De janeiro a setembro deste ano, o Paraná registrou mais de 12 mil atendimentos de incêndios florestais
O fogo se espalha rapidamente pelas folhas secas e material orgânico no solo. Em minutos, uma floresta é vista em chamas. A cena da catástrofe ambiental provoca tristeza, revolta e, principalmente, gera um alerta de que algo precisa ser feito. De acordo com o Corpo de Bombeiros, de janeiro a setembro deste ano, o Paraná registrou mais de 12 mil atendimentos de incêndios florestais. Só no mês passado, o estado teve em média 129 ocorrências por dia.
“A gente tem que diferenciar as queimadas dos incêndios florestais. Uma queimada é uma área pré-definida onde você aplica o fogo com algum objetivo, enquanto o incêndio florestal é o fogo que se propaga livremente causando uma série de danos ou efeitos ao ambiente”
Para que os números não sejam piores, a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE) tem desenvolvido campanhas e diretrizes de prevenção de combate ao fogo.
“Há três anos a gente sentiu que havia necessidade de uma coordenação maior dessas ações. Na realidade, a função de uma associação é pegar as boas práticas e levar para todos os associados […] A empresa tem onde se espelhar para desenvolver seu sistema de proteção contra incêndios florestais. Além disso, ela tem uma base para buscar informações e ser mais eficiente no monitoramento. A gente conseguiu trazer luzes para esse problema no Paraná e um dos exemplos é uma maior atenção por parte do Governo do Estado a esse tema”afirmou Ailson Loper, diretor-executivo da APRE.
Exemplo que deu certo
O Paraná é referência na produção florestal nacional, com uma área de 1,17 milhão de hectares de florestas plantadas. Parte desse sistema está nas áreas da empresa Klabin – maior produtora e exportadora de papéis do Brasil – com uma unidade florestal em Telêmaco Borba, na região dos Campos Gerais.
Segundo Jose Valmir Calori, diretor de Operações Florestais da Klabin, a empresa investe permanentemente na prevenção a incêndios com um sistema de monitoramento inteligente.
A companhia conta com uma sala de comando com cerca de 18 câmeras, que registram imagens em tempo real, 24 horas por dia, com um alcance de até 40 quilômetros de distância. Os equipamentos foram instalados em torres de 60 metros de altura.
“É um investimento enorme em infraestrutura e, principalmente, em planejamento. Hoje temos muitas torres de monitoramento de clima e, com isso, temos informações sobre umidade relativa e volume de chuva dos períodos antecedentes em que podemos calcular o risco de incêndio de cada uma das regiões. E ao levantar isso conseguimos planejar melhor sobre onde colocar nossas estruturas e a forma como iremos trabalhar. Além disso, a gente faz o monitoramento via satélite porque isso auxilia nos incêndios e ajuda a gente fazer esse planejamento”detalhou Jose Valmir Calori, diretor de Operações Florestais da Klabin, em entrevista à Banda B.
A Klabin também tem aproximadamente 700 colaboradores treinados para atuar na prevenção e controle de incêndios na região. A estrutura conta ainda com uma aeronave capaz de transportar até 450 litros de água, além de caminhões semelhantes aos do Corpo de Bombeiros.
“Dentro do planejamento da companhia, nós colocamos a estrutura de uma forma inteligente. Nós temos hoje mais de 50 vigilantes terrestres, distribuídos ao longo das nossas operações. Com isso, nós temos mais de 15 brigadas fixas preparadas para fazer o combate a esses incêndios e, além disso, nós temos mais de 700 pessoas treinadas para quando ocorrer algum evento poder fazer o combate rápido”pontuou Calori.
Sabendo que o ‘fogo não respeita a cerca’, o diretor também citou a importância do engajamento da comunidade que vive no entorno das florestas plantadas.
“Uma coisa muito importante, que é um diferencial da companhia, é o bom relacionamento com as comunidades vizinhas por meio de programas socioambientais e da conscientização do risco que a situação dos incêndios traz. Os nossos olhos são os olhos dos nossos vizinhos também, que nos ajudam a identificar os focos. A gente ajuda a população a entender o risco dos incêndios, e essas parcerias fazem com que a gente tenha cada vez mais controle e cada vez menos problemas ao longo do tempo, mesmo em períodos de tempo seco”ressaltou o diretor da Klabin.
De olho nas mudanças climáticas
A menor incidência de chuvas e as secas mais prolongadas deixam as florestas tão vulneráveis que uma simples faísca pode ocasionar um estrago gigantesco. Conforme o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), o Brasil enfrenta atualmente a maior seca da história, impulsionada pelas mudanças climáticas.
Para tentar minimizar os problemas com incêndios florestais, o professor da UFPR, Alexandre França Tetto, reforça que é preciso entender como esses eventos ocorrem.
“E uma coisa muito importante é saber onde, quando e como os incêndios acontecem. Então, existem dentro das empresas florestais e do Corpo de Bombeiros o chamado registro de ocorrência de incêndio que tem todas essas informações. Aqui no estado do Paraná a gente tem principalmente agosto e setembro como os meses que temos o maior número de incêndios, então podemos nos preparar para esses meses”considerou Alexandre França Tetto, professor da UFPR.
Os incêndios não impactam apenas na perda de árvores, mas também na qualidade do solo, ar e clima. Um exemplo é a fumaça que tomou conta do país recentemente. Por isso, Tetto destaca que a melhor saída é a prevenção.
“A gente tem que pensar na prevenção, porque é muito mais barato você prevenir um incêndio do que depois ter que combater. Há várias formas de se prevenir um incêndio, desde a educação ambiental, passando pelo aspecto de legislação, de fiscalização, de realização e manutenção de aceiros […] Um dos princípios básicos relacionados ao fogo diz que todo incêndio começa pequeno, então se a gente detectar o incêndio rapidamente e combater rapidamente, fica muito mais fácil de ser contido. Com relação a isso, as empresas florestais têm uma campanha liderada pela APRE que trabalha muito essa questão da educação ambiental”citou o professor.
Conforme o diretor da APRE, Ailson Loper, a cada dez incêndios florestais, nove são causados pelo ser humano. Dessa forma, é necessário fazer a população pensar e falar sobre o tema.
“As empresas florestais já têm um histórico de olhar para incêndios florestais de uma forma diferente das outras atividades produtivas no campo. Elas já tratam os incêndios como um risco aos seus plantios florestais e, por isso, se adequam a esse ambiente. De que forma isso ocorre? Primeiro existe um mapeamento das áreas de risco. Pensando que mais de 90% dos incêndios são causados pela ação humana, as empresas prestam ainda mais atenção em áreas de trilhos de trem e entorno de cidades, por exemplo”finalizou Ailson Loper, da APRE.
Informações: Banda B.