Organização alerta que temporada de seca ainda está em seu início, uma vez que os incêndios se concentram entre os meses de agosto e outubro, com pico em setembro
O clima é de alerta no Pantanal. Com chuvas abaixo das médias históricas desde o ano passado e a seca extrema impulsionada pelo El Niño, o bioma registrou neste ano um aumento de 898% no número de queimadas em comparação com o mesmo período de 2023. É o que aponta uma análise da ONG WWF-Brasil baseada em dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com 880 focos de queimada, o valor acumulado nos primeiros cinco meses de 2024 é o segundo maior dos registros nos últimos 15 anos, ficando atrás somente de 2020, quando foram reportados 2.128 casos.
O cenário de seca severa no bioma preocupa ambientalistas que ressaltam a possibilidade de aumento do número de incêndios de grande escala, comparáveis aos que devastaram 30% da área natural do bioma há quatro anos. No mês passado, foram registrados 246 focos de queimadas no Pantanal, contra 33 em maio de 2023. O material destaca que a preocupação se dá pelo fato de a temporada de seca ainda estar em seu início, uma vez que os incêndios no bioma se concentram entre os meses de agosto e outubro, com pico em setembro.
— Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números estão muito parecidos com o que tínhamos naquele ano — alerta Cyntia Santos, analista de conservação da WWF.
Santos diz ser preciso atuar rapidamente, reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais, para “evitar uma catástrofe”. A pesquisadora aponta que a falta de chuvas, a pouca quantidade de água no território e o acúmulo de matéria orgânica seca são características do solo pantaneiro que propiciam queimadas.
A análise indica que as chuvas escassas e irregulares nos primeiros meses do ano foram insuficientes para transbordar rios e conectar lagos e o Rio Paraná, o principal do bioma.
Os dados do Inpe apontam também o crescimento do número de focos de queimada em outros biomas brasileiros. Na Amazônia, foram registrados 10.647 casos nos cinco primeiros meses deste ano, um aumento de 107% em relação ao mesmo período no ano passado (5.103). O valor é 131% superior à média dos três anos anteriores (4.580).
Já no Cerrado, foram registrados 8.012 focos de queimadas nos cinco primeiros meses do ano, um aumento de 37% em comparação com o mesmo período do ano passado (5.850) e 35% superior à média dos três anos anteriores (5.956).
Especialista em conservação do WWF-Brasil, Daniel Silva ressalta a importância de políticas públicas de preservação de todos os biomas para o combate dos efeitos das mudanças climáticas.
— Os biomas são interdependentes quando se trata das consequências da crise climática. Assim, a conversão e o desmatamento do Cerrado geram desequilíbrios para a Amazônia e o Pantanal, afeta a disponibilidade hídrica em outros ecossistemas e contribui até tempestades como as que afetaram o Rio Grande do Sul no mês passado — aponta Silva.
Informações: O Globo.