Levantamento traz dados atualizados do cultivo no país. Especialista faz panorama sobre o mercado promissor no segmento, porém, alerta para cautela

O Mogno Africano é uma árvore exótica, cuja madeira é considerada nobre e de alta demanda no mercado. Essa matéria-prima é amplamente utilizada nas indústrias moveleira, de construção civil, além de ser fundamental para a produção de painéis, escadas, portas, instrumentos musicais, peças ornamentais de luxo e na indústria naval. O termo ‘mogno africano’ abrange diversas espécies do gênero Khaya, sendo as mais conhecidas a senegalensis, a grandifoliola e ivorensis. Com exclusividade ao Mais Floresta (www.maisfloresta.com.br), Milton Dino Frank Junior, consultor florestal na ABPMA, enviou um levantamento inédio no país, que concluiu recentemente: Censo 2024 sobre o cultivo de mogno africano no Brasil.

Embora o cultivo intenso de Mogno Africano no Brasil seja recente (a partir de 2012), e registros de plantios pioneiros pequenos na década de 80, as projeções indicam um cenário promissor. Milton, que também é entrevistador e gestor do canal Youtube do portal Floresta em Foco (https://www.youtube.com/results?search_query=milton+frank+jr), ressalta sobre lucratividade na adesão ao cultivo da espécie: “Quem plantar mogno africano e vender a madeira em tora terá um lucro muito parecido com a cultura do eucalipto. Quem vender madeira serrada poderá lucrar no máximo até R$400.000,00 por hectare plantado, e quem agregar valor a madeira transformando-a em móveis, utensílios de decorações, lambri, piso para decks, e outros produtos semelhantes, este poderá também obter um lucro bem interessante”. Clique aqui e confira a tabela de preços do Khaya Grandifoliola de desbaste.

Espécies identificadas no Censo 2024 de mogno africano no Brasil. Os dados são referentes a maio de 2021 a agosto de 2024. Entre os estados, Minas lidera o ranking de cultivos, com 15.450 ha, seguido por São Paulo com 11.430 ha e Pará com 9.245 ha.

Espécies identificadas no Brasil (Khaya):

  • Grandifoliola
  • Senegalensis
  • Anthotheca
  • Ivorensis

Milton informa que no levantamento feito, foram localizadas quatro espécies do mogno africano no país (plantios com mais de 1 hectare). No total o gênero Khaya tem 12 espécies.

Espécies que ainda não chegaram no Brasil:

  • Agboensis
  • Europhylla
  • Comorensis
  • Madagascariensis
  • Nyasica
  • Khaya sp

Ainda de acordo com o especialista, há mais duas novas espécies que o botânico africano Dr. Gaël Dipelet, que atua como pesquisador para as universidades UMNG (República do Congo) e UPMC (França) descobriu recentemente e que tão logo deverá publicar um trabalho para estas espécies serem reconhecidas.

Milton se destaca como um dos principais especialistas no cultivo do mogno, e para a redação do Mais Floresta esclareceu os desafios da elaboração do Censo e a relevância dos dados para o setor. 

MF – Como foi o processo para montar o Censo do Mogno Africano no Brasil 2024? Este é um levantamento pioneiro no país? E quais as principais motivações?

Milton – Há 40 anos atuo na silvicultura, há 14 presto serviços de implantação de florestas de mogno, e há 12, estou na ABPMA, atuando com benemérito, e como consultor florestal. Então tenho envolvimento com este universo do mogno há tempos. Utilizei recursos que tinha, bem como grupos de WhatsApp e mailing de e-mails com produtores e empresas. Quanto aos viveiros que produzem mudas de mogno eu levantei na internet e nesses grupos, perguntando sempre de onde as mudas plantadas eram: se feita por eles ou compradas de que viveiro. Os fornecedores de sementes eu fui conhecendo nos grupos, e muitos deles vieram até a minha pessoa para oferecer as sementes.

Tenho amigos e conhecidos que plantam mogno ou trabalham com silvicultura em todos os estados do Brasil. E através dessa rede de contatos, meu trabalho foi listar num papel tudo o que eu consegui de informação, disparando e-mails com um questionário para um mailing nichado, e que crescia ao passar dos meses. Com o recebimento dos dados eu ia compilando as informações.

Para não errar muito as estimativas joguei ainda um coeficiente de segurança para menos a fim de ter um número um pouco menor. Descontei percentual de mortalidade de mudas, de sementes que não germinam, de compradores de sementes e mudas que desistem dos plantios, e outros detalhes práticos do dia a dia, e finalmente cheguei a este número. Assim a margem de erro se aproxima ao máximo de 8% a menos do que está plantado no Brasil hoje.

Quanto ao intuito, foi devido à necessidade da ABPMA e os produtores saberem o quanto de mogno há no Brasil, e estarem atualizados, já que há uma indiferença perante órgãos como o IBGE, pois já havíamos solicitado esses dados. 

MF – O que podemos encontrar no Censo?

Milton – Dados de plantações de 273 produtores de mogno, dos quais que tenho o contato, e que colaboraram para a conclusão deste trabalho.

Um cálculo de todas as mudas produzidas por 63 viveiros que fazem mudas de mogno no Brasil com o desconto da origem das mudas destes produtores.

E a quantidade de sementes produzidas pelos fornecedores foi para descobrir quem andou produzindo mudas sem eu saber onde.

Com estes dados e mais o auxílio da matemática eu cheguei ao Censo.

MF – Quais os percalços encontrados para a preparação do documento, e quanto tempo levou para ser feito?

Milton – Na realidade tive muito trabalho e muita conta para fazer, durante cerca de três anos para este primeiro trabalho em específico. Havia dias que eu varava a noite sem sentir e quando olhava o relógio já eram 10 horas da manhã e eu voltava para o trabalho, e quando conseguia uma pausa nos finais de semana eu ia dormir.

Há previsão para uma nova edição?

Milton – Eu pretendo atualizar estes dados todos os anos, mesmo porque agora será mais fácil. Periodicamente tenho recebido informações de empresas e produtores de novos plantios. Chega a ser de dois a três e-mails por semana.

MF – Em resumo, na indústria de base florestal, qual a representatividade desta espécie na economia do país atualmente?

Milton – O mogno africano é uma madeira nobre. Dela se faz móveis, projetos de construções, utilidades (tábua de churrasco, porta salgadinhos, adornos, enfeites, etc…), lenha com os pedaços que não dá para aproveitar na serraria, madeira serrada, serragem e uma enorme variedade de outros produtos.

O mogno africano ainda vai se estabelecer com mais força na indústria aqui no Brasil. É o seguinte, a cada dia que passa a pressão para não se cortar madeira de florestas nativas aumenta. Até 2030 o Brasil tem uma meta com as COPs (Conferência das Partes/ONU) de desmatamento zero. Então a previsão é que falte madeira para estes fins nobres no mundo. É aí que o produtor não só de mogno, mas como também de Cedro Australiano, Teka, Pau de Balsa, Ipê Felpudo, e outras madeiras nobres plantadas no Brasil irão entrar no mercado mundial com força total.

MF – Minas é o estado com maior área de floresta plantada no país, e no Censo, o mogno também domina com maior quantidade de cultivo nessa região. Quais as expectativas de mercado no estado, bem como no geral?

Milton – O mogno de Minas Gerais surgiu com uma viagem do empresário Ricardo Tavares. Ele em 2008 foi ao Pará e chegando lá ele não só visitou os plantios, bem como trouxe amostras da madeira para Minas Gerais e foi num Marceneiro e realizou diversos testes na madeira, atestando a qualidade da madeira. Daí ele plantou 500 ha na Atlântica Agro em Pirapora, e plantou mais ainda na Serra da Canastra e com ele veio a empresa Khaya Woods que plantou 1.400 ha.

Depois então surgiu a empresa Mogno das Alterosas que plantou 5.000 ha. Logo saíram manchetes em jornais e revistas onde intitulavam o mogno africano como um ‘ouro verde’, despertando o interesse e surgindo ainda novos plantios, virando uma nova tendência, desde então.

O triste disso tudo é o mogno não é um ‘ouro verde’. O mogno é um negócio como outro qualquer, e se o produtor pensa em fazer um dinheiro bom terá ainda de investir numa serraria para vender a madeira serrada, porque, ao vender a madeira em tora,  a margem será muito pequena.

O mercado está respondendo bem. Hoje o que existe para venda é madeira oriunda do desbaste. A madeira desbastada pode ser serrada, ou para lenha, ou para cavaco ou até para utensílios, portas, janelas, lambri, cobogós e etc…

Citamos como exemplo a empresa Khaya Woods, que tem formatos padrões de madeira serrada e tudo o que ela produz oriundo do desbaste ela vende. Já a R3 Mogno faz madeira serrada nas classificações A,B,C,D, precortados, barrotes, painéis, tampos de mesas destinados à movelaria, e está lançando também uma linha gourmet, com a marca Mogno+. A Mais Verde faz madeira serrada, portas, biombos, lambri, forro, abridores de garrafas, cobogós e outros produtos, e aliás, recentemente teve um pedido relevante para fazer troféus. Então o que posso dizer é que tudo o que se produz se vende.

Quem tem dificuldade para colocar mogno no mercado é aquele produtor que está isolado dos outros produtores e acaba ou vendendo seu produto de desbaste para lenha ou então acaba chegando até a mim ou a ABPMA para pedir auxílio. Todo mês eu recebo pelo menos o telefonema de um produtor que não faz parte da ABPMA me perguntando como ele vai colocar a madeira dele no mercado.

Então na realidade é que existe um mercado enorme para madeira de desbaste, mas para se ganhar algum dinheiro é necessário agregar valor a madeira transformando-a num produto para vende-la. Quem não fizer isso vai ou empatar ou até ter prejuízo com o desbaste.

Quanto ao mercado do mogno adulto, já sabemos que é bom. Já pesquisei no COLMEX e vi que saíram do Brasil dois containers para os EUA com madeira serrada a US$ 1.000 o metro cúbico e três para o Caribe, a R$ 4.000,00 o metro cúbico da madeira serrada. A maioria dos plantios atingem a idade do corte final daqui a 8 a 10 anos.

MF – Em sua participação no Florestas Online (https://florestasonline.com.br/), evento que acontecerá em meados de outubro, no qual abordará sobre ‘A realidade do mogno africano no Brasil’, o que destacará nesse tema?

Milton – Minha maior preocupação com esta palestra são as planilhas com retornos faraônicos desta cultura. É preciso ter cautela com dados exorbitantes divulgados na internet, verificar as fontes e veracidade das informações.

Dá para ganhar dinheiro com o mogno sim, mais hoje existem muitas instituições e empresas que vendem cotas de plantios de mogno prometendo situações e ganhos  que jamais acontecerão. Portanto, em minha participação neste evento online, quero focar em prevenir e sensibilizar os participantes para difundirem a verdade, isso, porque tem muita gente sendo enganada no país. Por isso o tema de minha palestra será: ‘A realidade do mogno africano no Brasil’.

Saiba mais em:

https://abpma.org.br/ | https://www.youtube.com/results?search_query=miltonfrankjr

Escrito por: Redação Mais Floresta.