Por Antonio Joaquim de Oliveira, CEO da Dexco e Presidente do Conselho Deliberativo da IBÁ
Não há dúvidas do sucesso do setor de árvores cultivadas para fins industriais brasileiro. Em poucas décadas, a silvicultura brasileira deixou de ser uma atividade de plantio de árvores ‘selvagens’, com técnicas de manejo e extração primitivas, para ser uma operação de alta complexidade, desde melhoria genética, passando por evoluídas técnicas sustentáveis de manejo, operações silviculturais tropicalizadas, além da colheita e transporte de madeira com alta produtividade e custos competitivos.
O setor não para de crescer, com investimento previsto de R$ 61,9 bilhões nos próximos anos. Tudo isso, com alta tecnologia, muitas delas desenvolvidas aqui no Brasil, sempre com atenção à responsabilidade social e aos cuidados ambientais.
O Relatório Anual IBÁ de 2022 apontou que o setor já atingiu 9,9 milhões de hectares de árvores cultivadas, com outros 6 milhões de hectares de matas nativas conservadas. Também gerou mais de R$ 244 bilhões em receita bruta.
São números grandiosos e que orgulham brasileiros e brasileiras, em especial os profissionais dessa cadeia produtiva. Mas estes dados também são acompanhados de um histórico recente desafiador.
A produtividade dos plantios, que entre as décadas de 1960 e 2000 teve constante aumento, praticamente estagnou após a década de 2010. No caso do Eucalyptus, que representa 75% das áreas cultivadas de árvores no Brasil, a produtividade era de 10 m3/ha/ano na década de 70 e pulou para 36m³/ha/ano, mas já enfrenta uma queda para 33m³/ha/ano.
Apesar de fatores influenciando nesse resultado, como a expansão do setor, levando o plantio para outras regiões e eventos climáticos, essa situação merece a atenção dos executivos do setor, com vistas ao abastecimento industrial futuro com custos e volumes sustentáveis. A produtividade ganha sentido de prioridade e demandará muito esforço, cooperação e disciplina.
Vale lembrar que, ao longo das últimas décadas, o setor teve desafios relevantes e encontrou soluções. No início da grande expansão, nos anos 1960 e 1970, foi necessária a introdução de muitas espécies, de diversas procedências, para o estabelecimento de plantios em diferentes condições edafoclimáticas. Nas duas décadas seguintes, o melhoramento genético destas espécies e o desenvolvimento das técnicas de hibridação e clonagem foram responsáveis por mais um salto.
Já nos anos 1990, o grande pacto foi pela mecanização, sendo iniciada na colheita, com avanços gigantescos. A partir dos anos 1990, os avanços nas técnicas de proteção florestal, seja para manejo de pragas e doenças, seja para o controle da matocompetição, foram essenciais para aumentar a competitividade dos plantios.
Todos estes avanços contaram com um traço em comum: a união de forças entre profissionais, empresas, academia e diversas outras instituições em prol do mesmo objetivo. Mais do que isso, um trabalho conjunto pelo setor de árvores cultivadas para fins industriais do Brasil.
É possível, entretanto, observar que nos últimos anos as empresas de base florestal têm estado mais fechadas, criando estruturas internas mais robustas de P&D, buscando objetivos particulares, além de estarem formando profissionais menos colaborativos setorialmente. Por vezes, a impressão que se tem é que empresas se preocupam mais em divulgar que estão à frente de inovações tecnológicas do que em cultivar com qualidade, produtividade e baixos custos.
É uma crítica dura, mas um fato quando comparamos com o trabalho realizado no passado para enfrentar os desafios. É certo que as regras de compliance evoluíram e melhoraram os processos, porém, também os tornaram mais burocráticos e acabam sendo utilizadas como justificativa, mais do que como garantia de proteção e segurança de possíveis trabalhos conjuntos.
O resgate e aumento da produtividade a patamares sustentáveis se mostra o grande desafio desta década e provavelmente avançará para as próximas. Fica o alerta de que a forma como o setor está organizado para enfrentá-lo não irá gerar resultados satisfatórios. Este é o momento dos profissionais exercerem seu papel de líderes e atuarem para engajar suas equipes no trabalho cooperativo. O desafio da produtividade das nossas árvores cultivadas não deverá ser enfrentado de maneira isolada.
Outra dor que deve ser sanada em conjunto é a formação de profissionais na gestão e especialidades técnicas da silvicultura. Assuntos que ainda são tratados de forma isolada precisarão ser encarados como se fossem políticas setoriais, como é o exemplo da utilização de OGMs (organismos geneticamente modificados).
O tema gera muita discussão entre profissionais da área, no entanto, esta diversidade de pensamentos sobre o assunto poderia ser endereçada de forma mais produtiva, com a união de forças para superar eventuais preconceitos. Há ainda outras oportunidades que podem ser caminhos até mais curtos, como o uso de edição gênica (CRISPR), uma técnica mais simples, ágil e com menor custo, que pode ser estudada para acelerar o desenvolvimento da engenharia genética com foco em resistência a doenças, tolerância a seca, entre outros.
Há muito conhecimento e estruturas dispersas dentro das diferentes empresas, universidades e institutos. Conectar esses saberes requer organização, planejamento, trabalho intenso e cooperativo. É claro que as ações devem se concentrar nas etapas pré-competitivas da produção da indústria de base florestal, mas é exatamente nesta perspectiva que há grande potencial de evolução, tendo o cultivo de árvores como base.
É o momento das empresas, por meio de instituições como IPEF (Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais), SIF (Sociedade de Investigações Florestais), entre outras, reforçarem seus vínculos entre si, e com universidades, com a Embrapa, com governos e com instituições internacionais. A Ibá exerce, e poderá exercer ainda mais, o papel de articuladora nesse sentido.
O aumento da produção sustentável de madeira deve ser o foco prioritário. A gestão deve se ajustar para não deixar que as entregas de curto prazo ofusquem o maior propósito que é sustentação da produção de madeira em longo prazo. O cenário é complexo, no entanto, muito motivador e promissor para a formação de profissionais, equipes e parcerias.
Temos um oceano de oportunidades em muitas frentes, novos usos, novos produtos como a celulose solúvel em roupas e a nanocelulose. Por isso, está na hora do setor resgatar e fortalecer seus laços para um novo pacto: a produtividade das árvores cultivadas. Não apenas visando o futuro de cada empresa, mas do setor, que é tão relevante para o país e para um mundo que enfrentam o tão complexo desafio das mudanças climáticas.