recursos de P&D, permitirá o avanço no segmento de biológicos e nos posicionará como a empresa de tecnologia com o portfólio mais amplo do Brasil, permitindo o atendimento às diversas demandas dos produtores”, afirma Ithamar Prada, vice-presidente de Marketing & Inovação da ICL, em nota. O mercado de insumos agrícolas biológicos movimentou mais de R$ 4 bilhões no país no ano passado, segundo a CropLife, entidade que representa companhias do ramo.

Fábrica da Nitro 1000 em Cascavel (foto: Divulgação)

A Nitro 1000 é especializada na fabricação de inoculantes, produtos com micro-organismos que favorecem o crescimento das plantas, e tem capacidade para fabricar 4,5 milhões de litros por ano. Iris Guindani, um de seus fundadores, permanecerá à frente da companhia. Os inoculantes da Nitro 1000, que podem substituir ou otimizar o uso de fertilizantes, serão direcionados sobretudo a lavouras de soja, milho e cana.

Informações: InfoMoney.

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Mercado de capitais chega as florestas de eucalipto por marketplace

Esta semana, a ForesToken e a GCS Capital apresentaram ao mercado uma novidade que vai colocar produtores e investidores frente a frente, para negociar a produção, sem intermediários. A partir do marketplace ForesToken- primeira iniciativa do gênero no mundo, segundo a empresa – lançado no endereço www.forestoken.com.br, os produtores de eucalipto poderão cadastrar as suas produções e negociá-la com investidores individuais e um fundo de investimento estruturado, com gestão da GCS.

A tecnologia chegou ao agronegócio brasileiro há anos, o mesmo não aconteceu com a produção florestal. “É preciso aguardar de 5 a 7 anos para um eucalipto estar pronto para abastecer a indústria de papel e celulose. E esse tempo promove uma série de desafios financeiros para pequenos e médios produtores”, cita a ForesToken.

Segundo a gestora de recursos, o tempo para que essa produção gere os resultados financeiros muitas vezes inviabiliza a tomada de crédito para os produtores que acabam se sujeitando às condições impostas pelos grandes players. Hoje em dia, de acordo com Grupo Index, que há 50 anos atua no setor, a demanda nacional gira aproximadamente entre12a 15 milhões de hectares e a estrutura existente atende apenas 10 milhões. E essa diferença está longe de ser atendida pelo êxodo de produtores para mercados menos rentáveis.

A ForesToken nasce como um braço do Grupo Index e junto com a GCS Capital, uma das gestoras de investimentos brasileiras referências no setor agro wealth management, para levar ao mercado uma conexão direta com investidores interessados no ativo florestal. Conforme o Relatório Anual 2023 da Indústria Brasileira de Árvores, em 2022, o setor atingiu 1,3% do PIB Brasileiro, ou seja, R$107,2 bilhões.

Segundo o CEO da ForesToken, Rodrigo de Almeida, “essa ferramenta será um impulsionador para o mercado florestal sair de um crescimento anual insignificante, como o ocorrido no último ano-chegando a 0,3% de avanço”. O executivo cita algumas carências desse setor que serão supridas com a novidade: a insegurança no fornecimento de matéria-prima, falta de liquidez, ausência de mercado futuro, transações florestais custosas e burocráticas, entre outras.

O executivo ainda comenta o êxodo que se propaga nesse setor. “Muitos pequenos e médios produtores por conta das dificuldades enfrentadas vem abrindo mão da produção florestal e migrando para pecuária, por exemplo, que trabalha com rentabilidade inferior, por conta da liquidez do setor. Para um mercado promissor, precisamos oferecer condições mais sustentáveis para os produtores”, diz.

O CEO da GCS Capital, Charluan Gamballe, que é um dos parceiros da iniciativa e tem ampla experiência no setor agro destaca que “essa novidade será muito bem recebida pelo mercado e com isso as duas pontas ganham. Além disso, para que as empresas estejam dentro do ecossistema, todas passarão por uma auditoria, exatamente para garantir a segurança das transações, sem contar a transparência que vai estar embarcada nas negociações, já que a ferramenta terá apoio da tecnologia blockchain”.

Sobre a ForesToken

Primeiro e único marketPlace de florestas plantadas do mundo. Um ecossistema que tem o propósito de democratizar o investimento florestal e proporcionar melhores condições de produção para o pequeno e médio produtor florestal, além de trazer mais segurança no fornecimento para indústria e aumentar a liquidez das florestas brasileiras. A ForesToken Digital Assets S/A é uma startup que nasce por iniciativa de seu Founder, Rodrigo de Almeida, o qual foi o idealizador e gestor do Grupo Index, um conjunto de empresas que há mais de 50 anos desenvolve soluções estratégicas e sustentáveis a seus mais de 700 clientes do setor agroflorestal brasileiro. Com o intuito de aproveitar as inovações e novas formas de transações financeiras possibilitadas pela tecnologia blockchain, a nossa startup tem como propósito revolucionar o mercado florestal, tokenizando florestas plantadas e desburocratizando as negociações em um ambiente seguro e controlado, para assim combater as maiores dores do setor florestal.

Sobre a GCS Capital

GCS Capital é uma gestora de recursos autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com certificações na Anbi,a (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e signatária do PRI (Principles for Responsibl Investment), Iniciativa Financeira do Programa da ONU para o Meio-Ambiente (UNEP Fl)e Pacto Global da ONU. É registrada perante a CVM na categoria Gestor de Recursos e Distribuidor de Fundos Próprios de Investimento, é a empresa responsável pela idealização e estruturação do Complexo Turístico Mirante da Santa.

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Veracel Celulose, com operações no Sul da Bahia, atinge novo recorde de redução no uso de água

A Veracel, indústria de celulose com operações no Sul da Bahia, alcançou, em 2023, o menor índice médio anual de uso específico de água da história de suas operações: 20,2 metros cúbicos por tonelada de celulose produzida (m³/tsa). Esse resultado vem sendo melhorado ao longo de sete anos e representa uma redução total de quase 20% no uso de água na produção da empresa nesse período, colocando-a como uma das melhores do mundo quanto à economia do recurso em sua produção.

A redução significa que, com inovações e melhorias nos processos da fábrica, a companhia deixou de usar, por ano, mais de 6 bilhões de litros de água do Rio Jequitinhonha, nos últimos sete anos. Vale destacar que, no processo de fabricação de celulose da Veracel, mais de 99% da água captada do Rio Jequitinhonha é devolvida ao meio ambiente. 

“São pouquíssimas as empresas no mundo que trabalham com patamares de uso de água como os da Veracel. Por isso, é com grande satisfação que alcançamos esse marco, fruto de anos dedicados a uma busca constante por oportunidades que visam não apenas minimizar o uso dos recursos hídricos, mas também garantir que esses recursos estejam sendo utilizado com responsabilidade em todos os nossos processos”, ressalta Tarciso Matos, coordenador de Meio Ambiente na Veracel.

Para atingir esses resultados, desde 2017 a companhia realiza estudos e implementação constantes de melhorias. Na época, o uso de água era de 25,2 m³/tsa. Em 2018, as ações começaram a ser executadas, com a meta inicial de reduzir 10% do uso de água até 2022, o que a companhia conseguiu atingir um ano antes. Em 2023, sete anos depois do início do mapeamento, a empresa fechou o ano com uma redução de 20% no uso do recurso.

Para 2024, a expectativa é conseguir chegar a 19 m³/tsa e, nos próximos quatro anos, reduzir esse nível ainda mais, até 18 m³/tsa. Isso significaria uma redução de 30% desde 2017. Ainda assim, segundo Matos, a expectativa é de que, novamente, esse patamar seja atingido antes.

Algumas das últimas ações implementadas para alcançar esses números foram os investimentos em novas tubulações e válvulas para aumentar o reuso da água em alguns processos. Anteriormente, haviam sido realizadas a automação do controle de nível de tanques, a instalação de novos alarmes nos painéis de controle e a implementação de ferramentas de gestão online para aprimorar o monitoramento e o controle do uso de água pelos operadores.

“Além de ser um esforço conectado com nosso pilar de sustentabilidade, a redução no uso de água resulta em ganhos significativos de competitividade. Por exemplo: a diminuição na demanda hídrica implica na redução do uso de vários produtos químicos utilizados no tratamento de água, o que gera diminuição de custos no processo. Além disso, usar menos água reduz a utilização do sistema que bombeia o recurso para a fábrica, o que economiza energia elétrica e nos permite exportar mais para a rede”, complementa o executivo, referindo-se ao processo de produção de energia limpa da companhia. Esse mecanismo atende 100% da produção da Veracel, e a companhia ainda vende seu excedente, o que gera mais uma fonte de receita para a empresa.

Sobre a água que é utilizada, Matos explica que a companhia tem, como regra, desde o início de suas operações na fábrica em Eunápolis (BA), em 2005, a devolução da água utilizada e tratada pela empresa 800 metros antes do ponto de sua captação. “Isso mostra o quanto confiamos na qualidade do efluente que devolvemos ao Rio Jequitinhonha, outro diferencial da empresa, uma vez que poucas companhias no mundo têm esse conceito”, finaliza Matos.

Para mais informações sobre as atividades ambientais da Veracel, visite o site da companhia.

Sobre a Veracel

A Veracel Celulose é uma empresa de bioeconomia brasileira que integra operações florestais, industriais e de logística, que resultam em uma produção anual média de 1,1 milhão de toneladas de celulose, gerando mais de 3,2 mil empregos próprios e de terceiros, na região da Costa do Descobrimento, sul da Bahia e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Além da geração de empregos, renda e tributos, a Veracel é protagonista em iniciativas socioambientais no território. A consultoria Great Place to Work (GPTW) validou a Veracel como uma das melhores empresas para trabalhar do Brasil pelo 6º ano consecutivo.

Além dos mais de 100 mil hectares de área protegida ambientalmente, é guardiã da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural de Mata Atlântica do Nordeste brasileiro.

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Setor florestal pode liderar crédito de carbono ‘baseado na natureza’ — será que consegue?

Rabobank aponta que indefinição sobre leis, desconfiança sobre qualidade dos créditos e processos longos de certificação são obstáculos para geração de crédito, cujo potencial é de US$ 50 bilhões até 2030

Antes de realmente ganhar tração, o mercado voluntário de crédito de carbono precisa ultrapassar um obstáculo crucial: ofertar créditos robustos e confiáveis—algo que ainda é limitado e tem deixado os compradores em dúvida. É esta credibilidade que o setor florestal precisa mostrar para liderar esta nova economia no Brasil.

“Metodologias rigorosas e em evolução, legislação incipiente a nível nacional e internacional, além da capacidade limitada de acreditação e certificação de créditos de terceiros respeitáveis são apenas alguns dos obstáculos que o setor precisa enfrentar”, afirma Andrés Padilla, analista de Celulose do Rabobank Brasil, em estudo divulgado nesta quarta-feira, 13.

Para que a estruturação dos créditos tenha aval das certificadoras e possam ser comercializados de forma transparente, um caminho para o Brasil é apostar no critério de ‘soluções baseadas na natureza’ ( nature-based solutions ou NBS, em inglês). De acordo com estimativas da McKinsey, ademanda potencial por créditos advindos do NBS pode chegar a US$ 50 bilhões até 2030.

O Brasil poderia participar com aproximadamente 15% dos créditos, mas para isso precisa— junto com o mundo —driblar as adversidades que vêm se mostrando mais evidentes.

“Chegar nesse patamar de US$ 50 bi será bastante desafiador considerando as condições do mercado hoje: oferta limitada de créditos robustos e certificados, indefinição sobre legislação na maioria dos países, o que atrasa investimentos, confiança menor dos compradores por problemas recentes com a qualidade dos créditos e processos longos de certificação com custos elevados”, afirma Padilla à EXAME.

Quem planta, colhe

Florestas plantadas, dedicadas a segmentos como papel e celulose, “têm o potencial para se tornar ator relevante no mercado voluntário de crédito de carbono como emissores de créditos NBS nos próximos anos”. No Brasil, diferentes formatos de atuação do setor florestal podem contribuir para a credibilidade tão procurada pelos compradores.

De acordo com dados da Forest Trends, organização sem fins lucrativos que rastreia transações de crédito de carbono, as transações de crédito de carbono florestais atingiram US$ 1,3 bilhão em 2021, em comparação com apenas US$ 67 milhões em 2016, e são a maior parcela do mercado voluntário de crédito de carbono.

“Em parte, por isso consideramos que o setor formal de Papel e Celulose poderia se tornar um player relevante nesse mercado, considerando o conhecimento que eles têm no manejo florestal e também pela reputação e solidez institucional das empresas no setor”, diz o analista do Rabobank.

A conversão de terras degradadas para o plantio de árvores comerciais, projetos agroflorestais e integração entre pecuária e floresta são alguns dos formatos de atividade que o setor pode desenvolver, a fim de atender às métricas de NBS e ao mesmo tempo fornecer serviços ecossistêmicos ao ambiente.

Outros projetos que podem produzir resultados significativos em florestas comerciais são fazendas de duplo propósito que podem incluir gado e florestas plantadas comerciais de baixa densidade, por exemplo.

Essas estimativas colocam o Brasil e a Indonésia como os dois maiores locais possíveis para projetos NBS, dadas as florestas existentes e a disponibilidade de terras para conversão em projetos.

Informações: Exame.

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Árvores no pasto são modelo ideal para a pecuária, comprova Embrapa

Os resultados destacaram a influência significativa da tecnologia, a ILPF, na melhoria das condições de vida dos animais, impactando áreas específicas além do conforto térmico, como a eficiência reprodutiva dos bovinos

Um estudo realizado pela Embrapa Pecuária Sudeste, localizada em São Paulo, dedicou-se à análise do bem-estar dos animais sob uma perspectiva abrangente, focando especificamente nos benefícios do conforto térmico oferecido pelos sistemas integrados de Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). A pesquisa abrangeu uma ampla gama de aspectos, desde a dinâmica do sistema de produção até a observação das reações ao nível celular em bovinos de corte em regime de pasto. Os resultados destacaram a influência significativa da tecnologia na melhoria das condições de vida dos animais, impactando áreas específicas além do conforto térmico, como a eficiência reprodutiva dos bovinos.

O primeiro parâmetro foi o ambiental (microclima), o segundo, observação dos animais e as respostas comportamentais e, por último, a coleta do material biológico e as análises laboratoriais. “Fomos do nível macro, utilizando sobrevoos de avião com câmeras termais, passando pelo sensoriamento proximal dos animais, até chegar à microscopia. Três abordagens bem diferentes, mas que se correlacionam, e com tecnologias inovadoras”, explicou o pesquisador Alexandre Rossetto Garcia, coordenador do estudo realizado pela Instituição, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Esses resultados apontam que o plantio de árvores em áreas de pastagens tropicais mostrou-se benéfico para um microclima mais favorável à criação de bovinos de corte, influenciando o conforto térmico, expressão do comportamento natural e as condições fisiológicas.

Os dados obtidos no estudo são essenciais para incentivar o pecuarista a implementar na propriedade ações focadas em boas práticas. “O conforto térmico é um componente essencial do bem-estar e que afeta o desempenho de bovinos de corte. Essa informação deve ser considerada quando se utiliza um sistema de produção baseado em pastagens tropicais. Nesses modelos, os animais ficam mais expostos às condições ambientais e podem sofrer com o acúmulo excessivo de calor, principalmente em pastagens sem o componente arbóreo. Assim, é importante saber como os fatores bioclimáticos influenciam a manutenção da temperatura corporal interna e o comportamento, a fim de permitir ajustes no manejo do rebanho e do ambiente de produção”, destaca Garcia.

O estresse térmico prejudica a homeostase (capacidade dos organismos de manterem seu meio interno estável), levando a distúrbios nutricionais e metabólicos, reduzindo a taxa de crescimento e o ganho de peso. Segundo o pesquisador, o calor é capaz de tirar o gado de sua zona de conforto de temperatura, levando ao estresse térmico, comprometendo a reprodução e reduzindo a fertilidade, além de diminuir a eficiência dos sistemas de produção. Eventos climáticos extremos também podem ocasionar efeitos adversos na condição imunológica dos bovinos, tornando-os mais susceptíveis a doenças.

Um dado importante da pesquisa refere-se à evolução de peso e à frequência de consumo de água. As médias iniciais e finais de peso vivo dos animais criados em sistemas sombreados e em sistemas a pleno sol foram semelhantes e a produtividade por animal não teve diferença. Já em relação à água, os animais no ILPF reduziram a frequência de idas ao bebedouro.

A preocupação dos produtores é saber se na pastagem sombreada o boi ganha mais ou menos peso. A oferta de pasto é um pouco reduzida na área com árvores. No entanto, a qualidade da forragem produzida é melhor, com maior teor de proteína bruta. Assim, tanto o rebanho a pleno sol, como o do ILPF chegam ao final do ciclo de engorda com peso igual. “O fato de o peso ser semelhante e trabalhar com um sistema que traz outras vantagens do ponto de vista ambiental já agrega muito valor à iniciativa de arborizar as pastagens. Deve-se olhar do ponto de vista sistêmico, considerar o desempenho animal e os benefícios da presença das árvores, que aumenta a biodiversidade, a matéria orgânica no solo, reduz a temperatura, traz bem-estar animal e favorece o balanço de carbono na produção dos bovinos”, considera Garcia.

Experimento

Realizada na Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), a pesquisa a campo teve duração de 13 meses, compreendendo um ciclo completo e percorrendo todas as estações climáticas, entre o verão de um ano até o verão do ano seguinte. O projeto foi executado em parceria com instituições de pesquisa do Brasil: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Universidade Federal Fluminense (UFF), e do exterior: Università di Bologna (Unibo) e Università degli Studi di Milano (Unimi). Envolveu pesquisadores, alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado.

Para o experimento, foram avaliados 64 machos das raças Nelore e Canchim, com 24 meses e peso médio de 412 kg no início da investigação científica. Os animais foram divididos em dois sistemas diferentes. Um de pastagem a pleno sol (foto abaixo), com 12 hectares de capim Urochloa brizantha (cultivar Piatã) e poucas árvores, que ofertava entre 3% e 4% de sombreamento natural, índice similar ao adotado na maioria dos sistemas de produção a pasto no Brasil. O outro sistema de produção era do tipo Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), também com 12 hectares de Piatã, arborizado com eucaliptos. Em cada sistema foram mantidos animais Nelore e Canchim, que tiveram acesso irrestrito à água e à mistura mineral, e receberam o mesmo manejo sanitário.

O estudo ainda analisou a consistência da termografia infravermelha utilizando veículos aéreos tripulados, associada a registros feitos em estações meteorológicas nas duas áreas observadas. Garcia revela que a técnica de termografia embarcada em aviões é uma estratégia de monitoramento inovadora para “enxergar” a mudança térmica e o benefício do uso de árvores nas pastagens. Essa tecnologia é usada na Europa e na América do Norte para cobrir extensas áreas de plantações de trigo e milho. No entanto, para pastagens é novidade.

A termografia infravermelha permitiu a identificação e o dimensionamento de ilhas de calor nas pastagens convencionais e de zonas de conforto para o gado nas pastagens arborizadas. A ferramenta mostrou-se promissora em avaliações microclimáticas na pecuária, para apoiar os pecuaristas na tomada de decisões e melhorar o bem-estar dos animais a pasto.

Avaliação comportamental

O comportamento de cada animal foi avaliado por meio de método observacional e de monitoramento eletrônico contínuo (foto acima), baseado nos registros de movimento feitos, respectivamente, por visualização e pelo uso de acelerômetros acoplados a colares.

As observações visuais e diretas eram registradas instantaneamente a cada cinco minutos, por uma equipe de observadores treinados. As coletas de dados foram realizadas em dias típicos de cada estação climática, sem interrupção durante o dia, das 8 às 16 horas. Os dados foram computados individualmente, com os animais marcados numericamente com tinta atóxica para permitir a identificação visual a distância, sem interferências.

A avaliação do comportamento considerou as atitudes de pastejo, ruminação, repouso, frequência de ingestão de água e de mistura mineral. Para os animais no ILPF, também foram analisados os tempos de permanência ao sol e à sombra. 

Resultados

A principal conclusão em cada uma das dimensões foi que os sistemas com árvores melhoram o microclima e o conforto térmico e, com isso, trazem bem-estar animal, comportamentos adequados e ainda ganhos fisiológicos.

Os resultados observacionais mostraram que os animais criados em pastagens com pouca sombra pastejaram mais pela manhã do que os mantidos em ILPF, principalmente nas estações mais quentes. Ainda permaneceram mais tempo deitados, ruminando ou repousando. Os animais do grupo ILPF preferiram permanecer nas áreas sombreadas; além disso, visitaram menos o bebedouro.

Os bovinos costumam dividir seus dias em períodos alternados de pastejo, ruminação e descanso. Os animais a pleno sol pastejaram por mais tempo pela manhã que os mantidos no ILPF, principalmente nas estações mais quentes, sem mudanças significativas no tempo de pastejo à tarde. “Isso ocorreu porque os indivíduos, buscando se preservar, aproveitaram para pastejar nos momentos de temperaturas mais amenas e com menor radiação solar, ou seja, em condições mais favoráveis ao conforto térmico”, explica Garcia.

De acordo com ele, altas temperaturas do ar, umidade relativa e radiação solar podem afetar negativamente o comportamento dos bovinos quanto ao tempo dedicado ao descanso e ao pastejo. “O comportamento pode ser utilizado para analisar as respostas dos animais às condições ambientais nos sistemas de produção. A condição de estresse calórico, ao longo do tempo, constitui um problema crônico que afeta a saúde e o desempenho. Essas informações relacionadas ao comportamento podem ser usadas para melhorar as decisões de gerenciamento e maximizar a eficiência, a produtividade e o bem-estar animal na fazenda”, afirma o coordenador da pesquisa.

O número de visitas ao bebedouro e ao cocho com mistura mineral foi sempre menor para os animais mantidos em áreas com sombreamento natural. Os dados demonstraram que o uso do componente arbóreo teve o efeito “poupa água”. De tarde, os machos de corte reduziram em 26% a frequência de ida ao bebedouro. Esse resultado está de acordo com os 23% de redução de frequência ao bebedouro para vacas de corte mantidas em sistema integrado previstos em um estudo publicado em 2019 pela própria Embrapa. Em curto, médio e longo prazo, essa redução na frequência ajuda a racionalizar o uso dos recursos hídricos na pecuária e colabora para uma produção mais sustentável. O Brasil tem um rebanho de 234 milhões de bovinos, segundo dados de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Isso é extremamente importante, em um momento em que o ciclo das águas pelo planeta vem sendo alterado devido ao aquecimento global”, destaca Garcia.

Conforto térmico A influência do microclima nas respostas termorreguladoras e endócrinas também foi avaliada para conhecer o conforto térmico. A temperatura do ar, o Índice de Temperatura de Globo Negro e Umidade, e a carga térmica radiante foram menores no ILPF; em consequência, houve maior conforto térmico e menor estresse calórico.

O sistema ILPF (foto acima) foi eficaz em atenuar o microclima das pastagens pela ação dos eucaliptos, impactando as características fisiológicas relacionadas ao equilíbrio termodinâmico dos animais e à manutenção de sua homeotermia. Segundo a zootecnista Andréa Barreto, uma das executoras do projeto, os animais a pleno sol alteraram o comportamento natural por conta das altas temperaturas e falta de sombreamento, diferentemente dos que estavam no ILPF. Ela destacou que o ambiente influencia positivamente não só o comportamento, mas a produção, a reprodução e a rentabilidade global do sistema.

“A preocupação do produtor não deve ser só em ter lucro em cima do ganho de peso, mas trazer um ambiente confortável para que o animal expresse todo seu potencial genético”, defende.

“No centro de manejo e no laboratório foram comparados parâmetros vitais e concentrações hormonais dos animais para verificar se a presença das árvores melhorava a condição dos indivíduos, e melhorou. Por exemplo, a temperatura de superfície do globo ocular verificada a campo é um indicador que guarda uma relação grande com a temperatura interna. Quando o bovino atinge determinada temperatura, ele ativa mecanismos de termorregulação. A temperatura não influencia somente a sensação térmica instantânea, mas impacta ao longo do processo de produção. Se rotineiramente o animal passa por estresse calórico, ele desenvolve um quadro de estresse crônico, com redução de eficiência produtiva. Nesse caso, o produtor perde dinheiro sem perceber. A energia que o boi tira do pasto, da água e da mistura mineral é redirecionada para a termorregulação”, explica Barreto.

Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Pecuária Sudeste têm buscado alternativas de produção sustentáveis para diminuir o impacto da pecuária no clima. Os estudos indicam que a melhor estratégia para o produtor é a adoção de tecnologias para melhorar a eficiência da atividade com foco no bem-estar animal e em equilíbrio com o meio ambiente.

Trabalhos como esse, com foco em ILPF e tecnologias de monitoramento animal, dão subsídios ao pecuarista para tomadas de decisão assertivas em vários aspectos – econômico, ambiental e comportamental. Além disso, de acordo com Garcia, é uma forma de atender às exigências de consumidores brasileiros e de países importadores de carne do Brasil, que têm se preocupado cada vez mais com as questões de bem-estar dos animais criados para a produção de alimentos.

O conforto térmico afeta o desempenho dos bovinos. Resultados do estudo podem incentivar o pecuarista a implementar ações focadas em boas práticas. O projeto foi premiado pela Associação Brasileira de Zootecnistas como melhor trabalho no Painel de Bem-estar Animal, no Congresso Brasileiro de Zootecnia.

Informações: Compre Rural.

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