O primeiro dia de evento do 5º Encontro Brasileiro de Silvicultura (EBS), ocorrido no dia 07 de agosto, reuniu cerca de 600 empresários e profissionais da área florestal. A programação foi composta por seis palestras, divididas em dois painéis, seguidos por perguntas e debates. Após cada painel houve uma mesa redonda, abordando temas distintos, com outros palestrantes especialistas da área florestal. Organizado pela Malinovski e Embrapa Florestas, o Encontro buscou promover o principal palco de discussões sobre silvicultura de florestas cultivadas do Brasil.
Segundo Edilson de Oliveira, pesquisador da Embrapa Florestas e um dos organizadores do evento, o alto nível dos palestrantes tem proporcionado boas reflexões. “Selecionamos os melhores profissionais das áreas demandadas e o resultado sempre é muito positivo, pois fomenta discussões, além de trazer muita informação para quem atua no setor de plantação florestal”.
O primeiro painel, denominado “Desafios para a Produção Florestal”, contou com três palestrantes, sob a moderação de Junior Ramires, sócio diretor das Empresas Ramires, Reflortec S/A e Presidente da REFLORE/MS-Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas.
O primeiro a palestrar foi José Luiz Stape, professor de Pós-Graduação da UNESP Botucatu, abordando o tema “Avanços nos estudos de clima e produtividade florestal”. O professor fez um breve histórico sobre as mudanças na produtividade experimentadas pelo setor florestal brasileiro, e mostrou estudos sobre a relação entre clima e genética dos clones e a variabilidade de produtividade.
Stape frisou a importância dos estudos e programas cooperativos visando à busca real dos controles de crescimento da floresta, seus recursos disponíveis, fatores bióticos e abióticos. Assim como também, enfatizou a importância de uma “Rede Experimental” para compreender como os fenômenos ambientais afetam os clones, agora mapeados até nível genômico, e também do implemento do manejo orbital, que é o rastreamento contínuo sob diferentes canais óticos do dossel das florestas brasileiras. “Temos que ter delineamentos robustos e coletas de dados robustos. Se queremos produção de madeira em um ambiente com mudança climática temos que nos preocupar com tudo o que ela pode trazer”, frisa.
Em seguida, Cristiane Aparecida Fioravante Reis, pesquisadora da Embrapa Florestas, abordou o tema “Plantações florestais nas novas fronteiras do território brasileiro” e os desafios para a produção florestal com o avanço para novas áreas. A pesquisadora usou como base os mapas de distribuição espacial do IBGE (desde a década de 1980) das produções de carvão vegetal, lenha, madeira em tora para celulose e outras finalidades e látex coagulado, por municípios brasileiros.
“O intuito da palestra foi apresentar o tanto que o eucalipto tem sido importante para suprir as demandas por madeira. Ao longo dos anos, observa-se que a distribuição espacial das plantações florestais, especialmente de eucalipto, seringueira, teca e mogno-africano tem se expandido rumo às ditas ‘novas fronteiras’ do território brasileiro”, aponta. Estas têm-se referido às diversas localidades nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte e extremo Sul do Brasil, especialmente, a partir do início do século 21.
Reis citou as contribuições da Embrapa para estas novas fronteiras, bem como os programas de melhoramento genético de espécies de Eucalyptus e, também, de Corymbia, de empresas privadas, que são referências na geração de clones/cultivares de elevada produtividade de madeira e tolerância a fatores bióticos e abióticos. Ressaltou ainda as projeções do agronegócio para a próxima década que projetam um crescimento de 24,1% na produção nacional de grãos nos próximos 10 anos, com destaque maior para o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia) , em que o crescimento deve alcançar 37,1%. Bem como o aumento na produção nacional da carne bovina (12,4%), suína (23,2%) e frango (28,1%), e leite (18,5%) “indicando forte tendência de ampliação da demanda e, consequentemente, no consumo de lenha também nos próximos 10 anos”.
A pesquisadora também enfatizou a importância da lenha para a pujança do agronegócio, que tem sido usada nos fornos de indústrias; na secagem e beneficiamento de grãos; nas caldeiras de frigoríficos, laticínios, dentre outras indústrias alimentícias. E, ao final, a pesquisadora fez menção aos livros da Embrapa sobre o eucalipto, o mogno-africano e a teca, todos com bastante número de downloads
A terceira palestra do dia foi sobre “Estratégias para utilização de compostos clonais”, abordada por Gabriel Dehon Rezende, head corporativo de P&D Florestal da Bracell. Rezende falou sobre a importância de haver variabilidade genética disponível no gênero eucalipto, que possibilita sua exploração por meio de programas de melhoramento bem estruturados e eficientes, viabilizando a realização de novos ganhos genéticos.
Após buscar algumas soluções alternativas associadas aos plantios monoclonais, Rezende destacou a solução chamada de Compostos Clonais, que visa eliminar riscos de perdas de investimentos ao nível do talhão e sem que haja perda de produtividade. Inspirada em um jogo de basquete, com jogadores de genótipos distintos e fenótipos semelhantes.
“Não se tratava mais de misturar clones, e sim de misturar os clones de melhor performance em auto e alo-competição, viabilizando plantios igualmente uniformes aos monoclonais, porém com maior diversidade genética”, conta. Os resultados preliminares, segundo Rezende, já apontam para desempenho superior dos Compostos Clonais em relação aos melhores clones individualmente, havendo não só a segurança, mas o aumento da produtividade.
Após o primeiro painel foi realizada uma mesa redonda com o tema “Silvicultura Digital”, que teve como moderador Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, professor titular e chefe do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ-USP e os componentes Marcos Paulo Rossi Sacco, gerente sênior de Operações Florestais da Bracell Bahia; André Dezanet, general manager da Vallourec Florestal e Jozébio Esteves Gomes, coordenador de Competitividade e Projetos Florestais da Eldorado Brasil e Eduardo Moré de Mattos, cofundador e diretor de Sustentabilidade da Geplant.
No painel vespertino, o tema foi “Operações silviculturais: cases de inovação e tecnologias”. Abrindo a sessão de palestras, Diego Cezana,coordenador de Planejamento Florestal da Veracel, falou sobre “Recomendação clonal integrada e otimizada”. Cezana contou como a Veracel Celulose desenvolveu com sucesso uma ferramenta e um processo integrado de alocação clonal e planejamento de viveiro para lidar com desafios como escolha de clone, preparo de viveiro, levando em consideração variáveis climáticas, interação entre clone-sítio e suscetibilidade a doenças.
A empresa criou uma ferramenta de análise preditiva, denominada Verótima, que uniu vários elementos em um processo integrado. Para tanto, desenvolveu um otimizador de recomendação clonal e de planejamento de viveiros. O passo seguinte foi fornecer o potencial produtivo para cada interação clone e sítio da empresa.
“Ao estabelecer um processo integrado, várias vantagens foram alcançadas, como a maior interação entre as partes envolvidas, considerando diferentes perspectivas na tomada de decisão. Além disso, incluíram-se informações de sanidade, histórico de doenças e susceptibilidade de cada clone. Definimos indicadores-chave, simplificando o processo decisório”, conta Cezana.
Na sequência, Luis Augusto dos Santos Saldanha, gerente de Silvicultura da Klabin-PR abordou o tema “Microplanejamento para potencializar plantio em áreas declivosas”. E frisou a necessidade de se montar previamente um plano de reconhecimento de uma área com suas necessidades, seguido de uma estratégia das operações necessárias à execução das atividades com segurança no local, com qualidade e com o menor custo possível.
“O manejo de florestas na Klabin é referência internacional em plantio em mosaico, que consiste no cultivo de Pinus e eucalipto entremeados por florestas nativas preservadas. Na Klabin, 41% das florestas nativas são preservadas”, afirma. De acordo com Saldanha, o microplanejamento, além da redução de risco aos colaboradores por meio da mecanização, visa proporcionar a preparação antecipada da área no período correto para executar o plantio.
Um exemplo citado é que na Klabin, 90% do preparo do solo é mecanizado. Saldanha frisou a importância do constante acompanhamento das tarefas, detalhamento fotográfico de todos os talhões presentes, treinamento de pessoal com definição de critério e o, planejamento das operações silviculturais com o intuito de sinalizar toda e qualquer situação ou divergência que possa oferecer risco às atividades.
A última palestra do primeiro dia do Encontro Brasileiro de Silvicultura, de Bruno Morales, gerente de Operações Florestais da CMPC, tratou o tema “Revolução do uso de drones em tratos culturais”. Para ele, o futuro da silvicultura 100% mecanizada e automatizada está acontecendo à medida em que a tecnologia avança e as regulamentações se ajustam.
“A incorporação de novas tecnologias, como o uso dos drones, apresenta-se como uma ferramenta estratégica e de fundamental importância, ao substituir algumas atividades manuais e mecanizadas, principalmente as aplicações de herbicidas, que reduzem a exposição de pessoas a produtos químicos, minimizando riscos de segurança e melhor consumo de água, operação acima de obstáculos”, diz.
No caso do drone, há oportunidades de coevolução em diversos aspectos que podem e devem potencializar o emprego da ferramenta no curto prazo, “como o desenvolvimento de produtos que permitem sua aplicação e efetividade com restrições de consumo de água; produtos com seletividade ao eucalipto; maior espectro de controle das diversas ervas daninhas existentes; com aprimoramento das pontas de pulverização, permitindo aumento de faixas e cobertura; baterias com maior capacidade e velocidade de recarga, drones que retornam à base para autoabastecimento e autorrecarga de forma a reduzir o número de pessoas envolvidas na operação”, bem como outras inovações citadas.
Para encerrar o primeiro dia do encontro foi relada a última mesa redonda com o tema “Rumos da mecanização X escassez de mão-de-obra”, moderada por Edimar de Melo Cardoso, diretor de Operações da Aperam BioEnergia e presidente do Conselho da AMIF – Associaçao Mineira da Industria Florestal, com a participação de Anderson Lins, diretor Florestal da Dexco; Fabian Fernandes Bruzon, diretor de Operações Florestais da Suzano e Fernando dos Santos Gomes, diretor Florestal da Arauco-MS