Câmeras em torres, brigadas e aeronaves estão entre medidas; MS tem cerca de 1,5 milhão de ha de eucalipto

Enquanto o Pantanal e trechos de Cerrado ardem em chamas nessa época seca do ano, muitos devem se perguntar porque isso não ocorre com as florestas de eucalipto. Com a madeira super valorizada, como matéria-prima para a produção da celulose, atividade em franca expansão no Estado, as indústrias do setor e empresas que cultivam florestas investem pesado no monitoramento e prevenção, para que incêndios florestais não produzam prejuízos gigantescos, em um verdadeiro “Big Brother” da área cultivada, que deve chegar a 1,5 milhão de hectares. Fazer aceiros e manter as áreas limpas são só uma ponta das medidas adotadas.

Nas áreas há torres com câmeras de longo alcance, existem centrais de observação permanente das imagens, estações meteorológicas atentas às condições climáticas e aos ventos, brigadas com equipamentos e até aviões de sobreaviso nessa época do ano.

A maior produtora mundial de celulose, a Suzano, que acabou de ativar uma unidade em Ribas do Rio Pardo (ela já mantém uma fabrica em Três Lagoas), tem equipe de 700 brigadistas. As florestas, cerca de 600 mil hectares para atender suas unidades, são monitoradas por 30 torres, com altura entre 54 e 72 metros, e auxílio de satélites, para identificar focos de fumaça calor em um raio de 15 quilômetros. Essa é uma das estruturas mais modernas do País, segundo divulgou a empresa.

O aparato ainda conta com caminhões com capacidade de 18 mil litros de água e mantém dois aviões contratados de sobreaviso para eventuais incêndios, o que não tinha sido registrado, segundo o diretor de Engenharia, Maurício Miranda, revelou, em entrevista ao Campo Grande News.

“Combater foco de incêndios vai muito além de proteger o nosso negócio, é contribuir para a preservação de matas nativas, da nossa fauna e para a qualidade de vida das comunidades no nosso entorno”, destaca Douglas Guedes de Oliveira, gerente Executivo de Inteligência Patrimonial da Suzano em Mato Grosso do Sul, revelando que as ações são intensificadas nessa época, de estiagem. Em meio às florestas de eucalipto, nas áreas de preservação, há muitos animais, como felinos e aves.

A Eldorado, que mantém fábrica em Três Lagoas e conta com área de cultivo de eucalipto de  400 mil hectares, mantém equipes capacitadas para a prevenção e combate. No ano passado, a empresa capacitou 1.088. Foi elaborado um Plano de Manejo Florestal, que inclui câmeras controladas por inteligência artificial e via satélite com alto alcance de cobertura e uma estação meteorológica para ser possível antecipar os efeitos climáticos.

Segundo a empresa, foi possível reduzir em 2023 em 88% as áreas atingidas por incêndios. Para garantir ação rápida, a empresa com mais de 70 caminhões pipa e 26 torres com câmeras.

A chilena Arauco, que vai começar a construir sua unidade em Inocência no ano que vem, já cultiva florestas em Mato Grosso do Sul, com 182 mil hectares, sendo 130 mil de florestas plantadas, 46 mil de área natural e 6 mil de outros usos, em dez cidades da região leste.

O uso de monitoramento permanente também é adotado pela empresa para não ser pega de surpresa com queimadas. Caminhões e caminhonetes são preparados com material para ir a campo combater focos e também aposta em capacitação. No próximo mês, Gerente de Proteção Florestal – Incêndios do Chile, Ramon Figueroa, virá ao estado para repassar experiências sobre combates a incêndios de grandes proporções. No Chile, a empresa utiliza o pinus para a produção de celulose, madeira que leva mais tempo que o eucalipto para poder ser usada no processo industrial. O evento vai reunir associados da Reflore.

Fogo não respeita cerca – Essa máxima veio do presidente da Reflore, entidade que reúne o setor florestal, Júnior Ramires. Ele apontou a necessidade de produtores agirem de forma coordenada entre si e com o poder público e proprietários rurais de outras atividades. Os pequenos precisam ter recursos para atuar, defende, como abafadores, brigadistas e adotar as medidas de prevenção.

A Arauco informou manter um programa chamado Bom Vizinho, de olho nessa parceria. Já a Suzano mantém o Programa Guardiões da Floresta, de comunicação com propriedades rurais vizinhas e também um canal para receber informações sobre queimadas – 0800 203 0000, com atendimento 24 horas.

Ramires admite que acabar com o risco do fogo é impossível, mencionando condutas criminosas, como bitucas de cigarro em rodovia, fogo pra limpeza de área ou mesmo o abandono de materiais que podem desencadear fogo se muito aquecidos, como alumínio e vidro, ou ainda há a queda de raios.

Segundo ele, há 12 anos a entidade aposta em preparação, um planejamento que começa ainda no ano anterior, assim que começa o período de chuvas. Os plantadores de eucalipto atendem as indústrias de celulose, mas também fornecem madeira para siderurgia e outros setores.

Para evitar riscos ocasionados pelas linhas de transmissão de energia elétrica, Ramires informou que há contato constante com as concessionárias, com pedido de atendimento em situações vulneráveis. O diálogo também se estende ao DNIT, responsável pela limpeza das margens da rodovia.

A logística das empresas envolve também a contratação de aeronaves para que fiquem de sobreaviso. Ele estima que cerca de dez estariam destinadas a essa demanda. É uma estrutura que Ramires acredita superar a disponibilidade do poder público para combater o incêndio em outras áreas, como o Pantanal.

A Reflore reúne 19 empresas que cultivam florestas ou utilizam a madeira. A expansão da produção da celulose no Estado, concentrando-se no lado leste, atraiu até fundos de investimento para o plantio. O foco é arrendar ou adquirir áreas antes utilizadas para a pecuária e que reduziram a produtividade diante da degradação e falta de renovação de pastagens, situação já relatada por produtores ao Campo Grande News.

Informações: Campo Grande News.