A agenda da biodiversidade é fundamental para o futuro da humanidade

*Patrícia Machado, **Rodrigo Lima e ***Giuliane Bertaglia

Os impactos ambientais decorrentes do uso irracional dos recursos naturais, a perda de biodiversidade, o esgotamento dos solos e da água, a extinção de espécies e desconhecimento sobre os recursos da diversidade biológica exigem transformar as formas pelas quais o ser humano se relaciona com a natureza. Sem isso, os impactos podem se tornar irreversíveis e trarão custos fabulosos para toda a sociedade.

Esta é uma das conclusões centrais do relatório “Relatório de Avaliação Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos”, publicada pelo Intergovernmental Science-Policy Platform for Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES).

Para se trilhar uma rota alternativa deste quadro é fundamental fortalecer os valores da biodiversidade perante os países, empresas e sociedade, visando criar soluções que permitam transformar impactos em ações ganha-ganha de desenvolvimento sustentável, tendo a biodiversidade como centro das discussões e alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas.

Este é o grande desafio na construção do novo Marco Global da Biodiversidade Pós 2020 que será acordado na COP15 da Convenção da Diversidade Biológica (CDB). Entre 11 e 15 de outubro de 2021, ocorre em kunming, na China, a 1ª sessão da COP15. Neste encontro, deverá ser aprovada a “Declaração de Kunming, um documento político, proposto pelo Governo da República Popular da China, que estabelece compromissos amplos sobre o Marco Global para a Biodiversidade Pós-2020 com o título “Ecological Civilization: Building a Shared Future for All Life on Earth”.

Um dos pontos de atenção da declaração é o papel que o setor privado deve desempenhar para contribuir com o uso sustentável da biodiversidade, integrando externalidade positivas nos negócios e nos projetos que dependem dos recursos naturais.

Diante dos mais claros sinais de esgotamento do planeta, a COP15, que terá sua parte presencial em 2022, tem que ser encarada como o ponto de virada. É chegado o momento de envolver todos os países na recuperação dos ecossistemas e o uso racional dos recursos naturais.

O setor de florestas plantadas ajuda a entender de que forma promover o uso sustentável dos recursos naturais.

As empresas brasileiras de árvores cultivadas há anos trabalham para integrar de maneira sustentável a produção e conservação  e podem oferecer cases de sucesso concretos do papel do setor privado nessa agenda.

Como um setor que faz uso dos recursos naturais, o setor de árvores cultivadas está diretamente ligado a este desafio de promover o uso sustentável e fortalecer ações que integrem a biodiversidade em suas atividades. A adoção de boas práticas produtivas é uma característica inerente ao setor, que há anos investe em pesquisa e tecnologia para o desenvolvimento de um manejo florestal sustentável. São 7,4 milhões de hectares de plantios certificados por padrões voluntários de sustentabilidade, como o Forest Stewardship Council (FSC) e o Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes (PEFC).

Atualmente são 5,9 milhões de hectares conservados pelo setor na forma de reserva legal, áreas de preservação permanente, áreas de alto valor de conservação e RPPN. Dessa forma, as áreas de plantio efetivo vão se intercalando com áreas de preservação formando grandes corredores ecológicos e integrando a paisagem.

Tais práticas ajudam a fortalecer a coexistência de diversos sistemas dando suporte para a conservação e propagação da fauna e flora e para os serviços ecossistêmicos. Cada atividade, desde o desenvolvimento de seus clones até a colheita, é planejada para mitigar potenciais impactos ao meio ambiente. Este é um setor nato da bioeconomia, que utiliza matéria prima renovável, inovação e tecnologia no desenvolvimento de processos e produtos sustentáveis que estão presentes no nosso dia a dia. Ou seja, toda a cadeia produtiva, do campo ao produto final, preza pela integração dos benefícios gerados pelas florestas plantadas diante das mudanças do clima e da biodiversidade, sendo assim um diferencial do setor diante dos desafios inerentes à vários ODS.

A bioinovação é outro tema presente no setor com a grande diversificação e agregação de valor dos produtos oriundos das árvores cultivadas, muitas vezes em substituição a produtos de origem fóssil. Além disso, o uso dos co-produtos gerados pelas florestas visando criar uma economia circular é um dos diversos campo de atuação que contempla relações ganha-ganha entre as áreas plantadas e a biodiversidade.

O caminho não é fácil, mas é possível. E mais do que isso, é urgente. Devido à pandemia, a COP15 terá ainda uma segunda seção em 2022. Mas temos que estar prontos desde já para elevar a importância da agenda de biodiversidade para o futuro da humanidade. Esta não é uma opção, é um dever das atuais gerações para deixar um planeta mais saudável.

*Patrícia Machado, coordenadora de Políticas Florestais e Bioeconomia na Indústria Brasileira de Árvores

**Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroícone

***Giuliane Bertaglia, pesquisadora da Agroícone

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