Desafios climáticos aumentam potencial para a integração lavoura-pecuária no Vale do Araguaia

A agricultura na região ainda é uma atividade recente e que ocorre na menor área do que a pecuária de corte. As lavouras estão entrando em substituição às pastagens de baixa produtividade ou em processo de degradação.

O benefício e potencial de uso de sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) na região do Vale do Araguaia, em Mato Grosso e Goiás, foi confirmado pelos integrantes da Caravana ILPF, que percorreram quase 2 mil km por dois estados nesta semana. Participaram da expedição profissionais da Associação Rede ILPF e especialistas das empresas associadas, entre eles, pesquisador da Embrapa.

Ao longo da semana o grupo visitou quatro propriedades rurais e uma área experimental, realizou um dia de campo, um painel de debates e um ciclo de palestras. Os compromissos permitiram a troca de informações e de experiências entre os membros da Caravana, produtores, técnicos e estudantes. “Com Mato Grosso, a Caravana ILPF chegou a dez estados brasileiros. Esperamos continuar visitando regiões com potencial de uso da tecnologia, levando informações e trocando experiências. Em breve esperamos ter passado pelos 26 estados e pelo Distrito Federal. Quem sabe, até retornar por onde passamos para ver a evolução dos sistemas”, disse o coordenador da Caravana ILPF e pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcelo Dias Muller.

Antes desta etapa do Vale do Araguaia, a Caravana ILPF já havia passado pelo Espírito Santo, Bahia, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Maranhão, Piauí, Minas Gerais e Goiás. No segundo semestre deste ano serão realizadas mais duas etapas, sendo uma em São Paulo e outra no oeste do Maranhão e sul do Pará.

Vale do Araguaia

Durante o roteiro, o grupo pôde conhecer as características desafiadoras da região do Vale do Araguaia. Como as chuvas cessam mais cedo do que em outras regiões do Centro-Oeste, a janela de semeadura do milho na segunda safra é curta, inviabilizando o cultivo em toda a área. Além disso, a baixa altitude e as altas temperaturas limitam a produtividade do grão. Ao mesmo tempo, os solos arenosos demandam aumento de matéria orgânica para elevar a produtividade da soja na primeira safra.

A agricultura no Vale do Araguaia ainda é uma atividade recente e que ocorre na menor área do que a pecuária de corte. As lavouras estão entrando em substituição às pastagens de baixa produtividade ou em processo de degradação.

Nesse contexto, a integração de trabalho-pecuária se mostra como uma tecnologia interessante para diferentes tipos de situação. Além de viabilizar financeiramente a reforma das pastagens, o ILP possibilita a melhoria dos atributos do solo, com incremento da matéria orgânica e cobertura durante todo o ano.

Nas visitas técnicas realizadas os integrantes da Caravana viram diferentes estratégias. Na fazenda Estrela do Araguaia, em Montes Claros de Goiás, o foco está na produção de soja, com a pastagem sendo semeada na sequência, visando aumentar matéria orgânica e formar palhada. A palhada deixada pelo capim contribui para baixar a temperatura do solo, que chega a cozinhar as sementes, quando exposta diretamente ao sol. Outra estratégia adotada é a produção de milho consorciado com braquiária na segunda safra, com a colheita de silagem para uso sem confinamento.

Já a fazenda Bariri, em Canarana, faz a ILP por meio do arrendamento para lavoura. Após a colheita da soja, é semeado o capim, onde o gado pasteja no período seco. Sistema semelhante, com soja na safra, seguido de semeadura de capim é feito na fazenda Água Viva, em Cocalinho. Em ambas as propriedades, os números de ganho de peso do rebanho são majorados pela pastagem de qualidade.

“A integração trouxe muito benefício porque só pasto não consegue romper. A lavoura vai criando palhada, deixando o resíduo do adubo e só me ajudou. Tenho um gado bom, que vem menos mineral. Então ficou bom e muito viável para mim. É uma solução sim para a região”, disse o produtor Carlos de Negri, mais conhecido como Bariri.

A Caravana ILPF também viu o uso de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) em pequenas áreas. No Instituto Federal Goiano, em Iporá (GO), uma área experimental testa dois clones de eucalipto e duas espécies nativas: baru e angico. As pesquisas utilizam como componente agrícola soja, milho e consórcio de girassol com capim para produção de silagem. Já no Sítio Rosa de Saron, no Assentamento Serra Verde, em Barra do Garças, o grupo conheceu uma agricultora familiar que tem pastos sombreados com baru e faz uma integração de lavoura de café com árvores nativas.

Estudantes

Além de atividades de campo com foco nos produtores e técnicos, a Caravana ILPF promoveu um ciclo de palestras na UFMT de Barra do Garças (MT) com foco em estudantes de graduação e de ensino técnico. O objetivo foi o de mostrar as oportunidades profissionais que os sistemas ILPF trazem para profissionais das Ciências Agrárias e de outras atividades à produção.

“Essas informações são extremamente importantes para os alunos. Trazer o dia-a-dia do produtor rural, os problemas e as novas ferramentas sempre enriquecendo a formação dos alunos. Eles estão com essa fome de aprender, ainda mais com essa tecnologia que apresenta baixo impacto ambiental. Isso enriquece a formação profissional deles”, disse o professor Sílvio Fávero, coordenador do curso de Agronomia da UFMT.

Parcerias

A Caravana ILPF Etapa Vale do Araguaia contorno, além das associadas da Rede ILPF (Bradesco, Cocamar, John Deere, Soesp, Suzano, Syngenta e Embrapa) com a participação da Liga do Araguaia, Empaer, The Nature Conservance (TNC), Aprosoja, UFMT, Unemat, IF Goiano e Primavera Máquinas.

Fonte: Embrapa Agrossilvipastoril

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