Embrapa faz parte da evolução da ciência do setor florestal brasileiro
O setor florestal brasileiro é pujante. Seja pela biodiversidade e riqueza de suas florestas nativas, seja pela qualidade e inovação de seus cultivos florestais com fins produtivos. E a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) faz parte desta evolução. Para ajudar a alavancar este setor, há 50 anos a empresa investe em pesquisa e ciência florestal, principalmente após o estabelecimento, em 1978, do Programa Nacional de Pesquisa Florestal – PNPF, via convênio com o então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).
O convênio delegava à Embrapa a coordenação, execução e apoio da pesquisa florestal brasileira (ciência), no âmbito do Ministério da Agricultura, com equipes designadas para trabalhar em Belém/PA, Petrolina/PE, Planaltina/DF e Colombo/PR, onde foi instalada a Unidade Regional de Pesquisa Florestal Centro-Sul (URPFCS). Em 1984, a Unidade passa a ter mandato nacional como Embrapa Florestas. Durante todo este tempo, atua de forma cooperativa com universidades, instituições estaduais de pesquisa, empresas de assistência técnica e de extensão rural, organizações não governamentais, empresas e associações do setor privado, poder público, instituições internacionais, produtores e suas associações, cooperativas entre tantos outros importantes parceiros.
Na área de florestas plantadas, uma das primeiras contribuições da Embrapa Florestas foi a coordenação e reintrodução do eucalipto no país. Uma equipe enviada à Austrália, país de origem do gênero, realizou a coleta de mais de 3 mil lotes de sementes de dez espécies de eucalipto, com as quais implantou uma ampla rede experimental em parceria com diversas empresas, em vários estados da União. Essa rede experimental ajudou a elevar a produtividade dos eucaliptos para um novo patamar e é considerada a base da eucaliptocultura nacional.
Já com outra espécie florestal de importância, o pínus, a Embrapa tem contribuído para estabelecimento de sua base genética e sistema de produção. Nos últimos anos, o desenvolvimento do Programa Cooperativo para Melhoramento Genético do Pínus, capitaneado por empresas reunidas por meio do Funpinus, tem trabalhado para melhoramento do gênero em duas frentes: madeira e resina.
O combate a pragas florestais é outro dos grandes marcos, com o desenvolvimento de tecnologias de controle biológico, ou seja, sem uso de produtos químicos, além de técnicas de manejo integrado de pragas, que auxiliam na prevenção e redução de danos. Destaque para o controle da vespa-da-madeira, principal praga dos plantios de pínus, desenvolvido em parceria público-privada com o Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais (Funcema). Caso não tivesse sido controlada, esta vespa poderia ter inviabilizado o cultivo deste gênero florestal que é a base da silvicultura de parte do Sul do Brasil, e fornece matéria prima para serrarias, movelaria, além de indústrias de papel e celulose.
Já em produtos não-madeireiros, a broca-da-erva-mate é uma praga importante dos cultivos de erva-mate e também teve como solução um produto biológico produzido em parceria com uma empresa privada. Outras pragas de interesse também contam com soluções de controle biológico, como pulgão-gigante-do-pinus e percevejo bronzeado (praga de eucalipto). Já para formigas cortadeiras, um amplo trabalho de pesquisa (ciência) em parceria com a Epagri possibilitou a redução de custos e aplicação de menores quantidades de iscas formicidas, com alto impacto financeiro e ambiental junto ao setor.
Quando estratégias digitais ainda recém caminhavam no país, a Embrapa desenvolveu e disponibilizou softwares para simulação de manejo de plantios florestais. Os softwares da Família SIS são simuladores para manejo, análise econômica, modelagem e de crescimento e produção de florestas plantadas utilizados para auxiliar no planejamento dos desbates (colheitas parciais, retirando-se linhas e/ou árvores selecionadas). Desde então, os usuários utilizam os softwares para testar todas as opções de manejo da floresta para cada condição de clima e solo, fazer prognose de produções presente e futura, efetuar análises econômicas e, depois, levar para o campo apenas a melhor alternativa. No começo, as espécies atendidas eram eucalipto e pínus, mas o conjunto hoje chamado FamíliaSis já atende plantios de mogno africano, teca, cedro, araucária e bracatinga. Recentemente, os softwares atendem a um novo segmento: o de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), calculando, inclusive, o sequestro de carbono em sistemas com floresta.
Assunto em pauta na atualidade, a mudança do clima é objeto de estudo pela Embrapa (ciência) há anos, tanto em relação ao papel mitigador de florestas nativas e plantios florestais, quanto ao impacto que estas mesmas florestas podem receber nos diferentes cenários de mudança de temperatura. Já foram definidos protocolos que mensuram de forma mais adequada o sequestro de carbono, tanto na parte área quanto no solo florestal, além de estudos sobre mudanças de uso da terra que envolvem florestas. Além disso, são estudados como os sistemas de produção de diversos tipos de cultivo (ciência) podem colaborar mais com o combate à mudança do clima, como por exemplo a integração lavoura-pecuária-floresta.
Este tipo de sistema (ILPF) recebe atenção da pesquisa, especialmente em sistemas de pecuária com floresta. O trabalho é realizado em parceria com a extensão rural, com a instalação de unidades de referência tecnológica que funcionam tanto como áreas de pesquisa quanto como vitrines para que produtores conheçam melhor e adotem a tecnologia. Uma das inovações que está em curso é o desenvolvimento de estudos de manejo do componente florestal para produção de biomassa. Até então, os desenhos deste tipo de sistema eram voltados para produção de toras e, agora, com o desenho para biomassa, abre uma nova possibilidade para pequenos e médios produtores atenderem outro nicho do setor de base florestal, como empresas de papel e celulose, cooperativas e siderúrgicas.
Os sistemas agroflorestais, especialmente os que conjugam espécies florestais nativas, frutíferas e agricultura também recebem atenção da pesquisa (ciência) e a planilha AmazonSaf e o aplicativo AnaliSafs apoiam o planejamento e tomada de decisão para este tipo de cultivo que reúne uma diversidade de elementos.
Na área de pesquisa com nativas, uma das grandes contribuições da Unidade é a coleção “Espécies Arbóreas Brasileiras”, com informações detalhadas de 340 espécies arbóreas nativas do Brasil. Fruto de anos de trabalho do pesquisador Paulo Ernani Carvalho, que hoje está aposentado, os cinco volumes trazem informações detalhadas tais como taxonomia, descrição, reprodução, ocorrência, aspectos ecológicos, clima, solos, sementes, produção de mudas, características silviculturais, melhoramento e conservação genética, crescimento e produção, características da madeira, principais produtos e usos, pragas e doenças e espécies afins; complementadas com mapas, tabelas e fotografias.
Para chegar a estes dados, o pesquisador coletou informações em diferentes bibliografias, mas também instalou áreas de observação em todo o país. O trabalho com nativas impulsionou trabalhos de pesquisa sobre recuperação de áreas degradadas e de baixa fertilidade, com o estabelecimento de modelos e técnicas de recuperação, indicação de espécies e desenhos apropriados, visando a restauração ecológica e o aumento da produtividade agrícola e florestal.
Uma espécie nativa de alto impacto para a região Sul do país e parte do Mato Grosso do Sul é a erva-mate. A Embrapa Florestas reuniu resultados de mais de 30 anos de pesquisas no Sistema Erva 20, um conjunto de práticas de manejo de ervais cultivados capaz de elevar a produtividade a 20 toneladas/hectare/colheita, dependendo das condições do cultivo (atualmente, a média de produtividade está em 7 ton/ha/colheita). Além das orientações de manejo, três aplicativos estão à disposição dos produtores: Ferti Matte (adubação), Manejo Matte e Planin Matte (avaliação econômica). Também são realizadas pesquisas sobre manejo de sistemas tradicionais de erva-mate. Ainda em sistema de produção, foram desenvolvidas duas novas formas de cultivo para produção de folhas jovens e altíssima produtividade, para atender mercados de produtos diferenciados: o Cevad Estufa e o Cevad Campo. Já no melhoramento genético, estão em desenvolvimento diferentes cultivares, com alto e baixo teor de cafeína e teobromina, com potencial de geração de novos produtos desta cadeia produtiva.
Já a araucária, outra espécie importante para o país, tem recebido atenção tanto para sua conservação, com o estabelecimento de coleções genéticas e incentivo a plantios nas divisas das propriedades rurais com estradas, quanto para seu uso sustentável, com a possibilidade de produção antecipada de pinhão, sua semente, que é muito apreciada na alimentação humana, além de possuir diversos benefícios à saúde. Com isso, produtos inovadores e sem glúten a partir da produção e processamento de pinhão podem ser fonte de renda especialmente para mulheres na agricultura familiar. A “conservação pelo uso”, preconizada pela Embrapa Florestas, pode ajudar a tirar a espécie da lista das ameaçadas de extinção.
A partir da Região Norte, a pupunha, cultivada naquela região para produção de frutos, foi introduzida no litoral do Paraná, Santa Catarina e São Paulo para produção de palmito, como alternativa à exploração da juçara, nativa da Mata Atlântica, mas que, ao ser cortada, morre, o que torna a planta em risco de extinção. Com a introdução da pupunha, o trabalho de pesquisa em parceria com a extensão rural, especialmente o IDR Paraná, possibilitou a criação de um sistema de produção completo para seu cultivo, mudando a geografia econômica das regiões onde é cultivada, com geração de renda a produtores rurais e abertura de agroindústrias. O valor bruto da produção, apenas no PR, saltou de R$ 480 mil para R$ 19,5 milhões, em um sistema de produção reconhecido pela FAO como boa prática e tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil.
O manejo florestal de nativas também recebeu atenção nestes anos, com pesquisas sobre manejo florestal sustentável na Amazônia. Resultados apontam que o manejo florestal por espécie é a forma mais eficiente de exploração sustentável da Amazônia. Nessa lógica, a intensidade de exploração, diâmetros de corte e ciclos de corte são customizados de acordo com as características de cada espécie. O manejo florestal sustentável garante a manutenção da floresta em pé, retirando somente aquilo que a floresta produz, com geração de renda e sustentabilidade. Difere do desmatamento, que tira toda a cobertura florestal. Mas deve ser realizado com base científica. Já existem dados específicos de manejo para 15 espécies da microrregião de Sinop/MT, em pesquisas realizadas em parceria com o Cipem, e muitas informações podem ser extrapoladas para outras regiões da Amazônia. Com isso, pretende-se auxiliar no aprimoramento da legislação florestal para que garanta a sustentabilidade ambiental da Floresta Amazônica aliada à geração de renda para a população local.
Pensando no “fora da porteira”, a Embrapa tem focado esforços em nanotecnologia e química verde, trabalhando no conceito de biorrefinaria, onde as árvores são a matéria-prima para diversos produtos inovadores como pele artificial para cicatrização de feridas, fertilizantes de liberação lenta, embalagens para alimentos (tais como filmes plásticos que aumentam tempo de vida de prateleira ou indicam grau de decomposição de um alimento), entre outros. O conceito é “refinar” árvores, de forma a gerar produtos inovadores e sustentáveis, já que a matéria-prima é plantada para este fim, com critérios de qualidade e cuidado com o meio ambiente em todo o processo produtivo.
Muitos destes trabalhos são acompanhados por análises econômicas e de impacto, e auxiliam na produção de informações e conhecimentos científicos que contribuem para a elaboração de políticas públicas e a tomada de decisões estratégicas na área de produção florestal.
Para chegar aos resultados, o trabalho de pesquisa conta com apoio de diversas áreas do conhecimento, seja em pesquisas básicas que dão suporte à busca de resultados; em laboratórios que conduzem diversos tipos de análises; pessoal de campo que monitora e coleta dados para embasar as pesquisas; gestão da informação, comunicação e transferência de tecnologia, para levar os resultados aos diversos públicos de interesse. Para conseguir realizar todo esse trabalho, a Embrapa Florestas atua de forma cooperativa com universidades, instituições estaduais de pesquisa, empresas de assistência técnica e de extensão rural, organizações não governamentais, empresas e associações do setor privado, poder público, instituições internacionais, produtores e suas associações, cooperativas entre tantos outros importantes parceiros.
Ao olhar para o futuro, as soluções baseadas em florestas estarão cada vez mais presentes, seja nos aspectos ambientais e de mitigação dos impactos da mudança do clima, seja em produtos renováveis e sustentáveis presentes no dia a dia das pessoas e em soluções inovadoras que alavanquem geração de renda e conservação ambiental.
Informações: Neo Mondo/Embrapa Florestas.