Embora a Amazônia seja o bioma com maior área no território nacional, a Mata Atlântica é predominante no maior número de municípios do país. Esse é um dos dados apresentados pela publicação “Bioma predominante por município para fins estatísticos”, divulgada na última sexta-feira (28) pelo IBGE. Ela define que municípios interbiomas, ou seja, localizados em mais de um bioma, serão classificados de acordo com o bioma que representa maior percentual em sua área territorial, quando houver agregação de dados municipais por esse recorte natural.
“Essa lista tem como objetivo disponibilizar para o usuário a maneira pela qual o IBGE vai fazer a agregação de dados por bioma em pesquisas que tenham os municípios como unidade de investigação. Isso porque existem municípios que estão situados em mais de um bioma – os interbiomas – e a gente precisa definir qual critério usar no caso da divulgação das estatísticas”, explica o geógrafo da Coordenação de Meio Ambiente do IBGE, André Assumpção.
A lista divulgada terá apenas fins estatísticos e não terá efeito sobre a definição legal dos biomas correspondentes a cada município. Isso significa que não há nenhum tipo de alteração em limites tanto de biomas quanto de municípios.
“Se o município faz parte de dois biomas, isso não muda, não tem alteração de limite municipal, não tem alteração no limite do bioma. O município continua sendo parte dos dois biomas, mas, a partir de agora, o IBGE diz que, no caso da agregação de municípios por bioma, aquele município pertencerá ao bioma A ou ao bioma B, e o critério usado para essa definição é o de maior área”, reforça o analista.
A decisão foi tomada após diversas discussões entre os pesquisadores. “O critério mais simples, que é o do bioma que ocupa o maior percentual territorial do município, se mostrou mais interessante porque tem aderência à variedade de temas com que o IBGE trabalha, além de ser de fácil compreensão e reprodução pelos usuários”, explica. A publicação torna possível a adoção da classificação para estudos de diversas temáticas que utilizam dados municipais.
Outro ponto destacado por ele é que o uso do termo interbiomas tem o objetivo de identificar os municípios por onde passa a linha do limite entre os biomas, que é estabelecida de forma técnica, de acordo com características naturais da paisagem. “No entanto, a transição entre biomas ocorre de maneira gradual e há mais municípios além desses interbiomas que se situam nessas áreas de contato, ou seja, áreas de transição entre biomas”, ressalta.
Cerca de 17% dos municípios do país são considerados interbiomas, um total de 963 – e a maioria se situa em São Paulo, que se divide entre a Mata Atlântica e o Cerrado. Há quatro deles inseridos em três biomas: Piripá (BA), Tremedal (BA), São João do Paraíso (MG) e Cáceres (MT). Os demais 959 estão em dois biomas, e a maior parte deles, em números absolutos, está localizada, além de em São Paulo (220), em Minas Gerais (167), Rio Grande do Sul (141), Bahia (89) e Mato Grosso (64). Já as unidades da federação com maior percentual de municípios interbiomas são Mato Grosso (45%), Mato Grosso do Sul (41%), São Paulo (34%), Sergipe (31%) e Rio Grande do Sul (28%).
Mata Atlântica predomina em quase metade dos municípios brasileiros
A Mata Atlântica predomina em quase metade (49,2%), ou em 2.741, dos municípios do país. Esse bioma é seguido pela Caatinga (1.095), o Cerrado (1.062), a Amazônia (503) e o Pampa (162). O Pantanal, que se estende por 151.001 quilômetros quadrados (km²) no território nacional (1,8% do total), predomina em apenas nove municípios, todos em Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul. Destaca-se, ainda, que há apenas um município totalmente inserido dentro desse bioma: Ladário (MS).
Por outro lado, a Amazônia, que representa 49,5% da extensão territorial do país, está presente em 559 municípios e é predominante em 503 deles (9,0% do total). Outros biomas que se destacam em termos de dimensão são Cerrado, com 1.984.554 km² (23,3% do território brasileiro), e Mata Atlântica, com 1.107.285 km² (13,0%).
Na publicação, há uma lista com os biomas predominantes por municípios em uma tabela que contém nomes e geocódigos (identificadores da entidade geográfica) dos municípios, acompanhados das siglas das unidades da federação em que estão situados.
O pesquisador destaca que a identificação do bioma predominante em cada município pode contribuir para a divulgação de estatísticas e indicadores de diferentes temáticas – socioeconômicas, ambientais, entre outras – por esse recorte.
“Esperamos que a lista apresentada sirva de referência para a divulgação de dados de diversas temáticas por bioma. A identificação do bioma predominante nos municípios é mais um produto que visa à integração de dados e informações de diversos aspectos ambientais e econômicos, aprimorando, então, as análises do território brasileiro para subsidiar o Estado e a sociedade como um todo com informações relevantes para um desenvolvimento sustentável”, afirma André.
Ele reforça a importância do uso desse recorte natural para a percepção de fenômenos geográficos. “O bioma, diferente de muitos recortes, não é composto por agregados de municípios. Seu limite é definido por aspectos naturais. Mas a divulgação de estatísticas e indicadores por bioma também é muito interessante porque alguns fenômenos só são perceptíveis quando mudamos o recorte. Então, para determinadas análises, a inclusão de recortes ambientais aprofunda a compreensão desses fenômenos”, conclui.
Mais sobre a pesquisa
A publicação Bioma predominante por município para fins estatísticos traz uma lista que apresenta o bioma predominante para cada município do país e, com isso, estabelece a referência para a agregação de dados municipais em novos estudos da área. A partir dessa divulgação, o critério utilizado para os municípios interbiomas, ou seja, os situados em dois ou mais biomas, passa a ser o do recorte natural predominante em sua área territorial. Não se trata, portanto, de uma nova delimitação de biomas, mas de uma adoção de um critério para fins estatísticos. Confira mais informações no material de apoio da publicação.
Informações: IBGE.