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Como a liderança feminina ajuda a construir um futuro inclusivo

*Artigo por Priscilla Sena Reuter.

Iniciativas de diversidade e inclusão, temas cada vez mais relevantes no contexto global, enfrentam atualmente um período desafiador que pode influenciar práticas corporativas e resultar uma desaceleração em meio aos avanços que tivemos nos últimos anos.

Por isso, falar de lideranças femininas e igualdade de gênero se torna ainda mais expressivo enquanto sociedade e mostra a importância das empresas em criarem iniciativas sólidas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão).

Um exemplo é a Bracell, onde esse tema é tão significativo que se tornou um dos pilares da Agenda 2030, um compromisso com diversas metas que, dentre elas, estabelece aumentar para 30% a proporção de mulheres em cargos de liderança. Em um setor (papel e celulose) predominantemente masculino, ações desse nível são essenciais para um ambiente mais igualitário. 

Até 2023, considerando o número total de líderes da companhia, as mulheres somam 26,4%, totalizando 93 mulheres na liderança da companhia. Dentre as iniciativas que adotamos para que a meta não seja apenas palavras escritas no papel, desenvolvemos treinamentos específicos para lideranças, apoiados com o Bracell Learning Institute, abrangendo todas as unidades de negócio da companhia.

E na minha visão, isso é especialmente relevante, pois ver mulheres em cargos de liderança é um motor que inspira outras mulheres a buscarem posições semelhantes. Quando uma mulher se depara com outra em um papel de poder, ela começa a perceber que esses espaços não são exclusivos de homens. Isso não só amplia suas próprias referências, mas também fortalece a ideia de que o acesso ao poder deve ser plural e inclusivo.

Além disso, a presença de mulheres em posições de liderança acrescenta competências que complementam um sistema corporativo cada vez mais complexo e dinâmico. As mulheres tendem a trazer habilidades como empatia, comunicação assertiva e uma abordagem colaborativa, fundamentais para a criação de ambientes de trabalho mais inclusivos, participativos e inovadores.

Como uma liderança preta, posso afirmar que as mulheres negras têm uma vivência distinta. Isso desafia estereótipos e preconceitos, além de inspirar as futuras gerações de mulheres que podem não se sentir representadas pelos padrões tradicionais de liderança.

Em minha trajetória, percebo que a importância de mulheres negras em posições de liderança vai além da quebra de barreiras e ajuda a construir novos modelos de liderança que incluam a pluralidade de experiências.

Em um ambiente que exige habilidades diversas para enfrentar desafios multifacetados e constante mudança, a liderança feminina, em sua diversidade, preenche lacunas importantes e é um modo de oferecer um conjunto de perspectivas complementares, enriquecendo o processo decisório, a dinâmica de trabalho e alavancando resultados.


*Priscilla Sena Reuter é gerente de Treinamento e Desenvolvimento da Bracell.

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No Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, conheça a história de quem deixou a casa para conquistar sua independência

Mato Grosso do Sul, 7 de março de 2025 – Coragem! Uma palavra pequena, mas exigente. Imagina só, mudar o destino de uma família e ser a primeira pessoa a ter um curso técnico e sair da extrema pobreza. Agora, imagina deixar a família e amigos e se mudar para uma cidade distante 2.547 km, viver uma cultura completamente diferente para trabalhar e ter sucesso na área de formação.

Coragem e Jaiane Santos Moreira, de 26 anos, andam lado a lado. Ela nasceu e cresceu na cidade praiana de Entre Rios, na Bahia. De uma família extremamente humilde, como ela mesma menciona, os avós eram analfabetos e ela cresceu sabendo o que queria e não era apenas se casar e ser dona de casa, assim como todas as outras mulheres de sua família. Então, ela mudou seu destino.

Jaiane Santos Moreira.

Sempre estudiosa e curiosa em aprender tudo o que pudesse, Jaiane foi a primeira a ter curso técnico entre os 30 primos. “Alguns começaram, mas nenhum concluiu por motivos pessoais. Eu me formei, mudei de cidade, sai da roça e fui para a cidade ali em Entre Rios mesmo e consegui um emprego em um resort em uma escala 6×1, apenas uma folga na semana. O trabalho era intenso, tive crise de ansiedade, foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar no viveiro da MS Florestal, em Água Clara”.

A vaga de auxiliar de serviços gerais ela viu pela internet e se interessou. “Pensei que o ‘não’ eu já tinha, então corri atrás”.

Formada em técnica agropecuária e com a nova oportunidade à vista, Jaiane estudou, viu as possibilidades de crescer com a nova chance e conseguiu ser efetivada. “Eu nunca tive medo de enfrentar o novo, gosto de desafio, eu falei para minha mãe que eu me mudaria, e ela sempre me apoia em tudo. Trabalhar no viveiro é uma experiência diferente e vai agregar no meu currículo”.

Em Água Clara há um ano, Jaiane iniciou a faculdade de Ciências Contábeis e não tem custo com aluguel, pois a MS Florestal oferta alojamento. “Aqui eu consegui dar um novo começo aos estudos, eu curso faculdade e não tenho essa preocupação se o dinheiro vai dar no fim do mês ou não porque sou amparada”.

Jaiane conta nunca ter tido plano de saúde, o que é ofertado pela empresa. “Eu adoro trabalhar aqui, os benefícios são ótimos, nunca tive plano de saúde e agora tenho, todas as empresas em que já trabalhei só davam folga uma vez na semana e aqui eu trabalho de segunda a sexta-feira, tendo o fim de semana para poder ter vida social e estudar”.

No viveiro da MS Florestal em Água Clara trabalham 147 mulheres de 225 colaboradores, no total.

Segundo a gerente de Recursos Humanos da MS Florestal, Amanda Barrera, histórias como a de Jaiane inspiram outras mulheres. “É isso o que queremos incentivar, mostrar a capacidade delas e encorajá-las. Histórias de superação como a da nossa colaboradora assim como de tantas outras fazem a diferença”.

Sobre a MS Florestal

A MS Florestal é uma empresa sul-mato-grossense que fortalece as atividades de operação florestal do Grupo RGE no Brasil, um conglomerado global com foco na manufatura sustentável de recursos naturais. Especializada na formação de florestas plantadas e na preservação ambiental, além do desenvolvimento econômico e social das comunidades onde atua, a MS Florestal participa de todas as etapas, desde o plantio do eucalipto até a manutenção da floresta. Para mais informações, acesse: www.msflorestal.com

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Liderança, Inovação e Oportunidades: o protagonismo feminino na Eldorado Brasil

Programas incentivam o desenvolvimento de todos os profissionais, incluindo as mulheres, para a capacitação e aprimoramento das habilidades

Atenta aos talentos do time, a Eldorado Brasil Celulose busca, ao formar o quadro de seus colaboradores, promover cada vez mais diversidade e inclusão. A cultura da companhia, com 12 anos de operação, tem em um de seus pilares, a valorização das pessoas. Com foco em oferecer oportunidades que concretizam o crescimento profissional, a indústria conta com a atuação de mulheres em diferentes setores, como o de inovação, de tecnologia, de operações e de sustentabilidade. Além das posições ocupadas, a empresa entende que oferecer possibilidades de ascensão, programas de apoio, específicos às mulheres, e cursos de aperfeiçoamento despertam mais interesse para que elas ocupem cargos e funções, tradicionalmente ocupados por homens.

Ana Carolina Tessarini, gerente de desenvolvimento, atração e seleção da Eldorado Brasil.

 “Empenhadacada vez mais em ter um olhar especial e inclusivo para as mulheres desde o processo seletivo mais estruturado até a fomentação de novas lideranças, a Eldorado ampliou a participação feminina. A exemplo disso, citamos as áreas Florestal, Suprimentos, Transporte e Pesquisa. A Eldorado está preocupada em promover o posicionamento das mulheres e  desenvolve programas específicos para elas, como o de mentoria que deve ser iniciado este ano. Com essas ações e um trabalho constante, estruturamos um ambiente com perspectivas de valorização e conseguimos aumentar o número de mulheres nessas áreas. E mais que isso, a Eldorado prima pelo espaço de fala de cada um e assim se manter atualizada e próxima de cada colaborador”, detalha a gerente de   Desenvolvimento, Atração e Seleção da Eldorado, Ana Carolina Tessarini.

Mulheres no campo

Na área florestal, Agda Maria de Oliveira Silva, de 32 anos, indígena da etnia Guarani Kaiowa, é exemplo de quem aproveita as oportunidades para sonhar, realizar e crescer profissionalmente. Com seis meses que estava atuando como ajudante florestal, demonstrou interesse em fazer o curso de operadora de trator. Concluiu a formação e hoje comanda uma das máquinas em campo.

“Fiquei muito satisfeita com a oportunidade! Me senti bem valorizada enquanto profissional, pessoa e mulher. Algumas pessoas pensam que ser tratorista é uma profissão só para os homens e a gente demonstra que não. A mulher pode estar em qualquer lugar que quiser. E eu continuo sonhando para melhorar aqui dentro da empresa aprendendo mais e mais e quem sabe chegar a dirigir um caminhão pipa?!”, planeja Agda.

Agda Maria, tratorista.

Para encorajar mais mulheres e reforçar a participação igualitária na empresa, em 2024, a Eldorado Brasil criou a primeira turma de tratoristas, composta exclusivamente por mulheres. Formada por oito colaboradoras, o treinamento foi alinhado com o Programa Trilha de Carreira, que impulsiona o desenvolvimento profissional de forma igualitária, fortalecendo a confiança para que elas ocupem quaisquer posições almejadas, seja como tratorista ou em cargos de liderança.

Mulheres nas estradas

Pelas rodovias, com tecnologia e segurança, em caminhões com nove eixos, de até 30 metros de comprimento e com capacidade para o transporte de até 74 toneladas, Letícia Rios de Lima, de 35 anos, é uma das motoristas de tritrem da Eldorado Brasil para o transporte de madeira. Na empresa está há dois anos exercendo a profissão que escolheu há uma década.

“Ser motorista tritrem é uma grande conquista para nós, mulheres, porque estamos ocupando essa vaga que há alguns anos era denominada apenas masculina. Podemos mostrar nossa força para toda sociedade, que damos conta e fazemos bem feito”, orgulha-se Letícia, que complementa, “a Eldorado Brasil é uma empresa que acredita nas mulheres, que trata a todas com igualdade e respeito, além de reconhecer nosso trabalho e esforço. Isso é ser uma empresa de referência!”

Letícia Rios, motorista tritrem na Eldorado Brasil.

Além do reconhecimento, qualificação e bem-estar são constantes. Com frota moderna e sustentável, a tecnologia embarcada nesses veículos, aliada à gestão logística, permite tomadas de decisões rápidas, elevando o desempenho da operação e a disponibilidade dos caminhões e garantindo mais segurança para os condutores.

Mulheres na liderança

Em Santos – SP, Fernanda de Souza Machado é especialista em Segurança Aduaneira e Regulatória, no Terminal EBLog. Na rotina do trabalho, alia resiliência, conhecimento técnico e capacidade de adaptação para lidar com uma estrutura complexa e um ambiente regulatório em constante evolução que exigem sustentabilidade nas operações logísticas, tecnologia e visão estratégica para antecipar e mitigar riscos. Além disso, como mulher, atuando em um ambiente historicamente masculino, um desafio adicional é reforçar a presença feminina em espaços de decisão.

“Felizmente, vejo mudanças positivas e mais oportunidades para mulheres assumirem papéis estratégicos no setor. A Eldorado Brasil tem dado abertura para que a presença feminina no setor portuário tenha crescimento, e vejo isso como um avanço fundamental para a diversidade, inovação e competitividade. Aqui, temos um ambiente que valoriza a equidade de gênero e incentiva o protagonismo feminino, permitindo que profissionais mulheres tenham voz ativa na tomada de decisões e na implementação de iniciativas transformadoras. É um privilégio fazer parte dessa mudança e contribuir para que mais mulheres tenham oportunidades de crescer e liderar no setor logístico e portuário”, destaca Fernanda.

Fernanda Machado, especialista em Segurança Aduaneira e Regulatória, no Terminal EBLog.

Mulheres na indústria

A construção e o desenvolvimento da carreira da operadora de painel, no setor de águas, Isabela Cristina da Silva Alves, também reflete as transformações no ambiente industrial, antes dominado majoritariamente por homens. Quando a jovem de 18 anos ingressou na companhia, a presença feminina era tímida, mas hoje, celebra um cenário diferente, com mais mulheres assumindo papéis de liderança, inclusive com uma gestão feminina em seu setor.

“Ver essa evolução e fazer parte de uma gestão que valoriza talentos e promove a diversidade reforça o orgulho que sinto nessa trajetória. Sempre tive gestores que olharam para o meu desenvolvimento e me apoiaram em todas as fases. Hoje, tenho certeza de que é possível ser mãe, ter uma carreira de sucesso e ainda encontrar um ambiente acolhedor e humano”, afirma a mãe do João Pedro, de seis anos, e do Rafael, de três meses.

Durante as duas gestações, Isabela encontrou na empresa um ambiente que respeitou suas necessidades e ofereceu apoio em todas as fases. Na segunda gravidez, a experiência foi ainda mais especial com a inclusão no programa “Gerar Saúde do Bebê”, criado pela Eldorado Brasil em 2022 para oferecer suporte integral às gestantes.  

Isabela Alves, operadora de painel.

“Recebi orientações sobre vacinas, alongamentos para aliviar dores e acompanhamento constante sobre o que eu precisasse. Pouco antes do Rafael nascer, ganhei um kit maternidade lindo, com bolsa, fraldas, toalha, tudo feito com muito carinho. Esse cuidado faz toda a diferença, porque nos sentimos acolhidas e bem orientadas em um momento tão especial da vida”, lembra-se.

Programas de incentivo à presença feminina na Eldorado Brasil

A Eldorado Brasil promove diversos programas que inserem a mulher com a manutenção do direito ao posicionamento e lugar de fala. Dentre essas ações está a Academia da Liderança que é um programa de desenvolvimento, incluindo as mulheres, voltado para a capacitação e aprimoramento das habilidades de liderança dos colaboradores da empresa. O programa reforça o compromisso da companhia com a excelência e a valorização dos seus talentos internos e visa promover uma liderança desenvolvedora e inclusiva.

Outro destaque, implantado em 2024, é o programa Essência, que trabalha grupos minorizados (PCD, mulheres, LGBTQIA+, intergeracional e racial), é voltado à diversidade, equidade e inclusão. A Eldorado mantém um processo de letramento com todos os colaboradores, em todos os grupos de discussões internas da área de desenvolvimento. Entre eles, a capacitação de profissionais de RH, para que realizem entrevistas em Libras. A companhia também possui especialistas em diversidade, equidade e inclusão para que os processos seletivos sejam cada vez mais inclusivos.

“A Eldorado busca não apenas a inclusão, mas também a equidade. Para fomentar essa equidade, os programas oferecem trilhas de desenvolvimento e capacitação, além de todo o letramento para todos os colaboradores sobre esses grupos minorizados”, completa Ana Carolina. 

Eldorado Brasil presenteia colaboradoras no Dia Internacional da Mulher

A Eldorado Brasil prepara anualmente ações específicas para marcar o Dia Internacional da Mulher. Este ano, além do café da manhã especial, oferecido em todas as unidades e para todas as áreas, a empresa presenteia as mulheres com uma palestra sobre Confiança e Autoestima. O objetivo é promover o protagonismo da mulher em todos os níveis no ambiente organizacional.

Sobre a Eldorado Brasil


A Eldorado Brasil Celulose é reconhecida globalmente por sua excelência operacional e seu compromisso com a sustentabilidade, resultado do trabalho de uma equipe qualificada de mais de 5 mil colaboradores. Inovadora no manejo florestal e na fabricação de celulose, produz, em média, 1,8 milhão de toneladas de celulose de alta qualidade por ano, atendendo aos mais exigentes padrões e certificações do mercado internacional. Seu complexo industrial em Três Lagoas (MS) também tem capacidade para gerar energia renovável para abastecer uma cidade de 2,1 milhão de habitantes. Em Santos (SP), opera a EBLog, um dos mais modernos terminais portuários da América Latina, exportando o produto para mais de 40 países. A companhia mantém um forte compromisso com a sustentabilidade, inovação, competitividade e valorização das pessoas.

Informações: Eldorado Brasil.

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Governo de MS realiza ações na Capital e em Inocência para oferecer a empresas do Estado oportunidades de negócio nas obras da Arauco

Empresários, prestadores de serviço e fornecedores de Campo Grande e de Inocência, interessados em oportunidades de negócios que estão surgindo com as obras da fábrica de celulose da Arauco podem participar, nos dias 11 e 13 de março, de evento aberto ao público no qual serão apresentadas todas as necessidades e demandas que serão geradas durante e após o período de construção da indústria.

A ação é promovida pelo Governo do Estado, por meio da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) em parceria com a Fiems, com o Sebrae/MS, Prefeitura de Inocência, Arauco e Valmet. “Com a chegada da Arauco a Mato Grosso do Sul, a região de Inocência passa por uma intensa transformação econômica e social. Esses dois eventos serão uma oportunidade fundamental para entender como essa movimentação impactará a economia local e quais são as perspectivas para os negócios na região”, lembra o secretário Jaime Verruck, da Semadesc.

O objetivo é facilitar o ambiente e as oportunidades de negócio entre a Valmet, responsável pelo projeto da Arauco, com as empresas e potenciais fornecedores sul-mato-grossenses “para promover esse adensamento da cadeia produtiva. É o Governo do Estado atuando como indutor do desenvolvimento”, acrescentou.

O primeiro evento será realizado pela Semadesc e Fiems no dia 11 de março (terça-feira), das 14h às 18h, no Edifício Casa da Indústria, em Campo Grande. Para essa data, os interessados podem se inscrever por meio do link  https://bit.ly/fornecedoresvalmet. O segundo evento, promovido pela Semadesc e Sebrae/MS, será realizado no dia 13 de março (próxima quinta-feira), das 8h às 17h30, no município de Inocência. Para essa data, as inscrições podem ser feitas por meio do link https://bit.ly/supplierdayinocencia.

Nos dois eventos, a Valmet, empresa responsável pela construção da nova fábrica de celulose em Inocência, vai apresentar detalhes sobre o Projeto Arauco Sucuriu, destacando as categorias de fornecedores necessárias para a indústria, além do período de duração do projeto e as etapas do processo de contratação. Além disso, também será abordada a necessidade de capacitação das empresas para atender às demandas da indústria com excelência e competitividade.

Informações: Semadesc.

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Mulheres conquistam espaço e ascensão profissional no setor da celulose em Mato Grosso do Sul

Com a chegada dos investimentos bilionários em Mato Grosso do Sul no setor da celulose, as empresas gigantes do setor têm se preparado para oferecer programas, ações e boas condições às mulheres, que conquistaram espaço e ascensão profissional na área industrial. Um reconhecimento merecido a estas profissionais que estão sendo valorizadas no Estado.

Mineira de Governador Valadares, Paloma Vigiane entrou no setor industrial aos 17 anos. Logo se interessou e passou a fazer parte do ramo de celulose. Obstinada e persistente tentou por cinco vezes entrar no Grupo Suzano, empresa que é gigante mundial no setor.

Quando conseguiu entrar, não pensou duas vezes ao aceitar o convite de morar em Ribas do Rio Pardo, onde seria construída a nova fábrica de celulose do grupo. Embarcou neste desafio e viu a unidade nascer do zero, das estacas e terreno vazio, acompanhou de perto a estrutura ser erguida no interior do Mato Grosso do Sul.

“Fui encaminhada para Ribas em 2021, ainda nem tinha começado as obras. A empresa acabara de anunciar o investimento e a construção da fábrica. Gostei da cidade, porque era um lugar tranquilo, bem organizado e do interior, assim como Governador Valadares. Gostei das pessoas, do clima e do lindo pôr do sol”.

Paloma Vigiane durante inauguração da fábrica da Suzano

Ela começou na função de “planejador 2” de nível médio, mas logo mostrou sua garra e empenho e que foram reconhecidos pela empresa. “Acompanhei todo o processo de construção da fábrica, com muito trabalho e dedicação consegui crescer aqui dentro, fruto das oportunidades que a empresa me deu. Agora exerço a função de engenheira de produção sênior”.

Paloma garante que sempre foi respeitada pelos colegas e sabe que não é fácil a mulher chegar em função de gestão em uma grande empresa. “Sabemos que como mulher temos um caminho e um desafio maior, por isso agradeço todo apoio para crescer e ter uma ascensão profissional dentro da empresa, que eu tanto desejava. As mulheres têm cada vez mais buscado mais espaço no setor industrial e meu caso serve de exemplo e incentivo”.

Lembra com orgulho que foi a primeira mulher da família a ter curso superior e agora conseguiu chegar a um cargo de destaque no setor industrial. A satisfação foi anda maior quando foi convidada para discursar na inauguração da fábrica, representando os funcionários da Suzano.

“Foi uma honra e um marco na minha carreira profissional ser escolhida para este evento que foi um acontecimento não apenas nacional, mas mundial. Isto mostra o reconhecimento da empresa com meu trabalho e que sou valorizada como profissional. Espero que tenha cada vez mais mulheres no setor de celulose, que está em plena ascensão. Meu conselho é busquem cada vez mais capacitação e estejam aptas para serem contratadas”.

Isabela Cristina da Silva Alves trabalha na Eldorado Brasil

Ascensão e oportunidade

O ano era 2012. Com apenas 18 anos Isabela Cristina da Silva Alves começou sua carreira ao ingressar no setor industrial pelo programa “Minha Primeira Profissão”, realizado em parceria com o Senai. Ela descobria o universo da celulose ao participar da primeira turma de trainee da Eldorado, empresa que estava construindo sua fábrica em Três Lagoas.

“Era a minha primeira oportunidade no mercado de trabalho e eu nunca tinha entrado em uma fábrica de celulose. Acompanhar todo o processo de construção, montagem de equipamentos, de testes em linhas, foi algo muito agregador e uma experiência única, que se vive raríssimas vezes. Foi uma oportunidade muito grande de desenvolvimento, crescimento que você só poderia adquirir ali e naquele momento. Foi incrível”.

Isabela estava determinada a crescer na empresa e logo se destacou por sua curiosidade e proatividade, buscando aprender sobre a operação dos painéis mesmo antes de assumir essa função. Sua dedicação foi reconhecida pela gestão e, após ocupar o cargo de operadora de área e atuar como ferista, foi promovida a operadora de painel, uma das posições mais almejadas em sua área de atuação.

Isabela conseguiu ascensão profissional

“Antes de ser promovida, eu sempre fui muito interessada e buscava aprender além das minhas funções como operadora de área. Nos momentos livres, eu ia até a sala dos painéis, fazia perguntas e me dedicava a entender a operação. Usei esse tempo para estudar e treinar, aprendendo com operadores mais experientes até ser indicada para um treinamento, que foi maravilhoso para meu crescimento e me tornou ferista. Durante minha primeira gestação já nesse cargo, passei mais tempo nos painéis, ganhando experiência até surgir a oportunidade que esperava”, destaca.

Ela já está na função de operadora de painel no setor de águas da Eldorado há três anos. Alves ressalta que o acolhimento, valorização e flexibilidade, principalmente na época da maternidade, foram questões essenciais para conquistar sua ascensão profissional. Na sua segunda gravidez inclusive participou do programa “Gerar Saúde do Bebê”, que é oferecido pela Eldorado Brasil.

 Quando ingressou na Eldorado, a presença feminina era tímida em áreas operacionais, mas hoje, a colaboradora celebra um cenário diferente, com mais mulheres assumindo papéis de liderança, inclusive tem uma gestão feminina em seu setor. “Sempre tive gestores que olharam para o meu desenvolvimento e me apoiaram em todas as fases. Hoje, tenho certeza de que é possível ser mãe, ter uma carreira de sucesso”.

Programas e ações inclusivas

As grandes empresas de celulose instaladas no Estado estão desenvolvendo programas e ações que busquem incluir e abrir oportunidades às mulheres. O cuidado, preocupação e acolhimento facilita a ascensão profissional e o bom desenvolvimento do público feminino no setor industrial.

A Suzano destacou que investe em iniciativas como programas de mentoria, fortalecimento de lideranças femininas em cargos de supervisão e coordenação, e a criação de um plano de sucessão que priorize a equidade de gênero. Tem meta de alcançar 30% das mulheres em cargos de liderança até o final de 2025. Outro foco é capacitação técnica e ambiente inclusivo em todas as áreas.

Também tem iniciativas especificas para as colaboradas lactantes e gestantes. Entre elas sala de apoio a amamentação, kits de maternidade e amamentação e como complemento oferece licença-maternidade estendida de seis meses, auxílio-creche, acompanhamento com enfermeira obstetra e nutricionista durante os períodos de gestação e puerpério, assim como auxílio para filho PCD (Pessoa com Deficiência).

Nova fábrica de celulose da Suzano Foto Bruno Rezende
Fábrica da Suzano em Ribas do Rio Pardo (Foto: Bruno Rezende)

A Eldorado Brasil também faz sua parte, com uma política de valorização e ascensão profissional para as mulheres, dando o devido espaço para ascensão profissional aos cargos de gestão da empresa, para que o público faça parte do crescimento do setor industrial em Mato Grosso do Sul.

Um dos programas de destaque é o “Gerar Saúde do Bebê”, onde a empresa oferece acolhimento, conforto e suporte às gestantes, com acompanhamento integral (gestação). Com mais de 280 mulheres atendidas, sendo 127 colaboradoras e 161 dependentes, o programa conta com uma equipe multidisciplinar que realiza check-ins periódicos, orientações, com monitoramento de enfermeiras especializadas. As funcionárias também ganham kit maternidade.

Fábrica da Eldorado Brasil, em Três Lagoas (Foto: Divulgação/Eldorado)

Já Arauco ainda não abriu sua fábrica em Inocência, mas já tem planos específicos em outras unidades que pretende levar ao Estado. Entre elas estão os treinamentos contínuos com liderança e equipes, para que sejam sensibilizadas sobre a importância da promoção e manutenção de um ambiente inclusivo, assim como o progresso na promoção de equidade das mulheres em diferentes áreas.

A empresa tem planos específicos de recrutamento e desenvolvimento (profissional) para as mulheres. No Projeto Sucuri (Inocência) já na fase de construção da unidade uma parcela de mão de obra feminina e na unidade haverá espaço adequado para salas de amamentação, dormitório exclusivo (mulheres), uniformes femininos operacionais com modelo específico para gestante. Haverá ainda um canal de comunicação para que colaboradoras possam sugerir demandas específicas as suas necessidades.

Empresa Arauco já planeja ações para fábrica em MS (Foto: Divulgação/Arauco)

Informações: GOV/MS.

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Sementes, pessoas e uma longa jornada: por dentro da maior iniciativa de restauração do Cerrado brasileiro

Edital Corredores de Biodiversidade contempla 12 projetos que restaurarão 2.700 hectares nos próximos quatro anos, algo inédito no Cerrado brasileiro. Foco na inclusão social é um dos pilares

“O Cerrado é milagre (e também é pedaço do Planeta que desaparece) […] Quem vai pagar a conta de tanta destruição? ‘Tudo bem, daqui a 100 anos estaremos todos mortos’, disse alguém. Certo, estaremos todos mortos. Mas nossos netos não”. Os versos do poeta cuiabano Nikolaus Behr dão o tom da preocupação sobre a preservação do bioma brasileiro que, segundo a literatura acadêmica, teria começado a ser formar há pelo menos 65 milhões de anos, quando continentes e oceanos adquiririam sua atual configuração — embora as imensas rochas que dariam origem às famosas chapadas tenham se formado há mais de 1 bilhão de anos.

Praticamente intocado por eras, o Cerrado era inicialmente visto como um território bruto e perigoso na história colonial do Brasil, sendo gradualmente ocupado desde a descoberta do ouro no século XVII. Com o tempo, a exploração da terra se intensificou, especialmente a criação de gado, e na década de 1930, a Marcha para o Oeste, sob o governo Getúlio Vargas, decidida a desenvolver e integrar as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, acelerou a ocupação do interior. E sua destruição.

Entre 1985 e 2023, o bioma perdeu 38 milhões de hectares, uma extensão superior ao tamanho do Estado de Goiás, segundo dados do Mapbiomas. Essa devastação reduziu em 27% sua vegetação original, que hoje se vê com quase metade de área (48,3%) alterada pelas mãos humanas. A outra metade, ainda intacta, ocupa 101 milhões de hectares, o que equivale a 8% da vegetação nativa do Brasil. Durante esse período, a pecuária e a produção agrícola, principalmente commodities, se expandiram de maneira expressiva, com aumentos de 62% e 529%, respectivamente.

Atualmente, as plantações ocupam 26 milhões de hectares do Cerrado, com 75% destinados à soja, que representa quase metade da produção brasileira do grão. Porém, a exploração excessiva tem gerado sérios impactos ambientais: erosão e empobrecimento do solo, perda de espécies da flora nativa para o desmatamento, expansão de espécies invasoras, queimadas irresponsáveis e diminuição da qualidade e da quantidade de águas – é no Cerrado que estão as nascentes de grandes bacias hidrográficas do Brasil e da América do Sul – além da fragmentação dos ecossistemas, que afeta a resiliência do bioma e deixam as espécies ainda mais vulneráveis.

Vista aérea de vegetação nativa do Cerrado nativo ao redor de um campo agrícola em Formosa do Rio Preto, na Bahia — Foto: Getty Images
Vista aérea de vegetação nativa do Cerrado nativo ao redor de um campo agrícola em Formosa do Rio Preto, na Bahia — Foto: Getty Images

Diante dos desafios ambientais, iniciativas voltadas para restauração buscam reconectar áreas fragmentadas, promovendo a regeneração da fauna e flora nativas. O Edital Corredores de Biodiversidade, uma parceria entre o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), o Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) e a Petrobras, é um exemplo dessa abordagem, com 12 projetos que restaurarão 2.700 hectares nos próximos quatro anos, algo inédito no Cerrado brasileiro. Com um investimento total de R$ 58 milhões, o projeto visa a recuperação do solo, a escolha de espécies apropriadas e o engajamento das comunidades locais, com ações em cinco estados – Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais – e no Distrito Federal.

O Edital faz parte da iniciativa “Floresta Viva” lançada pelo BNDES em 2021, com o objetivo de promover investimentos em restauração ecológica nos biomas brasileiros, combinando recursos do BNDES e de instituições apoiadoras no modelo de financiamento de matchfunding. As instituições apoiadoras incluem empresas, fundações, associações privadas, pessoas jurídicas de direito público e entidades da administração pública indireta. O FUNBIO é o parceiro gestor da iniciativa, sendo responsável pela organização e condução dos processos de seleção, contratação, acompanhamento e monitoramento dos resultados dos projetos de restauração.

“O modelo de matchfunding serve como uma alavanca financeira, ampliando o alcance dos projetos ao atrair mais recursos e consolidando um ecossistema de parcerias para as ações de restauração e conservação”, explica Marcos Cardoso, chefe do Departamento de Meio Ambiente no BNDES. O Floresta Viva já lançou 8 editais com fomento estruturado na ponta, contemplando outros biomas. Este voltado para o Cerrado, em parceria com a Petrobras, é o maior em valor aportado.

“O Edital do Cerrado é parte de um esforço mais amplo da Petrobras para investir em soluções baseadas na natureza, com foco na conservação e restauração”, conta Ana Marcela Di Dea Bergamasco, gerente de Projetos Voluntários de SBN da Petrobras. Outra parceria da empresa com o BNDES dentro do “Floresta Viva” é o edital para recuperação de manguezais, que já tem oito projetos em andamento, desde de 2023.

Para o biólogo Rodolfo Cabral Marçal, gerente de projetos ambientais no FUNBIO, os projetos selecionados pelo edital vão ao encontro da urgente necessidade de corredores ecológicos no país, que facilitem a conectividade entre habitats e promovam a biodiversidade.

A fragmentação ambiental, causada por diversos problemas, faz com que as Unidades de Conservação fiquem isoladas. Precisamos criar habitats seguros para permitir o fluxo de espécies entre elas.

— Rodolfo Marçal, gerente de projetos ambientais no FUNBIO.

Segundo ele, os corredores são facilitadores do fluxo gênico, e não apenas para animais, mas também polinizadores e plantas. “Por exemplo, um polinizador pode visitar uma planta em um fragmento e, em seguida, polinizar outra planta em um fragmento diferente. Isso é fundamental para processos ecológicos e a dispersão de sementes, que são vitais para a regeneração e a saúde dos ecossistemas”, afirma.

Rodolfo Cabral Marçal, biólogo e coordenador de projetos do FUNBIO. — Foto:  Rede Kalunga de Comunicação
Rodolfo Cabral Marçal, biólogo e coordenador de projetos do FUNBIO. — Foto: Rede Kalunga de Comunicação

Viver para restaurar: pessoas no centro da restauração

Além de promover a restauração de áreas degradadas, o Edital “Corredores da Biodiversidade” pretende fortalecer as instituições e organizações comunitárias que já atuam nesse campo e permitir a troca de experiências e técnicas entre elas, promovendo, assim, um aprendizado coletivo. Nesse contexto, no início do mês de fevereiro, as 12 instituições selecionadas, especialistas e organizações apoiadoras se reuniram em Alto Paraíso-GO para trocar experiências, apresentar planos iniciais dos projetos e visitar áreas em restauração no Cerrado sob comando do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para adquirir mais conhecimento e estreitar relações.

Claudomiro, da Cerrado de Pé, e demais restauradores contempledos no Edital em visita técnica na Chapada dos Veadeiros. — Foto: Vitor Saraiva
Claudomiro, da Cerrado de Pé, e demais restauradores contempledos no Edital em visita técnica na Chapada dos Veadeiros. — Foto: Vitor Saraiva

Entre os projetos contemplados pelo edital estão iniciativas como a da Associação Nacional de Fortalecimento da Agrobiodiversidade (Agrobio), que busca fortalecer cadeias produtivas da biodiversidade no cerrado goiano. Marcelo Mendonça, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador da Agrobio, explica que o projeto vai restaurar 200 hectares de áreas, além de implantar indústrias para o fortalecimento das cadeias produtivas regionais no território quilombola Kalunga, nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás, além de comunidades e assentamentos nordeste do estado. Inclusão produtiva e geração de renda nas comunidades locais são, segundo ele, chaves para a sustentabilidade da restauração. “Não se trata de levar para eles, mas de construir com eles a partir dos saberes, dos fazeres, das experiências locais”, afirmou durante apresentação do projeto na UNB Cerrado.

A Angá (Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro) utilizará seres vivos como bioindicadores no projeto “Canastra Viva: restaurando corredores para a biodiversidade”. O pato-mergulhão, considerado o embaixador das águas brasileiras, é uma das aves mais ameaçadas das Américas, sendo afetado pela poluição dos rios, projetos hidrelétricos e o assoreamento das águas. Por sua sensibilidade ambiental, a espécie funciona como um “termômetro” para a saúde dos ecossistemas aquáticos, vivendo apenas em águas limpas. Além disso, é uma “espécie guarda-chuva”, cuja proteção beneficia outras espécies do Cerrado.

Pato-Mergulhão (Mergus octosetaceus), ave criticamente ameaçada, atua como bioindicador ambiental. — Foto: Sávio Freire Bruno/WikimediaCommons
Pato-Mergulhão (Mergus octosetaceus), ave criticamente ameaçada, atua como bioindicador ambiental. — Foto: Sávio Freire Bruno/WikimediaCommons

“Monitorar o aumento da população do pato mergulhão nessas áreas vai nos ajudar a avaliar o sucesso do projeto de restauração ambiental”, diz Poliana Duarte, bióloga da Angá, que visa formar um corredor ecológico entre o Chapadão da Babilônia e o Chapadão da Canastra, promovendo a regeneração ambiental, especialmente ao longo do rio Ribeirão das Posses. Leonardo Gomes Neves, coordenador do projeto, também considera monitorar primatas locais, como o macaco-prego e o bugio. “Os primatas dependem da área florestal para se alimentar, então sua presença é um bom indicador de que a área está melhorando. Além disso, eles são excelentes dispersores de sementes; onde há primatas, há floresta sendo plantada”, afirma.

Representantes das organizações contempladas no edital Corredores da Biodiversidade em encontro no início de fevereiro na UNB Cerrado. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Representantes das organizações contempladas no edital Corredores da Biodiversidade em encontro no início de fevereiro na UNB Cerrado. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

Atento à conectividade entre biomas, o Edital Corredores da Biodiversidade também contemplou projetos de restauração no Pantanal. Entre eles está o Instituto Gaia Pantanal, que propõe uma restauração socioparticipativa no corredor do Jauru, um trecho do rio de mesmo nome no Mato Grosso, que vai desde a foz do rio até a ilha do Tucum, pegando Cerrado e Pantanal. Solange Ikea Castrillon, coordenadora do Instituto, destaca a importância do corredor para manter a umidade no Pantanal. “O Cerrado funciona como uma área de recarga para o Pantanal. Sem essa recarga, não conseguimos manter a umidade e água necessárias para o Pantanal, que é fundamental para preservação da biodiversidade”, diz, ressaltando que a redução do volume de chuvas e as grandes erosões e incêndios têm se agravado.

Professora da Universidade do Estado de Mato Grosso, Solange enfatiza a importância da parceria com a universidade para mobilizar a sociedade, implementar projetos de restauração e capacitar as comunidades, promovendo práticas de restauração e produção de mudas nativas, fortalecendo a conscientização ambiental e a cultura de regeneração. Os saberes tradicionais dos comunitários são igualmente chaves no processo. Uma parceria emblemática no Instituto Gaia é com Seu Zé Aparecido, que já plantou um milhão de mudas em mais de 120 nascentes na bacia hidrográfica do Jaú.

Instituto Gaia — Foto: Reprodução/Instagram
Instituto Gaia — Foto: Reprodução/Instagram

Nessa mesma lógica de conectividade, o Instituto Taquari Vivo vai, por meio do projeto “Caminhos das Nascentes”, atuar numa área crítica para conexão entre os biomas do Cerrado e do Pantanal. A bacia do Alto Taquari, com área de aproximadamente 80.000 km², é vital para a conexão entre os biomas do Cerrado e do Pantanal, sendo o Rio Taquari o principal responsável pela hidrologia da região. No entanto, a bacia enfrenta desafios como mudanças no uso do solo, alterações climáticas e degradação, o que impacta negativamente os leitos dos rios, a dinâmica das inundações e a biodiversidade local. Para agravar, a presença de mais de 5.000 moçorocas ativas, resultantes da erosão do solo, afeta a produtividade agrícola e a qualidade da água, tornando a bacia uma área crítica para ações de restauração e conservação.

Projeto "Caminhos das Nascentes", do Instituto Taquari Vivo, busca combater erosão e assoreamento que castigam Pantanal e Cerrado. — Foto: Divulgação
Projeto “Caminhos das Nascentes”, do Instituto Taquari Vivo, busca combater erosão e assoreamento que castigam Pantanal e Cerrado. — Foto: Divulgação

“A gente pretende reduzir esses processos erosivos através da recuperação ambiental e recuperação do solo por meio de terraceamento, bacias de contenção, curvas de nível e restauração de 378 hectares em duas unidades de conservação, o Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, nos municípios de Costa Rica e Alcinópolis, no Mato Grosso do Sul, e no Monumento Natural Serra do Bom Jardim, em Alcinópolis”, diz Letícia Koutchin Reis, coordenadora do projeto. No processo, o projeto visa fortalecer a colaboração entre produtores rurais e órgãos ambientais, promover boas práticas de manejo por meio de workshops e materiais informativos sobre conservação do solo, adquirir 100.000 mudas nativas e mais de 8 toneladas de sementes para replantio, e estabelecer o “Espaço Floresta Viva” para apoiar estudos e pesquisas em conservação e turismo na região.

O caminho das sementes: da coleta à restauração

Sementes expostas no armazém da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Sementes expostas no armazém da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

O Cerrado é caracterizado por uma diversidade de tipos de vegetação. Dessa forma, os projetos de restauração ecológica precisam abranger todos os estratos da paisagem do bioma, incorporando não apenas árvores, mas também arbustos, ervas e gramíneas. Criada há mais de duas décadas, a Rede de Sementes do Cerrado tem atuado para a aumentar a disponibilidade de sementes de plantas nativas, com o objetivo de promover a preservação e a valorização do bioma de forma socialmente inclusiva.

“Um dos nossos pilares é a restauração de base comunitária, onde as pessoas são protagonistas, coletando suas sementes e restaurando seus territórios. Onde tudo é feito e liderado por assentados na reforma agrária, por geraizeiros [comunidades de agricultores familiares], por quilombolas e agricultures solidários”, explica Natanna Hoorstmann.

Além do protagonismo comunitário, a Rede se estrutura em outros dois pilares principais: técnica adequada e processos de formação contínua para as comunidades. Capacitações são fornecidas em diversas áreas, como a restauração ecológica, gestão administrativa e financeira, e técnicas de coleta de sementes. Contemplada no Edital Corredores da Biodiversidade, Rede de Sementes vai restaurar áreas emquatro corredores de biodiversidade no Parque Estadual de Terra Ronca, Chapada dos Veadeiros, Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Serra do Espinhaço e a APA Peruaçu.

Segundo Natanna, o projeto pretende criar áreas de referência para a restauração produtiva em assentamentos, onde a vegetação nativa seja restaurada de forma a permitir a produção de alimentos e outros produtos de maneira sustentável. Exercendo sua missão, a Rede também fornecerá sementes para outros projetos de restauração contemplados no Edital.

Dezenas de sementes nativas do Cerrado: diversidade é chave para a paisagem do bioma. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Dezenas de sementes nativas do Cerrado: diversidade é chave para a paisagem do bioma. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

“Coletar tantas sementes quanto estrelas do céu”

Entre as organizações e grupos que integram a rede coleta de sementes nativas está a Cerrado de Pé, associação de coletores de sementes da Chapada dos Veadeiros, fundada em 2009. Começou com uma pequena experiência de restauração e, com o tempo, cresceu para envolver 240 famílias e realizar a coleta de até 30 toneladas de sementes por ano. A ação surgiu em resposta aos incêndios que devastaram o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e teve como foco inicial restauração das áreas queimadas. A associação também se fortaleceu com o apoio de parceiros como o Sebrae, que contribuíram para sua formalização em 2017.

“Não tem como a gente falar de conservação e de restauração sem envolver as comunidades”, afirma Claudomiro de Almeida Cortes, fundador e diretor de restauração da Cerrado de Pé. Ele ressalta o papel das mulheres, que são a maioria entre os coletores, e dos territórios tradicionais no trabalho da associação, que passou de uma ação local para uma atuação mais ampla, atingindo diversos municípios. Além da coleta e restauração, a associação trabalha no cultivo, plantio e armazenamento de sementes nativas.

Cintia Oliveira, presidente da Cerrado de Pé no armazém de sementes nativas. — Foto: Vitor Saraiva
Cintia Oliveira, presidente da Cerrado de Pé no armazém de sementes nativas. — Foto: Vitor Saraiva

Nossa meta é coletar e plantar sementes de cerrado na mesma quantidade de estrelas do céu”, sublinha Cíntia de Oliveira, presidente da associação.

— Cíntia de Oliveira Silva Carvalho, presidente da associação Cerrado de Pé.

Para Cíntia de Oliveira Silva Carvalho, presidente da associação Cerrado de Pé, coletar sementes nativas é vital não apenas para o presente, mas também para as futuras gerações. “Coletar, para mim, significa vida. Vida para a gente hoje. Vida para nossos filhos, netos e bisnetos amanhã, para a flora e fauna do Cerrado”. Ressalta ainda como a restauração do bioma é crucial para garantir a disponibilidade de água e a preservação do meio ambiente, especialmente diante do desmatamento e da degradação das nascentes. “Se a gente não cuidar, não teremos mais Cerrado”.

Teste de fogo e capins exóticos pelo caminho

Placa indicando área em processo de restauração no Parque. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Placa indicando área em processo de restauração no Parque. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

Restaurar o Cerrado não é uma tarefa fácil. Por diversos fatores, tanto ecológicos quanto sociais e econômicos. A degradação do solo, que é ácido e pobre em nutrientes, e a conversão das áreas em monoculturas agrícolas complicam o processo. Além disso, a presença de espécies exóticas invasoras, como a dominante braquiária, dificulta a recuperação da vegetação nativa. A restauração exige altos investimentos e adaptação ao clima sazonal, com períodos secos intensos e efeitos cada vez mais intensos da emergência climática. Outro obstáculo é a resistência de proprietários rurais a realizar a restauração – só no Cerrado, há 38,6 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas, o que torna a restauração um desafio complexo e demorado.

Para entender um pouco mais esses desafios e aumentar a troca de expertises, o grupo de restauradores contemplados pelo edital “Corredores da Biodiversidade” saiu à campo. Em visita ao Parque Chapada dos Veadeiros, foi possível acompanhar algumas iniciativas de restauração do ICMBio em parceria com a Cerrado de Pé e com outras organizações de pesquisa que atuam na região.

Alexandre Bonessa Sampaio, coordenador do ICMBio, comemorou a iniciativa do edital. “É a realização de um sonho que a gente vem construindo desde lá de trás. Termos uma iniciativa dessa envergadura é uma grande oportunidade para focar na restauração ecológica do Cerrado, que não tem recebido o mesmo nível de atenção e recursos que a Amazônia”, comentou o engenheiro florestal chamado por muitos apenas de “Xandão” dada à vasta e generosa atuação no bioma.

O engenheiro florestal e coordenador do ICMBio Alexandre Sampaio ("Xandão") e Claudomiro, diretor de restauração da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
O engenheiro florestal e coordenador do ICMBio Alexandre Sampaio (“Xandão”) e Claudomiro, diretor de restauração da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

Os principais desafios enfrentados pelo ICMBio na implementação de projetos de restauração, segundo ele, incluem a falta de recursos orçamentários próprios, a complexidade fundiária que dificulta a regularização de terras, a dificuldade em lidar com a grande escala necessária para a restauração, problemas nas normativas e processos burocráticos que complicam a execução, além da necessidade de uma maior integração e coordenação entre instituições e parceiros.

Outro ponto crítico para o especialista, e que os projetos contemplados pelo Edital também buscam endereçar, é o engajamento contínuo das comunidades locais para garantir a continuidade dos projetos. Sampaio enfatiza que a verdadeira mudança na conservação ambiental vem do engajamento da sociedade, e que, ao incluir as pessoas no processo de restauração é possível gerar benefícios sociais e econômicos que ajudam a combater as causas profundas da degradação ambiental. Muitas das áreas em restauração dentro do Parque da Chapada dos Veadeiros contam com as mãos e os saberes de comunitários.

A restauração é uma ferramenta de conservação da sociobiodiversidade. É aí que a gente tem chance de mudança.

— Alexandre Sampaio (“Xandão”), engenheiro florestal e coordenador do ICMBio.

Visita técnica a áreas de restauração do ICMBio na Chapada dos Veadeiros: troca de experiência para auxiliar projetos do edital Corredores da Biodiversidade, da iniciativa "Floresta Viva". — Foto: Vitor Saraiva
Visita técnica a áreas de restauração do ICMBio na Chapada dos Veadeiros: troca de experiência para auxiliar projetos do edital Corredores da Biodiversidade, da iniciativa “Floresta Viva”. — Foto: Vitor Saraiva

Na visita técnica, foi possível acompanhar o processo de restauração de uma área de vegetação nativa que foi alterada, inicialmente utilizada para cultivo de arroz e pastagem com capins exóticos, como a braquiária (Brachiaria decumbens). A vegetação original da região era formada por cerrados mais densos nas encostas e campos úmidos, com uma flora diversificada. O processo de restauração capitaneado por Claudomiro, da Cerrado de Pé, começou com o controle da vegetação exótica, usando fogo e gradeamento para preparar o solo. Em seguida, foi aplicada uma niveladora para triturar os torrões de palha e raízes, visando destruir a onipresente braquiária e preparar o solo para o plantio.

Após dois anos de preparação, o solo foi tratado com herbicidas para eliminar o banco de sementes da braquiária, que pode persistir por anos. O plantio foi feito em 2021, com uma mistura de sementes de capim e arbustos, com algumas árvores. Embora o projeto tenha obtido bons resultados em apenas dois anos, o processo de restauração requer um período mais longo, de pelo menos 5 anos. A vegetação nativa está voltando, mas a área ainda enfrenta desafios, como a competição com gramíneas invasoras.

A situação do solo, alterada pela calagem – processo de aplicação de calcário no solo, com o objetivo de corrigir sua acidez – e presença das gramas exóticas, demandam um manejo contínuo. Em outras áreas do Parque é possível avistar áreas de restauração mais maduras, com 11 anos, por exemplo, bem avançados e com fitofisionomia diversas. Em muitas delas, foram utilizadas também plantas nativas no combate às invasoras. É caso do “amargoso”, que embora não seja uma solução definitiva, atrapalha o crescimento da braquiária.

Nativa da África, a braquiária foi trazida ao Brasil nos anos 1960 e modificada pela Embrapa para servir de pastagem. Além de reduzir a biodiversidade e dificultar o crescimento das nativas, essas plantas são altamente regenerativas, difíceis de controlar e resistentes a incêndios, que estão cada vez mais frequentes com a alta do termômetro. “As áreas queimadas em anos consecutivos (2017, 2019, 2020, 2021) enfrentam um ciclo de degradação, onde as matas, especialmente as úmidas, são invadidas por espécies exóticas invasoras. Isso cria um sistema de retroalimentação, onde o fogo e as invasões se intensificam mutuamente, dificultando a recuperação das áreas”, contou Nayara Stacheski, analista ambiental e chefe do Parque Nacional.

Parque Nacional Chapada dos Veadeiros: parque tem cerca de 300 hectares de área em restauração. — Foto: Tales Emanuel
Parque Nacional Chapada dos Veadeiros: parque tem cerca de 300 hectares de área em restauração. — Foto: Tales Emanuel

Mas o balanço geral, segundo ela tem sido positivo. Atualmente, há cerca de 300 hectares em restauração no parque. “Saímos de um crença de que era impossível restaurar Cerrado”, celebra. Durante o encontro com os restauradores contemplados no edital, o uso do fogo na restauração também foi abordado como uma estratégia importante, mas que deve ser manejada com cuidado. O fogo, inclusive, desempenha papel importante na germinação de sementes no Cerrado, que dependem dele para sair do estado de “dormência”. Implementar estratégias de manejo do fogo, incluindo treinamento de equipes e planejamento cuidadoso para minimizar o risco de incêndios em áreas vulneráveis (as degradadas com excesso de capim, por exemplo), e que comprometam os esforços de restauração é chave nesse processo.

Transbordando de experiências na Chapada, os projetos aprovados no edital Corredores da Biodiversidade, agora terão um período de planejamento de seis meses, durante o qual deverão elaborar detalhadamente seus planos de ação e enviar para aprovação. A expectativa é que, a partir do início da estação chuvosa, em outubro ou novembro, as atividades de plantio e semeadura comecem. O cronograma prevê dois anos para a implementação das ações, seguidos por dois anos adicionais para manutenção e monitoramento das áreas restauradas. Durante esse período, haverá encontros anuais para avaliar o progresso dos projetos e discutir os resultados.

Rodolfo Marçal, coordenador da iniciativa no FUNBIO, lembra que a restauração é um compromisso com o futuro, onde cada semente plantada é uma esperança renovada para a biodiversidade e para as próximas gerações, mas é preciso dar urgência à ação. “Estamos trocando a roda enquanto o carro está pegando fogo”, compara. Em 2024, o bioma perdeu 9,7 milhões de hectares em queimadas, sendo 85% (8,2 milhões de hectares) em vegetação nativa, um aumento de 47% em relação à média dos últimos 6 anos. Com sua história de milhões de anos, o Cerrado não é apenas um legado do passado, mas um tesouro do presente que exige vigilância constante e compromisso coletivo para que, como bradam os versos do poeta, não se perca para sempre.

Informações: Um Só Planeta.

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Em disputa de gigantes, CMPC dobra a aposta no “maior polo de celulose do mundo”

Enquanto as concorrentes Suzano, Bracell e Arauco concentram investimentos bilionários no MS, a companhia chilena percorre uma rota diferente e expande sua operação em território gaúcho, onde reúne mais de 1 mil propriedades e 500 mil hectares sob sua influência

A chilena CMPC, uma das maiores produtoras de celulose do mundo e dona da fabricante de papéis de higiene Softys, está dobrando a aposta no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, base de suas operações de celulose no país.

“Vamos ter o maior pólo de celulose no mundo. Em nenhum lugar do mundo, existem duas fábricas tão perto e produzindo em quantidades tão relevantes”, projeta Antonio Lacerda, diretor-geral de Celulose da CMPC no Brasil, em entrevista ao AgFeed.

A referência implícita na frase é para uma (saudável) disputa de gigantes com projetos bilionários de suas concorrentes Suzano, Arauco e Bracell, que têm concentrado seus megaprojetos em diferentes municípios da região de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul.

A CMPC, nesse caso, segue uma outra rota, que tem se mostrada acertada há alguns anos e deve continuar sendo percorrida por um bom tempo.

No ano passado, por exemplo, a companhia anunciou o Projeto Natureza, um investimento de R$ 24 bilhões a ser executado até o fim da década na cidade de Barra do Ribeiro, região metropolitana de Porto Alegre, com capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas de celulose e entrada de operação prevista em 2029, quando a CMPC completará vinte anos de presença no Brasil.

Em paralelo, a CMPC acabou de finalizar investimentos para a modernização de suas plantas na cidade de Guaíba, também próxima de Porto Alegre e distante 26 quilômetros de Barra do Ribeiro, como forma de diminuir o impacto ambiental da operação e ampliar a capacidade produtiva.

Executivo veterano, com passagens por Monsanto e Basf, onde atuou por quase 20 anos, Lacerda assumiu o posto de diretor da CMPC há cerca de dez meses, no lugar de Maurício Harger – que estava no cargo desde 2018 e assumiu, no ano passado o comando da Vedacit, fabricante de impermeabilizantes e materiais de construção.

Lacerda está empolgado com as perspectivas que encontrou na empresa. “Digo para as pessoas que trabalham na CMPC que muita gente gostaria de estar no nosso lugar agora com um projeto dessa magnitude na mão, com um mercado crescente de exportação, bem menos sensível às questões domésticas, com dinheiro para investir e com oportunidade de carreira para todos e todas aqui dentro”, afirma.

Pertencente à bilionária família Matte, do Chile, a CMPC possui 46 plantas em países como Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, México e Peru.

O Brasil é central na estratégia da companhia, segundo Lacerda. “Hoje, 60% dos negócios da CMPC já estão no Brasil. Quando tivermos a nossa nova fábrica de Barra do Ribeiro, em 2029, esse eixo vai estar mais pendendo para o Brasil ainda”, afirma.

“Seremos uma empresa que nasceu no Chile há mais de 100 anos, mas com as operações predominantemente no Brasil. É assim que está planejado o nosso futuro”, resume.

Lacerda prefere não detalhar, mas diz que a CMPC poderá fazer “outros negócios” no futuro no país. “A estratégia é crescer no Brasil”, afirma.

Desde que chegou ao Brasil, em 2009, ao comprar a fábrica de Guaíba que pertencia à Riocell, a CMPC já tinha investido na ampliação da unidade, com uma nova linha de produção inaugurada há uma década, em 2015.

O movimento da CMPC de centralizar suas operações de celulose no Rio Grande do Sul chama a atenção justamente por ir na contramão da tendência das grandes companhias do setor.

É o caso de empresas como a Suzano, que começou a operar sua usina de R$ 22,2 bilhões na cidade de Ribas do Rio Pardo no ano passado, capaz de produzir 2,55 milhões de toneladas de celulose, da Arauco, que vai implantar uma fábrica em Inocência, com começo de operação prevista para 2027 e capacidade produtiva esperada de 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano, e da Bracell, que jpá anunciou planos de aportar R$ 20 bilhões em uma megaplanta de R$ 20 bilhões em Água Clara, na mesma região.

Quando todas as unidades industriais no estado já tiverem entrado em operação, o Mato Grosso do Sul vai se tornar o maior produtor de celulose do Brasil, com uma capacidade produtiva próxima de 10 milhões de toneladas.

Com a experiência de quem cultiva eucaliptos adaptados ao frio da Cordilheira dos Andes, a CMPC prefere o Rio Grande do Sul pelas condições de clima e solo serem mais favoráveis em comparação a outras regiões, explica Lacerda.

Antonio Lacerda, diretor geral de celulose da CMPC no Brasil.

“No Mato Grosso do Sul, onde a maioria dos projetos estão se instalando, fica cinco meses sem cair uma gota d’água. É um estresse hídrico tremendo”, diz Lacerda.

“A gente tem frio por aqui? Tem, mas também temos variedades de eucalipto que são mais adaptadas, que são desenvolvidas pela própria CMPC, mais adaptadas ao frio.”

A nova fábrica de Barra do Ribeiro vai gerar 12 mil empregos diretos e, para iniciar a obra, a CMPC aguarda a emissão de licença de instalação por parte da Fepam, órgão ambiental do governo gaúcho. “A gente imagina que vai sair até o meio do ano que vem”, diz Lacerda.

Além da proximidade com Guaíba, a escolha por instalar a planta no município decorre, segundo Lacerda, decorre do fato de que a CMPC já possui uma propriedade no município, a Fazenda Barba Negra, com 12 mil hectares, que abriga o viveiro de mudas da companhia e um centro de pesquisas de aprimoramento genético do eucalipto.

A Barba Negra, contudo, não é a única fazenda da companhia no Rio Grande do Sul. Ao todo, a CMPC possui cerca de 1.041 propriedades, distribuídas em 73 municípios gaúchos. São cerca de 250 mil hectares próprios e o restante é arrendado de terceiros.

No Rio Grande do Sul, a CMPC tem 500 mil hectares, metade área própria e metade arrendada. Para a nova fábrica de Barra do Ribeiro, será necessário o acréscimo de mais 80 mil hectares.

Cerca de 56% desse total é explorado pela companhia para o plantio de eucalipto e o restante é destinado para preservação florestal, segundo Lacerda. “Onde pode plantar eucalipto, a gente planta eucalipto e, onde não pode, a gente não planta.”

Além da indústria de celulose em si, a CMPC projeta investimentos em infraestrutura em Barra do Ribeiro, que envolve a construção de uma estrada que vai ligar as duas fábricas da companhia, acesso à fazenda Barra Negra e um terminal hidroviário.

A CMPC também projeta investimento de cerca de R$ 1 bilhão em um novo terminal no Porto de Rio Grande, cidade da região Sul, para escoar a exportação de quase cinco milhões de toneladas de celulose, gerando só nessa operação 1,4 mil empregos.

Praticamente toda a produção de fibra de celulose da CMPC no Brasil – 97% do total – é exportada, especialmente para Ásia e Europa, mas com remessas também para os Estados Unidos. “O maior cliente de Guaíba é um cliente que produz roupas na China, fazendo a substituição de fibras sintéticas por fibras naturais, no caso, celulose”, diz Lacerda.

Também estão previstas obras de dragagem e de ampliação da capacidade de armazenagem da companhia no terminal de Pelotas, também na região Sul do estado, estrutura concedida à CMPC em 2021, com vigência de dez anos.

“Nós somos o maior usuário do sistema fluvial do Rio Grande do Sul. Quase 45% do tráfego fluvial gaúcho é da CMPC”, afirma Lacerda.

A celulose vai para o porto de Rio Grande pelo Guaíba e pela Laguna dos Patos, as barcaças param em Pelotas, se abastecem de madeira e voltam. “É uma quantidade muito grande: são quase 8 milhões de metros cúbicos de madeiras que utilizamos aqui na fábrica”, estima o diretor.

O investimento de R$ 24 bilhões no Projeto Natureza será feito parte com recursos próprios e parte com recursos financiados junto a bancos de fomento do Brasil e do exterior, pelo fato de os provedores de parte das tecnologias da planta serem estrangeiros.

No Brasil, o BNDES teria se interessado no projeto, ainda que a transação não esteja fechada, segundo Lacerda. “Eu estive no BNDES e eles elogiaram muito o projeto, não somente do ponto de vista industrial, mas toda a vertente social e ambiental. Quando apresentamos o todo do projeto, o BNDES disse: “Uau, a gente quer estar com vocês””

Enquanto se prepara para o investimento em Barra do Ribeiro, a CMPC continua fazendo melhorias na unidade de Guaíba.

No fim de 2024, em dezembro passado, a companhia entregou o projeto BioCMPC, um investimento de R$ 2,75 bilhões que havia sido iniciado em 2021 e que envolve 31 iniciativas, que envolveram a implantação de novos equipamentos de controle ambiental e de procedimentos de modernização operacional da linha 2.

Dessa forma, nos cálculos da companhia, há uma redução de 60% no volume de emissões de gases de efeito estufa da CMPC.

Além disso, também houve um acréscimo de 18% à capacidade da fábrica. Esse incremento trazido pelo projeto à produção geral de celulose da companhia pode ser verificado já no fim do ano passado no balanço global da CMPC – que não divulga seus resultados no Brasil.

No quarto trimestre de 2023, houve um aumento de 23% no montante fabricado pela companhia, que foi de 1,075 milhão de toneladas no período, atribuído à finalização do projeto em Guaíba.

Além do BioCMPC, a companhia também investiu R$ 216 milhões, no fim do ano passado, em um projeto chamado Revamp, que tem como objetivo modernizar e otimizar equipamentos da linha de produção 1 de Guaíba.

“Foi mais uma atualização para aumentar a capacidade de secagem e melhorar os aspectos ambientais da fábrica”, diz Lacerda.

A CMPC tem duas plantas em Guaíba. A linha 1 é a mais antiga, inaugurada em 1972, com capacidade de produção de cerca de 400 mil toneladas de celulose, e a linha 2, que começou a operar em 2015 e é capaz de produzir 2 mihões de toneladas.

Do “odor da Borregaard” à referência ambiental

Os investimentos contínuos da CMPC em mitigar o impacto ambiental de suas plantas no Rio Grande do Sul estão também relacionados ao histórico da planta de Guaíba que, no passado, ficou conhecida em todo o Brasil pelos prejuízos ambientais que trouxe à população local.

Quando a fábrica, um projeto original da Borregaard, indústria de celulose da Noruega, foi instalada em Guaíba, no começo da década de 1970, houve muita festa, aplauso e expectativa de progresso com a chegada da nova unidade, símbolo da modernização da economia de um estado tradicionalmente agrícola.

Mas não demorou muito para que o humor dos gaúchos para com a nova indústria azedasse logo que a planta entrou em operação, em março de 1972. Das chaminés da nova fábrica, um cheiro forte de enxofre passou a atravessar o Rio Guaíba e repousar sobre a região central da capital gaúcha.

E, como se não bastasse o odor que incomodava a população, os efluentes da unidade estavam sendo despejados diretamente no rio, longe dos olhos (e narizes) da população.

As críticas ao impacto ambiental trazido pela fábrica, principalmente de ambientalistas e da imprensa, logo vieram. Um dos líderes dos ativistas era o engenheiro agrônomo José Lutzenberger, que ganhou fama nacional a partir do episódio e, mais tarde, viria a ser secretário do Meio Ambiente no governo de Fernando Collor, já no começo dos anos 1990.

Sustentabilidade e meio ambiente eram assuntos que não estavam na ordem do dia do regime militar naquele momento, que vivia seu momento mais repressivo, mas a reação negativa foi tão grande que até mesmo os militares resolveram agir.

Pouco tempo depois de ser inaugurada, a fábrica teve suas atividades interrompidas pelo governo gaúcho durante três meses, entre o fim de 1973 e o começo de 1974.

Pressionados, os noruegueses da Borregaard desistiram do projeto no Brasil e venderam a sua participação na fábrica para o Montepio da Família Militar, extinta instituição de previdência privada aos militares, em 1975, que trocou o nome da empresa para Riocell, sigla para Rio Grande Celulose, denominação que perdurou até os anos 2000.

A fábrica passaria de mão em mão até uma holding formada pelos grupos Klabin, Ioschpe e Votorantim assumir o controle em 1982.

Em paralelo, a Riocell passou a investir pesadamente em melhorias operacionais na fábrica para a mitigação de seu impacto ambiental, principalmente relacionadas ao tratamento de efluentes, e passou a contar com consultorias até mesmo de José Lutzenberger, outrora “inimigo” da antiga Borregaard.

A Klabin ficou no comando até 2003, quando vendeu a unidade para a Aracruz, que revendeu a fábrica para os chilenos da CMPC em 2009. Na ocasião, eles deram o nome de Celulose Riograndense para a unidade brasileira.

“Hoje, a fábrica tem muito pouco da antiga Borregaard. A gente renovou os prédios, os escritórios”, diz Lacerda.

Além do negócio de celulose no Rio Grande do Sul, a CMPC tem sua subsidiária específica para a fabricação de produtos de papel tissue e higiene pessoal, a Softys, dona de marcas conhecidas do consumidor como o guardanapo e papel toalha Kitchen, os lencinhos de papel Elite e o papel higiênico Cotton, entre outras.

Segunda maior produtora de tissues da América Latina, a Softys tem presença no Brasil e em outros sete países: Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Uruguai. No Brasil, a Softys está presente em Guaíba, Caieiras (SP), Mogi das Cruzes (SP), Recife (PE) e Mallet (PR).

Informações: Brain Market.

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