A onda do carbono – Que o sonho não vire pesadelo

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*Artigo de Nelson Barboza Leite

A silvicultura brasileira está entrando numa nova onda de crescimento. Chegou firme e forte o carbono! Embora existam inúmeras alternativas para captação de carbono, sem nenhuma dúvida, as opções que envolvem a silvicultura estão se despontando como as mais promissoras. E num país continental como o Brasil é fácil imaginar que serão ilimitadas as oportunidades de negócios de carbono para mitigação de problemas climáticos. E tudo na escala de milhões e bilhões. É aí que mora o perigo!

Já tivemos no Brasil episódio muito parecido com o incentivo fiscal para reflorestamento da década 60/70. Um sucesso para alguns, uma vergonha para muitos! Há de se reconhecer que o setor de celulose, a siderurgia a carvão vegetal, enfim, todas as indústrias à base de florestas plantadas não podem negar que um dia usaram os incentivos fiscais para reflorestamento. Mas esses são os que conseguiram escapar do mundo de erros estratégicos e agentes mal-intencionados. São os bem sucedidos que salvaram os incentivos e não querem nem ouvir falar de suas origens.

E os incentivos só conseguiram subsistir, graças ao esforço gigantesco de entidades representativas e de empresas com empreendimentos muito bem sucedidos. Esses mostraram a viabilidade do negócio bem feito. O próprio Governo, convencido da imprescindível necessidade de madeira, também não poupou esforço para acelerar o “rapa” na picaretagem, que pululava para todos os cantos. A atividade vivia sob intensa repulsa da sociedade diante de abusos escandalosos. As lições ficaram. Uma pena que os bons exemplos não sejam aproveitados, mas que jamais sejam esquecidos os erros, primariamente, cometidos. E lembrar que quase mataram a silvicultura!

Mas está aí o carbono. Firme e forte com milhões e bilhões e despertando interessados para todos os lados. Os mais bem informados já encontraram os atalhos para caminharem. Talvez a desinformação esteja dificultando o “caminho das pedras”, mas o barulho provocativo é enorme!

Causa muita estranheza, o fato, de não existir nenhuma instituição para comandar e orientar os programas, estabelecer as diretrizes prioritárias, dar rumo às atividades. Não é fácil o acesso a documentos que mostrem o que fazer, como fazer, onde fazer, com quem se informar.
Faltam informações claras sobre a metodologia para apresentar programas, quem monitora, quem corrige e até onde aprender. Tudo parece muito abstrato! Até os milhões e bilhões que encantam, só poucos sabem como se habilitar ao acesso!

Não se duvida da competência e idoneidade de profissionais que se encontram ligados ao assunto, mas é de se lamentar que não se criem, com certa urgência, os caminhos, as regras e critérios para que o assunto cresça e se desenvolva sem os riscos de se transformar numa tremenda encrenca, e mate excepcional alternativa para criação de benefícios sociais e ambientais para toda a sociedade!


*Nelson Barboza Leite é agrônomo e silvicultor.

Crédito imagem: Mais Floresta.

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