Tecnologia, gestão estratégica de dados e infraestrutura são essenciais para o crescimento do setor no Brasil
O setor florestal brasileiro, um dos maiores impulsionadores da economia do país, vai além da produção de celulose para papel. “O papel é apenas um dos mais de cem produtos derivados da celulose. Provavelmente, todos nós estamos rodeados por itens que contêm esse material, como roupas, óculos, cadeiras, carros e até medicamentos”, afirma Ronaldo Soares, gerente geral florestal da Hexagon. Essa versatilidade coloca o Brasil como líder mundial na exportação de celulose, com um faturamento de US$ 7,9 bilhões em 2023, segundo o Relatório Anual da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).
O setor está vivendo uma fase de crescimento acelerado, com investimentos que superam R$ 140 bilhões. Soares observa que este volume de investimentos é inédito nos quase 30 anos de sua atuação na indústria. Grandes empresas estão ampliando suas fábricas e ativos florestais, com o objetivo de manter a competitividade global. O Mato Grosso do Sul, por exemplo, está se consolidando como um polo estratégico da celulose, com avanços significativos tanto no campo quanto na indústria.
A utilização de tecnologias avançadas é essencial para o Brasil manter sua liderança no mercado internacional. Soares ressalta que o planejamento estratégico deve guiar a adoção de inovações tecnológicas. “As empresas precisam escolher soluções que atendam suas necessidades de longo prazo, assim como fazemos com a escolha de um celular, que deve ser funcional por um bom período. A mesma lógica deve ser aplicada às tecnologias empresariais”, explica.
Com mais de 10 anos de experiência na Hexagon, Soares destaca como o Brasil tem avançado no uso de tecnologias, superando, em alguns aspectos, países europeus. “Estamos em um ritmo impressionante de inovação aplicada. Quando visitamos centros de pesquisa de outros países, a impressão é de que estamos retornando aos anos 70 em termos de tecnologia”, afirma. No entanto, ele adverte que a logística continua sendo um grande obstáculo para o pleno potencial do setor.
“Produzimos de maneira eficiente, mas a logística ainda é um desafio. O transporte no Brasil é caro e ineficiente, principalmente por depender do modal rodoviário. Melhorias no transporte ferroviário poderiam reduzir custos e aumentar ainda mais nossa competitividade global”, analisa Soares.
Outro ponto crucial é o impacto da tecnologia nas operações florestais. Atualmente, as operações contam com monitoramento em tempo real, redução de desperdícios e maior previsibilidade de problemas. Contudo, Soares enfatiza que a tecnologia só traz benefícios reais se houver uma equipe capacitada para interpretá-la e tomar decisões adequadas. “O potencial de ganho é imenso, mas exige preparação. Se a empresa não tiver uma equipe pronta para lidar com as informações geradas, a tecnologia pode gerar mais confusão do que benefícios”, explica.
A gestão de dados também se configura como um dos maiores desafios do setor. “Geramos quase 100 informações por segundo no nosso sistema. A questão é: como utilizamos essas informações?”, questiona Soares. Ele alerta que o excesso de dados pode ser tão prejudicial quanto a falta deles. “Sem uma equipe que analise e gere insights práticos, os dados acabam se acumulando sem gerar valor”, afirma.
Para Soares, o setor florestal brasileiro tem um papel estratégico na economia global. Para maximizar seu potencial, é fundamental equilibrar investimentos em infraestrutura, avanços tecnológicos e uma gestão eficiente de dados. “A tecnologia é um poderoso instrumento, mas sem uma equipe qualificada e um planejamento estratégico bem estruturado, ela não pode entregar os resultados esperados”, conclui.
Informações: Portal do Agronegócio.