*Artigo de Paolo Sartorelli, engenheiro florestal na Baobá Florestal.
A semeadura direta começou a ganhar destaque nos últimos dez anos em projetos de restauração ecológica de florestas e cerrado. Com o advento das mudanças climáticas e os projetos de carbono de ARR, o método de semeadura direta tem despertado o interesse de empresas e setores do agro nos últimos três anos.
Mas afinal, como é feita a floresta de sementes? É uma das várias formas possíveis de semeadura direta de espécies nativas, no entanto em alta densidade, variando entre 50 e 100 kg de sementes por hectare, resultando em média de 5 mil a 15 mil mudas nascidas das sementes após 1 a 2 anos. Pode parecer um desperdício de sementes, mas não é. A semeadura direta é um processo agrícola, e, portanto, não podemos olhá-lo com os olhos da silvicultura. Assim, não é possível equiparar uma semente a uma muda, pois são formas de vida diferentes e, por isso, o processo de plantio também é distinto. Precisamos adotar uma visão agrícola para compreender a floresta de sementes.
Uma questão que é impossível de separar entre os métodos de plantio de mudas e a semeadura direta é o custo. Esse custo é sempre calculado por hectare, e, como um princípio da restauração ecológica é considerar a trajetória da restauração, o custo invariavelmente está incluído. Hoje, no estado de São Paulo, o custo do plantio de uma muda varia entre R$ 25 a R$ 45, com cuidados até o segundo ano. Já na floresta de sementes, com uma média de 15 mil mudas por hectare, o custo é de aproximadamente R$ 0,82 por muda nascida das sementes e cuidada até o segundo ano.
Para mostrarmos como isso é possível, apresentamos os resultados de um experimento prático realizado pela Baobá Florestal em parceria com a SEAP – Eucalipto Tratado e a Biodiversitá – Tecnologia Microbiana.
Experimento Prático
Características do projeto:
- Bioma: Cerrado, em Monte Alegre de Minas/MG para restauração de reserva legal;
- 16 hectares;
- Fitofisionomia: Transição de floresta para cerrado denso;
- 4 tratamentos sendo eles: (1-Sementes; 2-Sementes+NPK; 3-Sementes+Bactérias e 4-Sementes+NPK+Bactérias;
- Etapas: 4 repetições;
- Período de implantação: novembro de 2022.
Resultados
Quantidades de mudas por hectare
Tratamento | Média de mudas (ind./ha) |
Sementes + NPK + Bactérias | 19.850 |
Sementes | 14.975 |
Sementes + NPK | 14.588 |
Sementes + Bactérias | 11.375 |
Mudas Convencionais | 1.667 |
A incorporação de uma comunidade bacteriana associada à aplicação de fertilizantes minerais (NPK) resultou em um incremento significativo no número médio de mudas por hectare. O plantio utilizando apenas sementes teve melhor desempenho em comparação ao plantio de sementes associado com NPK. A associação de bactérias com sementes sem a introdução de NPK apresentou o menor desempenho, indicando a importância da integração das práticas ambientais agrícolas e silviculturais na restauração florestal.
Tratamento | Altura Média (cm) |
Sementes + NPK + Bactérias | 92,17 |
Sementes + NPK | 87,51 |
Sementes + Bactérias | 82,09 |
Sementes | 81,49 |
A altura das mudas também teve a melhor performance com a associação de bactérias do solo e NPK. Apesar do número de mudas no tratamento com apenas sementes ser o segundo melhor em densidade, a altura não correspondeu, ficando em média 10 cm menor que o tratamento completo, o que demonstra que vale a pena investir em insumos na semeadura direta.
Custo por muda e por hectare
Os custos englobam: Todas as mecanizações, todos os insumos (bactérias, sementes, NPK e herbicidas) consultoria e manutenções. Não houve qualquer tipo de irrigação artificial no experimento, apenas a precipitação natural da região.
Tratamento | Custo por muda (R$) |
Sementes + NPK + Bactérias | 0,60 |
Sementes | 0,80 |
Sementes + NPK | 0,82 |
Sementes + Bactérias | 1,05 |
Mudas Convencionais | 25,00 |
Os resultados mais interessantes desse experimento foram os custos. Todos os tratamentos apresentaram custos por muda inferiores a R$ 1,00 até 1,5 anos. O custo médio da muda convencional cuidada até o segundo ano é de R$ 25,00. Isso demonstra uma redução radical de custos com a semeadura direta, tornando-a uma opção viável para a restauração de florestas e cerrados em larga escala, seja para atender à legislação ou para projetos de carbono. O tratamento completo com bactérias e NPK novamente indica que precisamos sim fazer um aporte de insumos na semeadura direta para termos resultados mais efetivos em campo.
Conclusão dos Resultados
Os resultados obtidos no experimento realizado pela Baobá Florestal em parceria com a SEAP Eucalipto Tratado e a Biodiversitá, evidenciam o potencial da semeadura direta como uma alternativa viável e econômica para a restauração ecológica de florestas e savanas. A combinação de sementes com a aplicação de fertilizantes minerais (NPK) e bactérias do solo resultou no maior incremento de mudas por hectare e maior altura média, superando significativamente os métodos tradicionais de plantio de mudas.
A semeadura direta demonstrou não apenas ser eficiente em termos de densidade e altura das mudas, mas também apresentou uma expressiva redução de custos, com valores significativamente inferiores aos métodos convencionais de plantio de mudas. Enquanto o custo médio por muda convencional é de R$ 25,00, os tratamentos de semeadura direta apresentaram custos por muda que variaram de R$ 0,60 a R$ 1,05, tornando esta técnica uma opção extremamente atrativa para projetos de restauração em larga escala.
A análise dos diferentes tratamentos mostrou que a integração de práticas agrícolas e silviculturais é fundamental para otimizar os resultados na restauração ecológica. A aplicação de NPK em conjunto com bactérias do solo favoreceu tanto o estabelecimento quanto o crescimento das mudas, reafirmando a importância de um manejo integrado que considere os ciclos biogeoquímicos do solo.
Em suma, a floresta de sementes se apresenta como uma nova fronteira na redução de custos e aumento da eficiência na restauração de ecossistemas. A Baobá Florestal, ao investir em pesquisas e experimentações, reafirma seu compromisso com a sustentabilidade e inovação, contribuindo para a construção de um futuro mais verde e sustentável.
Linha do tempo: do plantio ao monitoramento
Baobá Florestal – A Baobá Florestal foi fundada em 2010 em Barreiras, oeste da Bahia. É especializada na consultoria técnico-científica, produção acadêmica de livros especializados em flora, desenvolvimento de políticas públicas para a área ambiental, identificação de espécies e inventário florestal e projetos de restauração ecológica. Pelos seus longos anos de atuação, a Baobá Florestal tem expertise e qualificação necessária para o atendimento das demandas de serviços/consultorias na área ambiental. Saiba mais: https://www.baobaflorestal.com.br/.
Biodiversita – A Biodiversita – Tecnologia Microbiana é uma empresa especializada no desenvolvimento de tecnologias para os setores agrícola e ambiental que utilizam como matéria-prima micro-organismos da diversidade nacional adaptados às condições climáticas brasileiras. Saiba Mais: https://biodiversita.com.br/.
SEAP – Eucalipto Tratado – A SEAP foi fundada em outubro de 1971 na cidade de Uberlândia / MG – Brasil. Iniciamos nossas atividades tendo como foco a produção de florestas plantadas de eucalipto, um recurso renovável. Todo o processo de diversificação de seus produtos se intensificou a partir do ano de 2.000 quando foi implantado através de Pesquisa & Desenvolvimento, a UPM –USINA DE PRESERVAÇÃO DE MADEIRA, um moderno processo de tratamento de madeira autoclavado. Em mais de 40 anos de existência, ampliamos nossa oferta de produtos, estabelecemos nossa tradição e ganhamos reconhecimento do mercado brasileiro. A SEAP atende a todo território nacional oferecendo produtos para as mais variadas aplicações. Saiba mais: https://seap.com.br/
*Paolo Sartorelli é engenheiro florestal pela Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal de Garça/ SP (FAEF) e especialista em Restauração, Licenciamento e Adequação Ambiental pela UFSCAr Sorocaba, atua com restauração de florestas e savanas, levantamentos da flora brasileira dos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia. Também é autor de quatro livros de plantas da flora, entre eles um do estado de Mato Grosso. Trabalhou no inventário de árvores do Parque do Ibirapuera em São Paulo/SP. Atuou na construção de políticas públicas em Mato Grosso, auxiliando nas definições de indicadores de restauração para o Estado. Atualmente trabalha na gestão de empresa de serviços florestais, elaboração, execução, coordenação e gerenciamento de restauração florestal e de cerrado, diagnóstico ambiental de áreas degradadas, inventários, monitoramento de áreas restauradas, levantamento florístico, levantamento botânico, identificação de espécies, formação de rede de coletores de sementes, área de preservação permanente (APP), educação ambiental. Especialista em restauração pela técnica de plantio por semeadura direta Floresta de Sementes. Participação em Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (PD) na área de Vegetação para Equatorial Energia, sediado em São Luís do Maranhão/MA, com enfoque na vegetação arbórea para subsidiar e apoiar a criação de Inteligência Artificial (I.A.) para identificação de espécies presentes na arborização da capital maranhense.