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REDD, PSA e a oportunidade do Brasil com carbono nas florestas

O mundo reconhece que uma das mais significativas contribuições que o Brasil pode dar no contexto das mudanças climáticas é a manutenção de suas florestas. Assim como sua ampliação

Temos, no Brasil, as maiores reservas do mundo de carbono estocado distribuídas por nossas florestas e seus solos – em todos os biomas. Para contribuir com a manutenção desse estoque, fundamental para todo o planeta, contamos com uma legislação diferenciada, que determina que o proprietário rural deve manter parte do território conservado (de 20% a 80%, a depender do bioma), além de criar diversos outros tipos de reservas florestais públicas e privadas.

Manter os territórios com florestas exige muito trabalho e, consequentemente, gera custos. Não somente para defender a área de possíveis atos ilícitos, como grilagem e corte ilegal de madeira. Mas também para gerenciar os efeitos das emergências climáticas e seus eventos extremos – que causam cada vez mais incêndios, chuvas torrenciais que ocasionam deslizamentos – ou o fator mais dramático e que, ano a ano, vai se ampliando: os processos de desertificação e de savanização.

Recentes notícias mostram que parte significativa de nossa Caatinga está se transformando em área árida (deserto!) e outras notícias mostram que a Amazônia está se transformando em Cerrado (savana). Ou seja, parte do carbono que estava estocado nesses biomas viraram gás e contribuíram para o aumento das emissões e do efeito estufa.

Nesse cenário, são necessários esforços para manter a floresta em pé, minimizando sua degradação. E, para isso, é preciso ilustrar que a floresta funciona como um só organismo vivo. Se tivéssemos estabilidade climática, a integração entre fauna, flora e serviços ecossistêmicos faria com que a renovação florestal natural mantivesse cada bioma como os conhecemos. Mas, infelizmente, o aquecimento global faz com que esse processo se modifique, gerando mudanças no ciclo de perpetuação da floresta e perda de biomassa, que se transforma em gás de efeito estufa.

O REDD florestal é uma metodologia que gera créditos de carbono pelo esforço do proprietário conservacionista em evitar o desmatamento e, consequentemente, as emissões de carbono derivadas da supressão florestal. Infelizmente, alguns países querem utilizar a tese de emissões evitadas em relação ao não uso de seus recursos fósseis (petróleo e carvão)… Ora, a floresta é um organismo vivo, que precisa do esforço para sua manutenção na biosfera e, por isso, merece receber os créditos de carbono.

Os recursos fósseis estão estabilizados em seus depósitos. Colocando de outra maneira: se simplesmente nada for feito em ambos os casos, os fósseis continuam estocados com a mesma quantidade de carbono. Já a floresta só perde, pois está acima do solo sofrendo interferências de curto prazo e a pressão das mudanças climáticas, ou seja, perde e emite carbono.

Outro caminho é a geração de créditos de carbono com base na legislação de Pagamento por Serviços Ambientais, o PSA. O conceito parte do princípio de que a dinâmica das florestas fornece serviços ecossistêmicos, como a segurança hídrica. Com a possibilidade prevista em lei de gerar créditos de carbono a partir desse entendimento, já foram desenvolvidas metodologias que levam em consideração a trajetória de perda de biomassa devido à degradação causada pelo aquecimento global, que pode ser parcialmente mitigada pelos esforços adicionais de proprietários conservacionistas engajados na manutenção dos biomas.

O mundo reconhece que uma das mais significativas contribuições que o Brasil pode dar no contexto das mudanças climáticas é a manutenção de suas florestas. Assim como sua ampliação. Como consequência, vem a responsabilidade de garantir um mercado seguro, que garanta a confiabilidade e integridade dos créditos gerados, sem espaço para projetos que maculem esforços essenciais para a agenda climática global.

E é, sim, possível conciliar a integridade dos projetos com a atratividade econômica. Prova disso é o estudo da consultoria global McKinsey, que mostra que, só no Brasil, o mercado da economia do clima seja de 125 bilhões de dólares. Isso reforça a necessidade de esforços de governos e entes interessados no processo em defender metodologias como REDD e PSA, no âmbito do comércio voluntário e nos acordos firmados nas COPs. Afinal, é o mundo que precisa das florestas.

David Canassa — Foto: Divulgação
David Canassa — Foto: Divulgação

*David Canassa é diretor da Reservas Votorantim, empresa da Votorantim especializada em gestão de territórios e soluções baseadas na natureza para negócios tradicionais e da nova economia e coautora no desenvolvimento da metodologia PSA Carbonflor.

Informações: Um Só Planeta.

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Créditos de carbono florestais são os mais eficazes, diz estudo

Do ponto de vista da ciência, preservação e restauro de florestas tropicais oferecem o melhor benefício climático entre as soluções baseadas na natureza

De um ponto de vista estritamente climático, as atividades geradoras de créditos de carbono mais comuns no Brasil – desmatamento evitado e reflorestamento – estão entre as mais eficazes soluções de combate ao aquecimento global baseadas na natureza.

Essa foi a conclusão de uma revisão de artigos científicos publicada no final de março na revista Nature Climate Change.

Especialistas de 11 instituições, incluindo Universidade Columbia e duas das maiores ONGs ambientais do mundo, Environmental Defense Fund (EDF) e The Nature Conservancy, analisaram a produção acadêmica relacionada a 43 atividades que reduzem ou removem gases de efeito estufa.

O paper não se debruça nem tenta analisar os méritos individuais das várias alternativas existentes. O painel de 27 pesquisadores se baseou na literatura disponível para determinar quais atividades têm mais respaldo científico e, portanto, deveriam ser priorizadas com recursos.  

O resultado do trabalho é uma matriz que cruza o impacto potencial das atividades (em termos de redução ou remoção de carbono) com o grau de confiabilidade de cada uma delas.

Conservar ou restaurar florestas temperadas ou tropicais ­– a amazônica é a maior de todas – apresenta a melhor relação entre esses dois indicadores.

Em outras palavras, são as estratégias que combinam benefício climático com um maior grau de certeza científica em relação a reduções ou remoções de carbono.

“Há uma enorme proliferação de soluções climáticas baseadas na natureza, e muitas delas já têm protocolos para a geração de créditos de carbono”, disse ao Reset Doria Gordon, pesquisadora-sênior do EDF e uma das autoras do estudo.

“Queremos acelerá-las, mas não podemos depender de rotas que ainda não entendemos plenamente”, afirma Gordon. “Em vários casos a ciência ainda não é conclusiva.”

Atividades como a preservação e restauração de corais foram consideradas as de menor impacto e confiabilidade. Métodos como restauro de áreas pantaneiras, rotação de culturas agrícolas e manejo de pastagens ficaram no meio do caminho.

Os motivos variam: em alguns casos ainda há poucos estudos científicos sobre o assunto; em outros, houve divergência entre os pesquisadores consultados. 

Nesses casos, são necessárias mais pesquisas, argumentam os autores. Soluções “sem forte sustentação científica ameaçam a contabilidade global [de carbono], potencialmente superestimando benefícios climáticos futuros e minando a confiança nas soluções naturais rigorosas”.

Ressalvas

As conclusões devem ser lidas pelo que são, afirma a pesquisadora. Em primeiro lugar, elas representam um apanhado da literatura científica existente e levam em conta apenas o benefício do carbono.

Isso não significa que a proteção de corais ou a agricultura de baixo carbono não tragam outros ganhos, seja de biodiversidade ou sociais.

O segundo ponto, e talvez mais crítico, é que uma sólida fundação na ciência não garante bons projetos geradores de créditos.

Já existem evidências suficientes sobre a capacidade de armazenamento de CO2 das árvores da Amazônia e as maneiras de medir as mudanças nas paisagens remotamente, usando imagens de satélite, afirma Gordon.

“O que não fica claro é se estamos implementando bem os projetos. E são coisas muito diferentes. Só podemos contar com essas soluções [no combate à mudança climática] se elas forem feitas do jeito certo.”

De “superfaturamento” de carbono a exploração de populações indígenas e comunidades locais mancharam a reputação do mercado, no qual empresas compram esse tipo de crédito voluntariamente para compensar suas emissões.

Várias medidas de autorregulação, tanto do lado da geração dos créditos quanto do lado dos compradores, vêm sendo desenvolvidas globalmente para recuperar a credibilidade desse instrumento.

Gordon afirma que a confiança científica anda em paralelo com a mercadológica. Com a ressalva de que seu olhar é acadêmico, ela afirma que o setor avançou nas últimas duas décadas.

“Acho que os padrões atuais aprenderam com os erros do passado. Se os investidores insistirem neles, a confiança vai retornar.”

Ao mesmo tempo, a solidez científica das atividades não pode ser ignorada. Gordon aponta as turfeiras, tipicamente consideradas um grande sumidouro de CO2.

Esses ecossistemas são normalmente inundados e formados por camadas de matéria orgânica parcialmente decomposta, o que explica as grandes quantidades de carbono armazenadas.

Mas em algumas partes do planeta o nível da água nas turfeiras vem caindo ou apresentando grandes variações. Com secas prolongadas ou incêndios, as turfeiras podem se tornar emissoras em vez de sequestradoras de carbono.

Esse é o tipo de incerteza, potencializada pelas mudanças no clima, que o estudo tentou capturar.

Não se trata de determinar por quanto tempo aquele CO2 está “seguro”, mas sim entender que talvez faça mais sentido investir em outras soluções cujos riscos são mais bem compreendidos, afirma a pesquisadora.

Informações: Capital Reset.

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Embrapa divulga estudo sobre armazenagem de carbono em florestas de eucalipto

De acordo com a pesquisa, os plantios de florestas de eucalipto podem armazenar grandes quantidades de carbono na biomassa da parte aérea e no solo

De acordo com uma pesquisa coordenada pela Embrapa Cerrados, no Distrito Federal, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), os plantios de florestas de eucalipto são capazes de armazenar grandes quantidades de carbono na biomassa da parte aérea e no solo, bem como as áreas de Cerrado nativo, contribuindo com a mitigação dos gases de efeito estufa (GEE), em especial o gás carbônico (CO2).

Os dados coletados revelaram elevados níveis de carbono em plantios de eucalipto e em uma área de vegetação natural analisados (acima de 183,99 toneladas por hectare – t/ha), acumulado principalmente no solo, demonstrando que a espécie pode contribuir para a fixação de mais de 674,17 t/ha de CO2.

Nesse sentido, as árvores podem atuar como drenos de carbono, fixando grande quantidade de carbono pelo processo de fotossíntese e o alocando na biomassa da parte aérea (tronco e copa), nas raízes e na adição de resíduos orgânicos ao solo. Conforme outras pesquisas já revelaram, de modo geral, as florestas têm papel fundamental não apenas no ciclo do carbono, mas também contribuem para minimizar o aquecimento global reduzindo a circulação de GEE como óxido nitroso (N2O), metano (CH4) e gás carbônico (CO2).

O estudo foi realizado na zona rural do Paranoá (DF) em áreas vizinhas com dois plantios de eucalipto, sendo uma espécie de quatro anos e a outra com seis anos, além de uma área de Cerradão – uma das formações vegetais de Cerrado. O objetivo era quantificar o estoque de carbono e a biomassa por compartimentos em plantios de eucalipto (híbrido Eucalyptus urophylla x Eucalyptus grandis) de diferentes idades e estimar –  por métodos diretos e indiretos – a biomassa e o estoque de carbono de uma área com vegetação nativa de Cerrado.

CARBONO DAS ÁRVORES

Durante a pesquisa, as espécies nativas demonstraram diferentes capacidades de armazenamento de biomassa e carbono. No eucalipto, a madeira é a parte da planta que mais acumula biomassa e carbono, enquanto nas demais partes, como a casca, folhas e galhos, o acúmulo varia de acordo com as características da área estudada.

Também foi identificado que o estoque de biomassa e o armazenamento de carbono aumentaram com a idade do plantio das árvores. No eucalipto de quatro anos, o carbono e a biomassa acumulados na parte aérea foram respectivamente de 62,1 t/ha (27,5% do total) e 141,1 t/ha, enquanto no plantio com seis anos foram de 81,7 t/ha (37,78% do total) e 189,7 t/ha.

Nas três áreas estudadas, a principal reserva de carbono foi encontrada no solo, que fixou cerca de 68% nas áreas de eucalipto de quatro anos, 58% eucalipto de seis anos e 84% do carbono total de Cerrado nativo.  Observou-se ainda que a concentração total de carbono no solo diminui exponencialmente com a profundidade.

Já as raízes tiveram menor contribuição para o armazenamento total de carbono – 4,9 t/ha na área com eucalipto de quatro anos, 1,9 t/ha no eucalipto de seis anos e 3,1 t/ha no Cerrado nativo, considerando uma profundidade de 0 a 60 cm de profundidade, o que representa, respectivamente, 2,16%, 0,88% e 1,68% do carbono total nas áreas analisadas.

A publicação do estudo na íntegra está disponível neste link.

Informações: Portal da Celulose.

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