A companhia ambiental do estado monitora os níveis de poluição na capital desde a década de 70, mas foi em 1985 que esse processo foi automatizado, com a instalação de equipamentos certificados e de referência mundial em diversas partes do município
Há dias encoberta pela poluição, a cidade de São Paulo tem apresentado índices preocupantes de qualidade do ar, com estações de monitoramento variando entre as classificações “ruim” e “muito ruim” para a concentração de partículas prejudiciais à saúde.
“Isso é inédito. Há 40 anos [quando as medições automáticas começaram], a gente não tinha um cenário como esse. Aliás, nem sabíamos que íamos passar por esse cenário”, afirmou Maria Lúcia Guardani, gerente da divisão de qualidade do ar da Cetesb, à TV Globo.
A companhia ambiental do estado monitora os níveis de poluição na capital desde a década de 70, mas foi em 1985 que esse processo foi automatizado, com a instalação de equipamentos certificados e de referência mundial em diversas partes do município.
- Pelas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), são 6 os poluentes monitorados: dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), partículas inaláveis (MP10) e partículas inaláveis finas (MP2,5);
- Os níveis de poluentes podem ser classificados em cinco categorias: boa, moderada, ruim, muito ruim e péssima;
As partículas inaláveis são poluentes extremamente pequenos, que podem penetrar nos pulmões, prejudicando a capacidade respiratória das pessoas, especialmente daquelas que possuem alergias respiratórias ou doenças como asma e bronquite. Elas também podem afetar a visibilidade na atmosfera.
É exatamente a concentração dessas partículas — com destaque para MP2,5 — que preocupa os especialistas. Na segunda-feira (9), 12 das 14 estações da Cetesb na capital paulista que monitoram esse poluente registraram índice médio “ruim” para ele. Aquelas localizadas na Marginal Tietê e no Parque Dom Pedro II ficaram com classificação “muito ruim”.
Em um cenário mais amplo, quando se olha a concentração anual de partículas inaláveis, os índices de poluição já foram piores na Grande São Paulo e vêm caindo ao longo das últimas quatro décadas, resultado da implementação de políticas públicas e da migração de indústrias para outras partes do estado e do país.
Contudo, os especialistas da Cetesb apontam que nunca houve índices tão ruins registrados em tantas estações de medição ao mesmo tempo, como tem ocorrido nesta semana.
Segundo o monitoramento da Cetesb, às 16h de segunda, o índice de qualidade do ar na região metropolitana atingiu níveis assustadores: 20 das 22 estações medidoras, o ar foi classificado como ruim ou muito ruim.
A presidente do Instituto Ar, Evangelina Araújo, afirmou que “estamos a níveis de Cubatão quando era poluída. Sem dúvida nenhuma isso tem efeito importante para a saúde e não é levado a sério pelos órgãos ambientais e do governo de saúde e ambientais para avisarem a população”.
Incêndio atinge uma extensa área de vegetação próxima ao Pico das Cabras, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (SP) — Foto: DENNY CESARE/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
Segundo a companhia, esse cenário pode ser explicado pela soma de alguns fatores:
- Queimadas: os poluentes liberados nas queimadas, tanto na região Centro-Oeste quanto no interior do estado, são arrastados por correntes de vento até a capital;
- Tempo seco: além de estar em época de baixa incidência de chuvas, São Paulo também sofre com os efeitos de uma onda de calor que atua sobre parte do país;
- Emissão de poluentes: as fontes de poluição “habituais”, como veículos e indústrias, seguem emitindo partículas e gases na atmosfera, que se misturam aos provenientes das queimadas.
“A gente nem consegue ver o nascer do sol. É a poluição indicando que não tá tendo dispersão [dos poluentes]. Enquanto não vier uma chuva pra lavar essa atmosfera, nós vamos ter dias muito severos, principalmente para a saúde de todos”, afirmou a especialista da Cetesb.
Recomendações para Saúde
Após reunião nesta terça entre técnicos da Cetesb e representantes das secretarias da Saúde e do Meio ambiente, além de membros da Defesa Civil, para discutir medidas de contingência, o governo paulista suspendeu temporariamente as autorizações de queima no estado para a despalha de cana, queima fitossanitária ou para manejo.
Além disso, recomendaram algumas medidas para aliviar os incômodos causados pela poluição:
- Aumentar o consumo de água;
- Hidratar as narinas e os olhos com soro fisiológico;
- Evitar atividades físicas ao ar livre;
- Umidificar o ambiente com toalhas molhadas ou aparelhos umidificadores;
- Evitar permanecer em ambientes com aglomeração de pessoas
- Para quem estiver dentro de casa, a orientação é manter portas e janelas fechadas, para reduzir a entrada de partículas de fora para dentro das residências;
- Em regiões de queimadas, como proteção adicional, a sugestão é de, quando sair de casa, utilizar máscaras do tipo N95, PFF2 ou P100, que podem reduzir a inalação de partículas se usadas corretamente.
Crianças menores de cinco anos, idosos e gestantes devem ter atenção redobrada às recomendações acima, assim como pessoas com comorbidades, que devem buscar atendimento médico imediatamente na ocorrência de sintomas respiratórios.
Informações: g1/SP.