Mapeamento da ILPF ganha fôlego com uso de inteligência artificial

Iniciativa da Embrapa Solos, no Rio de Janeiro, já levantou áreas em Mato Grosso e promete lançar plataforma aberta até 2025

O levantamento da área com ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta) no Brasil deve ganhar um novo aliado a partir de 2025.

É para este ano que está previsto o lançamento de uma plataforma de mapeamento e monitoramento de sistemas integrados no país com base em dados de satélite processados em tempo real e no uso de tecnologias de inteligência artificial como machine learning para realizar esse trabalho de forma automática.

“É um projeto eminentemente de pesquisa científica cujo desafio, à época, era verificar se os métodos de sensoriamento remoto seriam capazes de detectar, mapear e monitorar sistemas complexos de produção, entre eles a ILPF”, conta o pesquisador da Embrapa Solos, Rodrigo Ferraz.

Depois de oito anos de pesquisa, o GeoABC, como foi batizado o sistema, ganhou forma e já permitiu mapear o avanço da tecnologia em Mato Grosso de 2012/13 a 2021/22 e começou a ser replicado no Estado vizinho, o Mato Grosso do Sul.

Para desenvolver o sistema, foi necessário reunir uma série de imagens de satélite que permitissem construir uma linha do tempo a fim de identificar não só a cultura instalada em determinado local, mas também o sistema de manejo adotado.

Esses dados, então, são organizados para, por machine learning, permitir que os algoritmos do GeoABC façam esse diagnóstico de forma automática apontando não só onde está a ILPF no Brasil, mas também como ela está avançando.

Os resultados iniciais de Mato Grosso, por exemplo, indicaram uma taxa de expansão da ILPF no Estado da ordem de 250 mil hectares ao ano de 2013 a 2019.

Quando cruzados com informações da equipe de transferência de tecnologia da Embrapa Agrosilvipastoril, em Sinop, eles indicaram uma concentração dessa expansão nas áreas próximas das unidades de referência tecnológica (URTs) mantidas no Estado nos primeiros anos – o que, segundo Ferraz, comprova o impacto positivo da presença das URT’s para disseminação da ILPF.

“O interessante quando você tem imagens de satélite é que você pode olhar tanto o passado quanto o presente. E a cada ano que as imagens vão saindo, você está sempre atualizando a plataforma. Então, o que a gente quer, é um sistema dinâmico, um monitoramento mesmo, e não apenas um retrato estático da realidade momentânea”, explica Ferraz.

O plano, segundo o pesquisador, é que aos poucos o sistema seja ajustado para todo o Brasil – primeiramente com foco no Cerrado e, posteriormente, para as demais regiões.

Uma vez com os dados completos, a plataforma permitirá ao público interessado fazer recortes locais da adoção de sistemas integrados, permitindo avaliar não só a taxa de adoção e crescimento da ILPF, mas também seus diferentes arranjos.

“Acreditamos que, com isso, possamos fornecer para sociedade e para a cadeia de produção de grãos uma ferramenta de dados para que o país possa, cada vez mais, estimular a adoção de um sistema que é eminentemente conservacionista e de baixa emissão de carbono”, diz Ferraz ao destacar também o valor comercial que o conhecimento territorial da ILPF traz para o setor.

“Algumas regiões vão ter uma forte adoção do sistema pecuária-floresta, outras serão mais fortes na lavoura-pecuária e outras poderão fazer a integração completa. Mas mais do que isso, nós temos também diferenças de janela de plantio, calendário agrícola, clima, que variam de uma região para outra e o que a gente quer é que esses dados tragam inteligência territorial na gestão não só de políticas públicas mas também na logística estratégica comercial da própria cadeia”, pontua o pesquisador.

Expansão

De acordo com dados da Rede ILPF, o Brasil conta atualmente com 17,4 milhões de hectares de sistemas integrados já implantados e uma meta oficial do Plano ABC de chegar a 27,4 milhões de hectares nos próximos dez anos.

A meta da Rede, uma iniciativa púbico-privada para promoção dessa tecnologia, é ainda mais ousada: chegar a 35 milhões de hectares no mesmo período.

“A Rede ILPF fez uma pesquisa há um tempo para saber o número de hectares de ILPF no país e a gente sente falta de um sistema em tempo real e que também tenha informação perene para todo o setor. Isso é importante inclusive para chegarmos nessa nossa meta e comprovar com dados georreferenciados oficiais que conseguimos alcançá-la”, salienta a diretora da Rede ILPF, Isabel Ferreira.

Atualmente, esse monitoramento é feito a partir de visitar técnicas e dias de campo promovidos pela Caravana ILPF, expedição técnica e científica que percorre diferentes estados para promover a adoção de sistemas integrados no país.

Com o lançamento do GeoABC e de outras bases de dados disponíveis, a Rede ILPF também planeja lançar uma plataforma própria com informações não só sobre área, mas também sobre os diferentes perfis de produtor, acesso a crédito e outras informações que permitam a elaboração de políticas públicas mais efetivas para cada região.

“A gente não consegue fazer política pública às cegas. Por isso, temos uma cooperação com o Ministério da Agricultura para passar esses dados também para eles e ajudar a pensar como podemos avançar a ILPF. Com os dados, conseguimos ver onde estão os verdadeiros gargalos, onde tivemos alguma ferramenta implementada que não deu certo ou que deu muito certo e dosar as nossas atividades para tentar aumentar a adoção de ILPF no país”, completa Isabel.

Fonte: Globo Rural

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