Em 2023 estado produziu 2,1 milhões de metros cúbicos de madeira em tora, avaliados em R$ 498,1 milhões; setor florestal é reconhecido por promover práticas eficientes e ambientalmente responsáveis
Mato Grosso é o segundo maior estado produtor de madeira nativa da Amazônia. O setor de base florestal desempenha um papel essencial na economia de diversos municípios. Em 2023, 75 dos 142 municípios do estado produziram 2,1 milhões de metros cúbicos de madeira em tora, avaliados em R$ 498,1 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, as exportações de produtos florestais locais geraram US$ 47,1 milhões entre janeiro e agosto, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
O setor florestal emprega 12.712 pessoas, representando 9,8% do total da indústria de transformação do estado, além de ter o quarto maior número de empregos entre as indústrias desse segmento. Existem 1.188 estabelecimentos dedicados à produção florestal, dos quais 795, ou 66,9%, são microempresas, incluindo 609 serrarias.
Os produtos madeireiros são destinados a atender a demanda da construção civil e moveleira, entre outras aplicações, tanto no mercado interno como internacional. A ampliação do acesso dos produtos florestais de Mato Grosso a mercados consumidores, tanto internos quanto externos, está avançando gradualmente, afirma Ednei Blasius, presidente do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem). Em 2024, empresários do setor participaram dos principais eventos nacionais e internacionais em São Paulo e na França.
Em 2023, as indústrias madeireiras do estado realizaram negócios com 61 países, resultando em exportações de produtos florestais que somaram US$ 104,6 milhões. Os principais destinos das exportações foram os Estados Unidos (US$ 16,7 milhões), Índia (US$ 13 milhões) e China (US$ 11 milhões). Entre os produtos exportados, destacam-se a madeira bruta, serrada e perfilada (MDIC).
No primeiro trimestre de 2024, as vendas alcançaram US$ 18,3 milhões, com a exportação de 16,6 mil toneladas de madeira, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Isso posiciona Mato Grosso como o quarto maior exportador de madeira do Brasil.
Os principais municípios produtores de tora extraída de áreas com Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) são Colniza, que ocupa o 1º lugar com 425 mil m³, seguido por Aripuanã em 2º lugar com 310 mil m³, Juara em 3º lugar com 150 mil m³, e Juína em 4º lugar com 145 mil m³. Em nível nacional, esses quatro municípios de Mato Grosso estão posicionados, respectivamente, em 4º, 6º, 13º e 14º lugares entre os 20 maiores fornecedores de madeira extraída de florestas nativas.
O setor florestal desempenha um papel significativo nas exportações dos municípios de Mato Grosso. Em Juína, as exportações de madeira serrada alcançaram US$ 241 mil, o que equivale a 33% da receita total de exportações do município nos primeiros oito meses de 2024. Em Colniza, as espécies nativas da madeira representam 90% das exportações, totalizando os US$ 7,2 milhões no mesmo.
O município de Aripuanã faturou US$ 8,91 milhões com as exportações de madeira perfilada, representando 12% do total de suas exportações. Já o município de Juara exportou madeira serrada, somando US$ 164 mil nos primeiros oito meses de 2024.
O setor de base florestal é reconhecido por promover práticas eficientes e ambientalmente responsáveis por meio do manejo sustentável, Mato Grosso possui 5,025 milhões de hectares de florestas manejadas e conservadas, com uma produção de 7 milhões de metros cúbicos de madeira em 2022, além de arrecadar R$ 66 milhões em impostos. O setor contribui com a economia do estado, gerando receitas significativas em diversos municípios e empregos. O sistema de rastreamento da produção florestal (Sisflora 2.0) é considerado um dos mais eficientes do mundo, assegurando a procedência e a legalidade dos produtos.
As indústrias madeireiras enfrentam desafios na exportação de seus produtos, recentemente uma reunião dos sindicatos madeireiros discutiu opções para melhorar o comércio internacional de madeira, incluindo a análise de novas rotas portuárias com base em um estudo de viabilidade técnica e econômica. As indústrias madeireiras no estado de Mato Grosso enfrentam desafios de exportação devido a atrasos no desembaraço de contêineres causados pela falta de técnicos do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) nos portos marítimos.
De acordo com o CIPEM essas ineficiências portuárias continuam afetando as indústrias exportadoras de madeira mesmo após o fim da greve nacional dos funcionários do IBAMA, que durou 40 dias neste ano, resultando em prejuízos para os exportadores devido ao acúmulo de embarques interrompidos e ainda criticou a cobrança de taxas portuárias durante o período de greve.
Um estudo da Fiemt, encomendado pelo Cipem, sugere alternativas como a internacionalização a partir do Porto Seco de Cuiabá, que pode reduzir o tempo de aprovação por órgãos reguladores e o prazo de embarque. O Porto Seco oferece 60 dias de armazenagem gratuita, mas seus custos ainda são superiores aos da logística convencional. Outra alternativa envolve o uso do Porto Seco em combinação com o transporte ferroviário em direção ao Porto de Santos, em São Paulo. A terceira opção estudada é a exportação via Redex (Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação).
O estudo também identifica desafios, como a falta de técnicos do Ibama nos portos, levando à criação do Comitê da Crise dos Portos, em parceria com a Fiep, conforme afirmou Fernanda Campos, superintendente da Fiemt.
O setor florestal enfrenta desafios significativos na exportação de seus produtos e, além disso, por falta de conhecimento, sua imagem é frequentemente associada à exploração ilegal de madeira, o que agrava a percepção negativa do “produto madeira” como um todo e limita o potencial de crescimento do setor.
Esse cenário reforça a necessidade urgente de políticas florestais nacionais que promovam a sustentabilidade e fortaleçam o desenvolvimento do setor.
Para superar essas dificuldades, é crucial promover um entendimento mais profundo sobre o manejo florestal sustentável e a cadeia produtiva da madeira de florestas nativas, com abordagem sobre os aspectos socioeconômico e ecológico, que aplica a ciência e engenharia florestal em favor das florestas, visando gerar riqueza, proteger o meio ambiente e mitigar mudanças climáticas. Além disso, que proporciona emprego e renda para os estados amazônicos, oferecendo uma alternativa valiosa para preservar a floresta frente ao desmatamento ilegal.
Essas iniciativas serão fundamentais para que os produtos florestais de Mato Grosso acessem novos mercados e fortaleçam sua posição no cenário global.
Cícero Ramos é vice-presidente da Associação Mato-grossense dos Engenheiros Florestais e Coordenador das Câmaras Especializadas de Engenharia Florestal (CCEEF) 2024.
Informações: Compre Rural.