Localizada em Linhares, no Norte do Espírito Santo, a fazenda desenvolveu estratégias para causar o mínimo de impacto ambiental na produção de cacau, além de prezar pelo bem-estar e qualidade de vida dos funcionários
Administrar uma fazenda com cerca de 600 hectares já seria um desafio para qualquer pessoa. Mas o produtor rural Vanderlei Ceolin decidiu ir além. Com a propriedade localizada em Linhares, na Região Norte do Espírito Santo, o profissional se dedica ao cultivo de cacau sustentável por meio de uma irrigação eficiente, redução de agrotóxicos e até moradia para garantir o bem-estar dos funcionários.
Fazenda do Norte do ES investe na produção de cacau sustentável e tem até moradia para trabalhadores — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Com cerca de 130 trabalhadores fixos, a fazenda conta com 80 moradias para os funcionários. Um deles é o tratorista Wanderson Chagas da Silva.
“A gente não precisa tá pagando aluguel, não precisa tá se locomovendo de Linhares, acordar muito cedo pra vir pro trabalho. Aqui a gente acorda mais tarde, descansa mais um pouco”, disse o tratorista.
Patrícia Vieira da Silva é a primeira tratorista mulher de fazenda que produz cacau sustentável no Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
A valorização do trabalhador, no entanto, passa também pelo investimento em capacitação. A tratorista Patrícia Vieira da Silva começou a trabalhar na colheita da fazenda e logo se tornou a primeira mulher tratorista da plantação. Logo em seguida, a profissional também indicou a filha, que já trabalha na propriedade.
“Hoje, eu tô feliz, porque o que eu não tive lá atrás eu estou tendo agora, é um novo recomeço. E também abrindo portas para outras mulheres estarem trabalhando, como eu. Quem ainda não estava no trator, quando me vê fala: ‘eu posso, eu posso’ . E já até conseguiu oportunidade também”, disse Patrícia.
Responsabilidade ambiental
Cacau sustentável produzido em fazenda no Norte do Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Mas esta é apenas das iniciativas da fazenda, voltada para o desenvolvimento social dos trabalhadores envolvidos na produção de cacau da fazenda. Isso porque quando trata-se de sustentabilidade, outros dois pilares estão envolvidos, que é a responsabilidade ambiental e retorno econômico do negócio.
É por isso que Vanderlei também preza pela preservação do meio ambiente de diversas formas, como na eficiência da irrigação, na redução do agrotóxicos e no reaproveitamento dos resíduos gerados.
Irrigação da lavora é por meio do sistema de gotejamento em fazenda sustentável do Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Nos últimos anos, o produtor investiu no sistema de gotejamento, capaz de fazer o controle do uso da água, oriunda de uma lagoa próxima. Em seguida, por meio de centrais de abastecimentos, a lavoura é irrigada.
Já em relação aos resíduos, o produtor explicou que todos são reaproveitados e transformados em adubo por meio de uma mistura com esterco de galinha.
Outro diferencial é o combate às pragas, feito por meio do controle biológico ao usar bactérias produzidas em uma laboratório dentro da propriedade. A iniciativa tem o objetivo de eliminar os agrotóxicos da cadeira produtiva.
“Quando você usa produtos químicos, você deteriora muito o solo. Então, você tem um ganho durante três, quatro anos, mas depois você entra em um processo de degradação”, disse o produtor.
Laboratório em fazenda no Norte do Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Uma particularidade da propriedade também foi a implantação de um Sistemas Agroflorestais (SAF’s) por meio do plantio de seringueiras associado ao cacau. A técnica ajuda a melhorar o equilíbrio do ecossistema.
“A seringueira, além de fazer uma proteção de vento, faz também o sombreamento. Porque o cacau precisa de um pouco da quebra da sombra e também não resiste ao vento”, disse Vanderlei.
Exigência do mercado
Produção de cacau sustentável em fazenda no Norte do Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
De acordo com o presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Franco Fiorot, essas adaptações são exigências do mercado nacional e internacional.
“O mercado consumidor quer qualidade do produto. Mas, além dessa qualidade, quer responsabilidade neste consumo. Isso tem ficado cada vez mais forte em mercados consumidores, como Estados Unidos, Europa e até aqui mesmo”, explicou Franco.
Cacau é a matéria-prima do chocolate. Fazenda do Espírito Santo investe em sustentabilidade. — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Franco disse ainda que essa responsabilidade tem diversos pilares, como o retorno econômico, a dignidade das famílias, além das questões sociais.
“É fundamental atender à legislação vigente e também a questão da responsabilidade ambiental, preservando e conservando esses produtos naturais que fazem parte desse ambiente produtivo”, finalizou.
Outras fazendas
Para expandir esse projeto de sustentabilidade para outras lavouras de cacau, a Associação dos Cacauicultores do Espírito Santo (ACAU) está acompanhando outros produtores rurais que querem, assim como o Vanderlei, implantar estratégias de cultivo sustentável.
Produção de cacau sustentável no Norte do Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
De acordo o presidente da ACAU, André Luiz Scampini, a associação está treinando produtores que a obtenção do certificado de produção orgânica.
“Além de não agredir o meio ambiente e contribuir para a a economia e distribuição de renda do trabalhador do campo, existe toda a questão produtiva do cacau. O cacau é cultivado objetivando a extração da amêndoa para fazer chocolate, mas existem outros produtos que estão surgindo a base do cacau, como aguardente, geleia de cacau, pasta de cacau, entre outros . Isso gera oportunidade de negócios”, disse André.
Informações: G1/ES.