Setor de cacau mira programa para conversão de pastos degradados

Indústria processadora e organizações querem que cacau em agrofloresta entre no programa de recuperação de pastagens do governo

O setor do cacau quer participar do programa de conversão de pastagens degradadas do governo federal. Segundo representantes do setor, o cultivo do fruto em sistemas agroflorestais dá retorno financeiro aos produtores que atualmente têm pastos degradados e atende à demanda da indústria, que quer se livrar da dependência de importações.

O Instituto Arapyaú, o CocoaAction Brasil e as indústrias processadoras pediram a representantes do governo a inclusão do cacau em agrofloresta no programa. Segundo eles, para cobrir a necessidade de importação da amêndoa pela indústria, de 60 mil a 70 mil toneladas ao ano, seria necessário converter 90 mil hectares de pastos em sistemas agroflorestais com cacau.

Essa área não chega a 1% dos de 40 milhões de hectares que o governo pretende que seja convertido. Além disso, o volume de cacau que a conversão permitiria produzir atenderia metade do objetivo do plano Inova Cacau 2030. O plano, lançado no fim de 2023 pelo governo federal com apoio do setor produtivo, prevê o estímulo para que a produção nacional saia das atuais 220 mil toneladas ao ano para 400 mil toneladas anuais, um aumento de 180 mil toneladas.

Carlos Augustin, assessor especial do Ministério da Agricultura e coordenador do comitê que cuida do programa, disse que todas as culturas são bem-vindas, mas que a prioridade agora é viabilizar a internalização dos recursos que o governo está atraindo para o programa.

A conta para realizar a transformação de pastos para agroflorestas não é barata, mas segundo seus defensores, faz sentido econômico para os produtores.

Cálculos do Instituto Arapyaú indicam que transformar solos degradados em sistemas agroflorestais com cacau custa de R$ 37 mil a R$ 38 mil por hectare. Esse custo leva em conta um sistema com produção de açaí e castanha, por exemplo, segundo Vinicius Ahmar, gerente de bioeconomia do Arayaú. Se outras culturas forem adicionadas ao consórcio, o custo pode subir para até R$ 50 mil o hectare.

“Mesmo assim, todos os sistemas têm viabilidade financeira”, defende. Essa perspectiva, ressalta, não depende do atual preço do cacau, que disparou no último ano e chegou recentemente ao recorde de mais de US$ 11 mil a tonelada, e agora voltou para perto de US$ 7.000 a tonelada — patamar ainda muito elevado historicamente.

Segundo Ricardo Gomes, gerente de desenvolvimento territorial do Arapyaú, a receita adicional para o setor que pode ser gerada com a conversão de 90 mil hectares de pastos para sistemas agroflorestais com cacau pode oscilar entre R$ 3 bilhões e R$ 4,5 bilhões, a depender dos resultados de produtividade. “Os sistemas agroflorestais com cacau fecham a conta, rentabilizam o produtor, agregam para a conservação, para a manutenção de serviços ecossistêmicos e geram receita para o país.”

O desafio, segundo Ahmar, é o acesso a crédito nas condições adequadas para investir em agroflorestas, o que significa sobretudo uma carência dilatada, adequada ao tempo em que as culturas começam a produzir. Um açaizeiro, por exemplo, começa a dar frutos no terceiro ano, e um cacaueiro, em cinco. “É necessário ter linhas customizadas”, acrescenta Gomes.

Segundo ele, mesmo o Pronaf Agrofloresta não atende à necessidade de investimento em um sistema com cacau. “O sistema agroflorestal pode até começar com culturas temporárias que geram receita no início, mas o que segura o modelo são as perenes”, avalia.

Informações: Canal Rural.

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