O Estado de São Paulo é o quarto do Brasil em emissões de gases do efeito estufa. No entanto, enquanto o perfil nacional tem como base central o desmatamento e a agricultura – que juntos representam três quartos do total de emissões –, em São Paulo é a energia, sobretudo os combustíveis fósseis, o principal problema (71% dos gases emitidos).
Isso faz com que a realidade paulista seja mais semelhante à média global: 73% das emissões estão relacionadas à queima de combustíveis fósseis e 18% a mudanças no uso do solo e agricultura.
“Vamos pegar o Estado de São Paulo, por exemplo. Se sabemos que um setor está contribuindo para a redução das emissões, precisamos potencializá-lo. Enquanto a agricultura ainda representa 25% das emissões paulistas, a de mudanças de uso do solo é quase zero já que não há mais grande desmatamento há alguns anos e há um avanço na silvicultura. Basicamente, é preciso avançar ainda mais em termos de reflorestamento e restauração florestal”, avaliou Maurício Cherubin, vice-coordenador geral e diretor de pesquisa do Centro de Pesquisa de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).
A avaliação de Cherubin foi feita na quinta sessão da Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CECTI), dedicada a debater o tema “Mudanças Climáticas e Transição Energética”. Realizada na quinta (07/03) e sexta-feira (08/03) da semana passada, na Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, a CECTI teve o objetivo de preparar as contribuições do Estado de São Paulo para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), marcada para ocorrer entre 4 e 6 de junho, em Brasília.
“Estima-se que em São Paulo exista um déficit de 700 mil hectares de Área de Preservação Permanente e 800 mil hectares de Reserva Legal, área semelhante à meta do Programa Refloresta São Paulo. Mas como podemos reflorestar mais? Intensificando o uso da terra voltado à agropecuária, especialmente no setor canavieiro, que é a principal produção que temos no Estado”, afirmou Cherubin.
Patrícia Morellato, diretora do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças Climáticas (CBioClima) – um CEPID da FAPESP sediado no campus de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista (Unesp) –, avaliou que o foco da resposta às mudanças climáticas precisa estar na conservação.
“A solução para as mudanças climáticas passa pela conservação e redução da perda de biodiversidade. O maior problema no Brasil não é a frota, mas o uso da terra. A biomassa, por exemplo, não é um milagre, temos de pensar em outras soluções. A cana-de-açúcar deveria ser pensada como algo transitório”, afirmou Morellato.
“Concordo que a homogeneização do ecossistema é um processo que gera perda de biodiversidade, mas, por outro lado, estrutura a economia do Estado. É preciso misturar floresta e cana. A floresta assimila 18 vezes mais CO2 que a cana”, rebateu Cherubin.
No painel, os pesquisadores abordaram a importância de reduzir o uso de combustíveis fósseis. “O problema está posto. As temperaturas estão aumentando e o mapeamento de risco é central para definir os impactos emergenciais e as soluções possíveis associadas aos eventos climáticos. Precisamos reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis. Para tal, necessitamos de transformações urgentes e sistêmicas, olhar a produção e as transformações das cadeias produtivas, para garantir um futuro resiliente com emissões líquidas zero”, alertou Jean Ometto, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e integrante da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
Jean Ometto, pesquisador do Inpe (foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)
Marcos Buckeridge, integrante do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) da Universidade de São Paulo (USP), listou seis iniciativas para a descarbonização: “Diminuir o uso de combustíveis fósseis, aumentar a produção de biocombustíveis, produzir eletricidade suficiente para a eletrificação da frota, diminuir as emissões por desmatamento, avançar nas tecnologias agrícolas e acompanhar e modelar o processo de descarbonização”, disse.
Marcos Buckeridge, integrante do RCGI (foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)
“O que é factível para enfrentar as mudanças climáticas? Energia eólica, solar, bioenergia, armazenamento de eletricidade [baterias], captura de carbono e a energia nuclear”, completou.
Buckeridge alerta que, embora muito se diga que a indústria do petróleo teria um prazo de apenas mais 50 anos, “nunca se sabe”. “Cada vez se acha mais petróleo. Um exemplo disso é o pré-sal. Portanto, a exploração de petróleo pode ser menos carbonizada. Existem vários elementos de phase out [interrupção gradual do uso] que são importantes. Como, por exemplo, aumentar a produção de biocombustíveis, acoplar os sistemas de bioenergia com o de captura de carbono, enterrar o CO2 emitido por biocombustíveis [captura de carbono], além de incrementar a produção canavieira, ou seja, usar menos área para produzir mais da planta e, por consequência, mais etanol”, afirmou.
A sessão “Mudanças Climáticas e Transição Energética” também abordou os seguintes temas: Os desafios científicos e tecnológicos da transição energética; Adaptação, mitigação e resiliência às mudanças climáticas; Economia circular e bioeconomia; Mudanças climáticas e biodiversidade; e Economia de baixo carbono. Outros participantes foram Paulo Artaxo (USP), Simone Miraglia (Universidade Federal de São Paulo) e Gonçalo Amarante Pereira (Universidade Estadual de Campinas).
Mais informações sobre a CECTI estão disponíveis em: fapesp.br/cecti.
O vídeo com as duas últimas sessões de sexta-feira (08/03) pode ser acessado em: www.youtube.com/watch?v=UE5Md5UlxWI.
Informações: Agência FAPESP.