São números impressionantes: em 2022, gerou 2,6 milhões de empregos diretos e indiretos, alcançou uma receita bruta de R$ 260 bilhões e bateu recorde de produção, ao atingir 25 milhões de toneladas de celulose, 11 milhões de toneladas de papel e 8,5 milhões de m³ de painéis de madeira
O Brasil conta com uma carteira de investimentos de quase R$ 62 bilhões, abrindo uma nova fábrica a cada ano e meio, em média. É um setor que está do lado certo da equação climática e motivo de orgulho para os brasileiros e brasileiras. É, atualmente, um dos motores da economia brasileira. Para se ter uma ideia, foi o quarto item da pauta de exportações do pujante agro brasileiro em 2022, consolidando-se como um forte segmento da agroindústria. Gerou divisas no montante de US$ 14,29 bilhões, resultantes de exportações na ordem de 19,1 milhões de toneladas de celulose, 2,5 milhões de toneladas de papel e 1,5 milhão de m³ de painéis de madeira.
Setor consolidado
O Brasil é o maior exportador de celulose do mundo, segundo dados da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores). A indústria de base florestal plantada vem se consolidando há décadas como um modelo de bioeconomia em larga escala, se submetendo voluntariamente a rigorosas certificações internacionais há anos.
Atua ao lado da sociedade para gerar valor compartilhado e crescimento mútuo, comprovando, todos os dias, a compatibilidade entre produzir e conservar. No Brasil, 100% do papel provém de árvores cultivadas para essa finalidade.
O setor planta, colhe e replanta em uma área de 9,94 milhões de hectares. A expansão dos cultivos tem ocorrido em áreas previamente antropizadas, substituindo pastos de baixa produtividade por florestas cultivadas, principalmente de pinus e eucalipto, manejadas com as mais modernas técnicas e amplamente apoiadas em ciência.
Esse processo de recuperação de áreas degradadas amplia ainda mais a relevância do segmento no importante desafio planetário de combate aos efeitos das mudanças climáticas, já que as árvores são a mais eficiente solução baseada na natureza para a mitigação das mudanças climáticas.
Sequestram e estocam gás carbônico, cujas altas concentrações são a principal responsável por empurrar o planeta para o aquecimento global.
Além das áreas produtivas, este setor conserva, simultaneamente, outros 6,7 milhões de hectares de mata nativa, o que equivale ao território do Estado do Rio de Janeiro.
Oportunidades
Paulo Hartung, presidente-executivo da Ibá, relata que, competitivo globalmente, o setor enxerga enormes oportunidades na economia de baixo carbono, por meio da oferta de produtos oriundos de fonte renovável, que são recicláveis e biodegradáveis.
Usando a árvore como uma biorrefinaria, este segmento separa duas matérias-primas centrais: a fibra da árvore, que é usada na fabricação de mais de 5.000 bioprodutos, como livros, embalagens de papel, roupas e lenços de papel; e a lignina, parte da estrutura que dá sustentação para as árvores, usada para produção de energia.
O executivo se orgulha de informar que quase toda a energia consumida pelo setor de árvores cultivadas para fins industriais é limpa, produzida pelo próprio setor a partir da biomassa florestal.
Setor de celulose não para de crescer
O Brasil é o maior exportador de celulose no mundo, e 2º maior produtor (atrás dos EUA). Foram 19,1 milhões de toneladas exportadas em 2022, um total de US$ 8,4 bi (EUA exportou US$ 7,7 mi).
Estima-se que 25 milhões de toneladas foram produzidas, sendo 22 mi para fibra curta; 2,5 mi fibra longa e 0,5 mi para pasta de alto rendimento (recorde do setor no Brasil); EUA produziu 49,7 milhões de toneladas, um crescimento de 10,9% na produção em relação a 2021. As informações são do Relatório Anual Ibá 2023.
Receita
R$ 260,0 bilhões/ano (RECORDE)
1,3% do PIB nacional
4,1% do PIB do Agro, 4º item da balança de exportação do agro
7,2% do PIB industrial
Empregos
614 mil diretos
2,6 milhões diretos e indiretos (RAIS & ESG Tech)
Tributos
R$ 25 bilhões/ano federais e estaduais
Presença
9,94 milhões de hectares de área de plantação (novo indicador com dados mais avançados)
6,7 milhões de hectares de florestas naturais para conservação
Exportação
US$ 14,3 bilhões (RECORDE)
19,1 milhões toneladas celulose
2,5 milhões toneladas papel
1,5 milhão m³ painéis de madeira
Produção
25 milhões de toneladas de celulose (RECORDE)
11 milhões de toneladas de papel (RECORDE)
8,5 milhões de m³ de painéis de madeira
Autogeração de fonte renovável
86% de tudo que consome (RECORDE)
+44% frente a 2021
132,5 milhões de GJ
Investimento até 2028
R$ 61,9 bilhões
Média de abertura de, pelo menos, 1 fábrica a cada ano e meio
Produtividade florestal: (novo indicador com dados mais avançados)
Eucalipto – 32,7 m³/há/ano
Pinus – 30,9 m³/há/ano
Remoção e estoque de CO2
4,8 milhões de toneladas
Ascensão
Paulo Hartung atribui o crescimento acelerado do setor de celulose no Brasil ao investimento maciço em ciência e tecnologia aplicada. “Na década de 70, a produtividade média era de aproximadamente 10 metros cúbicos por hectare/ano. Atualmente, o país atinge uma impressionante marca de 33 metros cúbicos por ano, posicionando-se como um dos líderes mundiais em produtividade na produção de pinos e eucaliptos”.
Ainda segundo ele, o setor abraçou a inovação como pilar fundamental para o sucesso, resultando em técnicas de silvicultura tropical que se destacam globalmente. Esse avanço é crucial para atender à crescente demanda por celulose de forma eficiente e sustentável.
Capital humano e formação profissional
Outro fator-chave é a formação de capital humano. Empresas como a antiga Aracruz Celulose (hoje Suzano) e a Klabin desempenharam um papel crucial na formação de profissionais do setor.
“O envio de funcionários para estudar no exterior possibilitou a aplicação de conhecimentos globais na silvicultura tropical brasileira. Essa estratégia não apenas impulsionou a eficiência operacional, mas também estimulou a inovação contínua”, opina o executivo.
Nos últimos 20 anos, o setor brasileiro de celulose desenvolveu uma abordagem proativa em relação à busca por certificações internacionais, como o FSC (Forest Stewardship Council) e o PFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification).
Tais certificações não apenas validam as práticas sustentáveis adotadas pelas empresas, mas também conferem substituição aos produtos no mercado internacional.
Expansão global e competitividade
Enquanto muitos setores industriais buscam subsídios, o setor de celulose brasileiro expande sua presença global. Com uma forte participação nas exportações para a Ásia, China, Europa, América do Norte e América Latina, as empresas brasileiras competem de igual para igual.
Paulo Hartung avalia que essa expansão é resultado de décadas de busca pelas melhores tecnologias industriais no mundo, resultando em um parque industrial avançado e sustentável.
“As plantas industriais, como o Projeto Puma II, da Klabin e Rio Pardo, da Suzano, estão utilizando tecnologias de descarbonização e gaseificação da biomassa, transformando resíduos em fertilizantes e buscando formas de reutilização na própria área agrícola. O sucesso do setor agrícola está mais ligado à ciência aplicada do que aos fatores naturais, como terra, clima e sol”, expõe.
Os fatores naturais ajudam, mas ter terra não é o suficiente para fazer o setor crescer. É preciso fazê-lo sem desmatar ou destruir as florestas nativas. “O setor não apenas utiliza a terra de forma inteligente, cuidando do meio ambiente e das pessoas, mas também a preserva. Nossa área de plantio é de 9,9 milhões de hectares, enquanto a área de conservação de florestas nativas em nossas fazendas é de 6,7 milhões de hectares. Você não encontrará nenhuma outra atividade que utiliza terra no Brasil com números tão impressionantes como esses”, garante Hartung.
Os olhos do mundo se voltam para nós
O Brasil abriga uma gama diversificada de players nacionais e internacionais no setor de base florestal. Entre os nomes nacionais, destacam-se Suzano, Klabin, Dexco e o grupo Berneck. A presença de investidores chilenos, como a CMPC Arauco, e de grupos tradicionais americanos, a exemplo da WestRock e Sylvamo, evidencia a importância do país no mapa global.
Hartung destaca ainda a entrada de gigantes asiáticos, como a RGE, detentora da Bracell, e o Paper Excellence, este último em processo de disputa pelo controle da Eldorado. O interesse estrangeiro e nacional no Brasil, segundo o presidente da Ibá, reflete a visão de que o país se configura como um terreno fértil para investimentos.
“O Brasil é a bola da vez”, ressalta Hartung, apontando para a vastidão de terras degradadas e a tecnologia tropicalizada, características que tornam o país singular no contexto global.
Floresta sustentável e biodiversidade
Além da quantidade abundante de terras disponíveis, o Brasil se destaca pelo desenvolvimento de tecnologias inteligentes, como o manejo florestal. Este sistema inovador utiliza mosaicos, nas quais árvores cultivadas coexistem harmoniosamente com espécies nativas, formando corredores ecológicos que enriquecem a biodiversidade no setor.
“Nossas plantas industriais são de última geração e estão entre as mais competitivas do mundo”, afirma Hartung, evidenciando o compromisso do setor com a sustentabilidade e a eficiência.
Apesar dos desafios globais, Hartung enfatiza que o Brasil possui ações ambientais competitivas, destacando a importância de aprender com setores bem-sucedidos, como o de tecnologia e agronegócio.
Do laboratório para o campo
A versátil celulose tem sido objeto de estudos e suas micropartículas já dão origem a incontáveis itens essenciais e de origem renovável no dia a dia das pessoas.
Na dimensão nanométrica, a nanocelulose é considerada um “supermaterial”, por ser resistente, leve e impermeável. As indústrias automotiva e aeronáutica já vêm sendo beneficiadas pelo desenvolvimento desse tipo de material inovador.
Já as nanofibrilas de celulose têm como uma de suas características a menor capacidade de absorção de água, por isso são ideais para aplicações como barreiras, usadas em embalagens de alimentos, biomedicina, contenção para gases e até mesmo cosméticos. Nesse sentido, a Klabin investiu na startup israelense Melodea para desenvolvimento de novas soluções para as barreiras.
Transparentes e com alta resistência, os cristais de nanocelulose podem ser empregados na condução elétrica. Uma das aplicações é na tela do celular dobrável. De origem renovável e mais sustentável, os bio-óleos já são empregados na geração de energia, como aditivos para melhorar a eficiência de combustíveis ou como o combustível em si, após refino.
Nesse mesmo sentido, empresas do setor já vêm usando bio-gases e bio-óleos derivados da queima de biomassa, em substituição ao óleo combustível na operação de caldeiras dos fornos de cal, uma importante etapa do processo de recuperação dos coprodutos da fabricação de celulose e que tem papel de destaque na descarbonização das operações industriais.
Inovação originada da celulose
Na indústria têxtil, por outro lado, a ascensão da viscose oriunda da celulose solúvel é outro fenômeno notável, como parte do movimento global pela sustentabilidade, já representando cerca de 6% do mercado têxtil global.
No Brasil, para essa demanda específica, temos a Bracell, com duas fábricas habilitadas, em São Paulo e na Bahia; e a LD Celulose, em Minas Gerais, um joint venture entre a Dexco e a austríaca Lenzing. A viscose vem sendo utilizada como opção em roupas, inclusive em tecidos delicados, para dar textura, como em gravatas, roupas íntimas, vestidos e até jeans, além de toalhas e roupa de cama. Outra versão da celulose, a microfibrilada, também está sendo desenvolvida para ampliar a oferta de fios têxteis, com investimentos como o da Suzano na startup finlandesa Spinnova.
Com constantes investimentos em inovação, ciência e tecnologia, a indústria de base florestal segue desenvolvendo inesgotáveis soluções sustentáveis, ajudando a construir um mundo melhor.
COP 28
No cenário global, a Conferência do Clima de Paris, mais conhecida como COP28, marcou um ponto de virada nas discussões ambientais, reunindo líderes de todo o mundo em busca de soluções concretas para os desafios climáticos.
“A COP de Paris foi um marco não só para o Brasil, mas para o mundo. O Brasil esteve na mesa com protagonismo, e decidiu muita coisa importante naquele momento”, destaca Hartung. Ele se refere à relevância do mercado regulado de carbono e do financiamento climático para os países mais impactados pelos problemas ambientais, resultantes, em grande parte, da revolução industrial. No entanto, ao olhar da COP de Paris para os dias atuais, Hartung ressalta que o mundo avançou pouco em relação à ambição inicial. Ele alerta que soluções simplistas para problemas complexos não são viáveis e destaca a necessidade de paciência na busca por respostas efetivas.
Quando o foco volta para o Brasil, Hartung aponta para as características únicas do país. “Com uma matriz energética diferenciada, com mais de 40% proveniente de fontes renováveis, e mais de 80% de energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis, o Brasil está à frente de muitos países desenvolvidos nesse aspecto”, opina.
O território brasileiro também abriga a maior floresta tropical do planeta, cobrindo quase 60% do país e contribuindo para a maior biodiversidade global. Além disso, detém 12% da água doce do planeta e apresenta uma experiência notável em biomassa, tanto da cana como da biomassa florestal. Hartung destaca que os brasileiros muitas vezes subestimam ou não registram regularmente esses ativos ambientais prejudiciais.
“É preciso compreender a importância e o potencial que o Brasil possui. Nossa responsabilidade vai além das fronteiras. Temos uma riqueza ambiental que, se bem gerida, pode contribuir significativamente para os esforços globais na mitigação das mudanças climáticas”, ressalta Hartung.
Direto ao ponto
Hartung provoca uma reflexão sobre a necessidade de o Brasil abandonar a cultura de criar soluções exclusivas, as chamadas “jabuticabas”, e buscar a integração com os mercados globais, especialmente o europeu.
Ele enfatiza a importância de desenvolver um mercado de carbono alinhado às práticas internacionais, fazendo com que o Brasil não seja apenas consumidor, mas também fornecedor de energia limpa e produtos sustentáveis.
“É urgente a criação de incentivos para o desenvolvimento de fontes de energia limpa no Brasil, não apenas para a sustentabilidade ambiental, mas também para a oportunidade de se tornar um líder global na oferta desses recursos. A possibilidade de uma reindustrialização do país, impulsionada por práticas sustentáveis, cria uma nova dinâmica econômica”, justifica.
Política pública baseada em evidências
Hartung é incisivo ao afirmar que a elaboração de políticas públicas não pode ser feita de maneira improvisada. Ele destaca a importância de embasar as decisões em ciência e evidências, evitando o aumento das despesas energéticas do país.
Para ele, é essencial desenhar políticas que atendam aos desafios específicos do Brasil, levando em conta a desigualdade social e a pobreza existentes, e ressalta o papel fundamental de que o Brasil desempenha na produção global de alimentos, fornecendo 10% do que a população mundial consome.
Pesquisas à frente do tempo
A pesquisa científica desempenha um papel imprescindível para o avanço da indústria de celulose. Flavio Hirotaka Mine, coordenador da Comissão Técnica de Transformação Digital da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), destaca as seguintes contribuições:
- Melhorias em processos: otimizações em métodos de extração, redução na geração de resíduos, elevação da eficiência energética, redução consumo de água e reuso da água nos processos produtivos.
- Tecnologias: a inteligência Artificial, sensoriamento remoto de precisão tem elevado a eficiência e segurança dos processos.
- Biotecnologia: contribuição para o desenvolvimento de árvores geneticamente modificadas contribuindo para maior produtividade, resistência a pragas, maior qualidade de fibra.
- Desenvolvimento de novos produtos: avanços na diversificação de produtos derivados de celulose como a nanocelulose e celulose microfibrilada.
- Sustentabilidade: desenvolvimento de métodos mais eficientes de reciclagem de produtos e reutilização de resíduos.
Tendências de mercado
“Temos a crescente demanda por produtos cada vez mais sustentáveis que levam ao desenvolvimento de produtos derivados da celulose, avançando em setores como a indústria têxtil e de biomateriais. Além disso, o setor enfrenta desafios relacionados à infraestrutura e logística para envio dos produtos até os mercados consumidores”, pontua Flavio Hirotaka.
Ainda assim, ele diz que as oscilações nas taxas de câmbio impactam a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Consciência da sustentabilidade
O aumento da conscientização sobre questões ambientais tem impulsionado a demanda por produtos mais sustentáveis. Neste sentido, as recentes descobertas estão na reutilização dos resíduos industriais gerados no processo de fabricação, no desenvolvimento de novos produtos que contribuem com a redução do uso do plástico, relacionado ao desenvolvimento de embalagens à base de celulose.
De acordo com Flavio Hirotaka, práticas sustentáveis têm pressionado os setores econômicos para o alinhamento das demandas por responsabilidade ambiental e social. “A pesquisa científica aborda os desafios técnicos e ambientais para o desenvolvimento de processos mais limpos, a redução de resíduos, o uso eficiente de recursos naturais e a minimização do impacto ambiental”, considera.
No 55° Congresso Internacional de Celulose e Papel promovido pela ABTCP foram compartilhados exemplos de avanços sustentáveis para o setor de celulose e papel. Produção de SAF (Sustainable Aviation Fuel) à partir do Bioetanol, Celulose Nano Fibrilada (CNF), usos da nanocelulose.
Informações: Campo & Negócios.