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Amazônia é mais destruída pelo consumo nacional do que pelas exportações

Consumo e economias das grandes cidades do centro-sul são o principal acelerador do desmatamento da floresta equatorial

A destruição direta da floresta amazônica brasileira foi contida novamente pelo governo, mas segue acima dos menores níveis atingidos em meados dos anos 2000. Ao mesmo tempo, garimpo, corte seletivo de árvores, ataques a populações indígenas e tradicionais e outros crimes seguem firmes e fortes.

Tais pressões são alimentadas mais por demandas brasileiras do que de exportações, no caso agropecuárias. É o que evidencia um estudo publicado na revista científica Nature Sustainability por cientistas das universidades de São Paulo (USP), Federal de Juiz de Fora (UFJF) e World Resources Institute.

A investigação mostrou que 83,17% do desmate é provocado por consumo fora da Amazônia e apenas 16,83% por demandas da região. E dos 83,17%, 59,68% abasteceram o restante do Brasil e 23,49% o comércio internacional, detalha Eduardo Haddad, um dos autores do estudo e professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP.

Essa destruição amazônica alimenta especialmente economias no centro-sul, região com as maiores cidades do país. Esse recorte é estratégico para o desenho de melhores políticas e ações de conservação e restauração de ambientes naturais e de enfrentamento da crise climática.

Segundo Haddad (USP), os resultados foram possíveis mudando a lógica tradicional de avaliação do desmate, comumente pensado a partir da oferta, de quais setores promovem a substituição das florestas por outros usos da terra, como agricultura, pecuária e mineração. 

“A metodologia que adotamos permite ver o fenômeno do desmatamento também a partir da perspectiva da demanda, identificando as fontes de estímulos econômicos para que os setores produtivos se envolvam no desmatamento”, explica Haddad.

A Amazônia se espraia por nove estados e mais de 5 milhões de quilômetros quadrados (km2), cobrindo cerca de 60% do território nacional. Quase ¼ dela já foi desmatado e mais de 1 milhão de km2 estão degradados, aproximando o bioma do “ponto de não retorno”, quando pode colapsar e liberar bilhões de toneladas de carbono na atmosfera planetária.

Informações: O Eco.

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Degradação florestal na Amazônia aumenta quase 5.000% em março

Roraima foi o estado responsável pela alta no número. Apesar dos índices de degradação, o desmatamento apresentou queda, mostra SAD, do Imazon

As florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 2.121 km² em março, o equivalente às cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Belém (PA) somadas. O número representa uma alta de 4.948% em relação a março de 2023, quando a degradação detectada foi de 42 km². Os números, do Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon (SAD), foram divulgados nesta quarta-feira (17).

Segundo a ferramenta, Roraima foi responsável, praticamente sozinho, por toda a degradação detectada. Além do estado no extremo norte amazônico, Mato Grosso também entrou na lista, mas não chegou a completar 1% do total monitorado no período.

A ferramenta do Imazon mostra que, em Roraima, que vem sofrendo com a estiagem extrema e já soma 4.500 focos de queimadas de janeiro a meados de abril de 2024, a degradação também precisa ser considerada.

“A seca em Roraima perdura. E, nessas condições, aumenta a vulnerabilidade às queimadas, um dos principais vetores de degradação”, explica Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon.

Desmatamento

Já o desmatamento por corte raso – quando toda a vegetação é destruída para dar lugar a outros usos do solo, como pastagens para o gado – teve uma redução de 64% em março, em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Segundo o SAD, no período, foram desmatados 124 km² na Amazônia Legal. O Amazonas encabeça a lista de estados mais desmatados, com 28% do total, seguido pelo Mato Grosso, com 26%, Roraima (25%), Pará (9%), Rondônia (9%) e Maranhão (1%).

“A baixa consecutiva na devastação demonstra que as políticas de combate à derrubada na Amazônia estão sendo eficazes, apesar disso, é preciso continuar com as ações de combate e controle do desmatamento na região, focando principalmente  nos territórios protegidos e nas áreas de intensa pressão ambiental”, diz  Larissa Amorim, também pesquisadora do Imazon.

A maior parte da destruição da floresta ocorreu dentro de propriedades privadas ou sob diversos estágios de posse (75%). O restante do desmatamento foi registrado em assentamentos (14%) e Unidades de Conservação (11%)

O desmatamento detectado em Terras Indígenas em março de 2024 foi inferior a 1% do total registrado na Amazônia Legal: foram 0,42 km², contra 3,77 km² em março de 2023, uma queda de 89%. Das cinco TIs mais desmatadas em março de 2024, três estão em Roraima.

Quando considerado o período de 1º de agosto a 31 de março – os oito primeiros meses do chamado calendário do desmatamento, que vai de 1º de agosto de um ano até 31 de julho do ano seguinte – o desmatamento registrado em Terras Indígenas foi o menor em seis anos.

Informações: O Eco.

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Papel: vilão ou exemplo de sustentabilidade?

Artigo de Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva.

Há quem correlacione a produção de celulose e papel com o desmatamento da Amazônia, o que requer alguns esclarecimentos, haja vista que se trata de um assunto específico, longe de ser um conhecimento popular.

Quem tem mais de cinquenta anos, durante sua infância, ouviu pessoas a pé puxando carroças e gritando: “Olha o garrafeiro!,Olha o jornal!” Isso está fartamente descrito no livro “Quarto de Despejo, diário de uma favelada” de Carolina de Jesus. Naquele tempo, o papel para imprimir e escrever, como era classificado para fins de comércio exterior, era todo importado, sendo os jornais os maiores importadores. Assim, o comércio de papel reciclado tinha uma participação significativa no mercado.

Na verdade, até o século XIX, o papel era feito de trapos esgarçados e comprimidos depois de cozidos. Quanto mais ensebado o trapo, melhor seria o papel resultante. Os comerciantes de trapos eram chamados de trapistas. Foi nos Estados Unidos que se descobriu que a soda cáustica era capaz de digerir a lignina, mantendo a celulose, daí as primeiras fábricas de papel em larga escala. O processo começa com a decifragem dos troncos transformando-os numa massa, conhecida como pasta mecânica. Em seguida, essa pasta vai para os tanques de digestão, onde a lignina é atacada pela soda cáustica, até sobrar somente a celulose. É então que começa o processo de fabricação de papel. A massa é misturada a branqueadores químicos e ao caulim como alvejante. Finalmente, começa o processo de laminação, quando as trefiladoras comprimem a massa, expondo a água, que é separada por lâminas extremamente afiadas, deixando o papel quase seco para passar pela estufa e ser enrolado em bobinas. Claro  que essa foi uma explicação extremamente simplificada, haja vista que o papel pode ter inúmeros tipos de acabamento e texturas diversas conforme o uso.

Não é preciso ser muito versado em processos industriais para perceber que não é qualquer tipo de árvores que se presta à transformação em celulose e papel em escala. É preciso que o tronco seja o mais cilíndrico possível, o que descarta 99% das espécies. Em segundo lugar, é preciso que tenha crescimento rápido para reduzir custos. Em terceiro lugar, deve ter madeira macia para facilitar a desfibragem. Os dois últimos motivos descartam toda a madeira nobre porque ela demora para crescer e é muito dura e pesada, não se prestando ao maquinário. Aliás, as canaleta por onde correm os troncos têm tamanho fixo, o que requer padronização. Espera-se que o tronco tenha 40 cm de diâmetro para a colheita.

As coníferas como eucalipto e pinheiros são as espécies mais usadas porque seu fuste é reto, nunca se bifurca e crescem muito rapidamente, tornando sua madeira leve. Além disso, as florestas destinadas à produção de celulose estão sujeitas à poda de condução, cuja finalidade é homogeneizar o bosque. Os galhos resultantes da poda, também conhecidos como ponteiros, são destinados à produção de carvão ou lenha para padarias.

A rigor, qualquer fibra vegetal pode virar papel, até calças jeans velhas. Assim, existem fábricas especializadas na fabricação de celulose de cana, seja do bagaço, seja da palhada restante da colheita mecanizada. A sazonalidade faz com que elas percam em volume para a madeira que pode ser armazenada para que as fábricas funcionem o ano inteiro incessantemente. Independentemente do método, a lignina é queimada e transformada em energia elétrica, cujo excedente pode ser vendido à rede pública, e o vapor restante usado no processo produtivo. Isso permite que a soda seja reutilizada, evitando seu descarte nos cursos d’água.

Todas as exigências eliminam a possibilidade de haver qualquer correlação entre a produção de celulose e o desmatamento da Amazônia. Toda a produção desse item se dá no sudeste com plantio controlado, ocupando áreas anteriormente de pasto ou lavoura de cana cuja inclinação não permite a obrigatória colheita mecanizada. Não é à toa que o florestamento é crescente em São Paulo e Mato grosso do Sul. Ademais, o Canadá e várias regiões dos Estados Unidos vivem da exploração racional das florestas de coníferas, por que não nós?

Para quem se interessar, convido a ler o artigo homônimo a este, de autoria de Júlia Fraga, então minha orientanda. Ele está disponível em https://revistas.brazcubas.br/index.php/dialogos/article/view/22/31.

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou mestrado na PUC-SP, é pós-graduado em Economia Internacional pela Columbia University (NY) e doutor em História Econômica pela USP. No terceiro setor, sendo o mais antigo usuário vivo de cão-guia, foi o autor da primeira lei de livre acesso do Brasil (lei municipal de São Paulo 12492/1997), tem grande protagonismo na defesa dos direitos da pessoa com deficiência, sendo o presidente do Instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas (MO4P). Nos esportes, foi, por mais de 20 anos, o único cavaleiro cego federado no mundo, o que o levou a representar o Brasil nos Emirados Árabes Unidos, a convite de seu presidente Khalifa bin Zayed al Nahyan, por 2 vezes.

Informações: Jornal GGN.

Imagem: Divulgação Tomgraf.

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