No Pantanal, o fogo já consumiu mais de 1 milhão de hectares neste ano – o triplo do que foi registrado em 2022, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa/UFRJ). Somente nos primeiros 15 dias de novembro foram 3.024 focos, o pior registro para o mês na série histórica desde 2002, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na última terça-feira (14), os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul decretaram ambiental devido aos incêndios que avançam. Equipes de bombeiros dos dois estados atuam com ações de apoio aéreas e por terra para o enfrentamento e combate aos incêndios das regiões, envolvendo centenas de oficiais da Corporação, além de órgãos estaduais e federais, e voluntários.

Na linha de frente do combate às chamas no Pantanal mato-grossense, o Coronel do Corpo de Bombeiros Militar, Paulo Barroso, descreve o que é possível ver a olho nu, ao chegar nas áreas afetadas. “O cenário é de morte. É a vida se perdendo, a fauna e a flora se queimando em chamas. Não conseguimos afirmar isso ainda, pois precisamos de alguns estudos mais precisos, mas neste ano, por exemplo, estamos encontrando menos animais mortos decorrentes dos incêndios, isso pode ser um forte indicativo, que esse bioma ainda nem se recuperou dos incêndios de 2020”, informou.

“Por aqui seguimos no combate, porém há muito que se fazer ainda! É algo que no momento precisamos de um maior reforço, e olhar por parte dos órgãos governamentais, tanto para o combate ao fogo, como também a recuperação de animais que resgatamos e encaminhamos a ONGs, por exemplo. E para esse serviço ser mais efetivo, resumimos e ressaltamos o seguinte: sem preventivos, sem sucesso. Sem inteligência, sem resultados e com altos custos. Sem compromisso, sem natureza!”, enfatiza Barroso.

Segundo informou Barroso, as ações que se iniciaram no começo de outubro, ainda não tem previsão para encerramento, devido às dificuldades para o controle das chamas que tem se alastrado na região, e diz: “Contamos também com a chegada das chuvas, para que possa ajudar nesses trabalhos, e acalmar toda essa situação. Esperamos muito por isso”.

Pouca chuva e os efeitos do El Niño teriam relação com o recorde de focos de fogo em pleno período chuvoso, que compreende entre os meses de outubro a março, segundo especialistas. Durante esses meses, as temperaturas tendem a ficar mais elevadas, enquanto a chuva ocorre de maneira irregular, com ‘pancadas’ associadas ao forte calor, sem acumular valores significativos que possam combater os focos de incêndio. Segundo estudos feitos na região, raios também provocaram os incêndios florestais. Porém, incêndios com origem criminosa, também estão sendo investigadas.

Planos dos Governos

O Governo de Mato Grosso anunciou no plano de trabalho integrado com o Governo Federal, que, além de ampliar o efetivo na região, com mais brigadistas, aeronaves e embarcações, maquinários apreendidos pelo Governo do Estado serão empregados nas ações em campo para a preservação da fauna e flora do bioma. Também entrará em operação o Posto de Atendimento a Animais Silvestres (PAEAS) Pantanal. O documento, entregue ainda terça-feira ao Ministério de Meio Ambiente e de mais órgãos envolvidos, consiste em um plano conjunto de reforço às ações de combate aos incêndios, no Pantanal mato-grossense.

Aproximadamente 200 servidores estaduais e federais atuam neste momento na região, em oito frentes de combate ao fogo. Para orientar as equipes em campo, tanto o incêndio no Parque Nacional do Pantanal quanto no Parque Estadual Encontro das Águas é monitorado, por meio de satélites de alta tecnologia, 24 horas por dia. As ações contam ainda com o apoio de três aviões da Defesa Civil do Estado, helicópteros do Centro Integrado de Operações Aéreas (CIOPAer) e Ibama, 11 barcos, viaturas e caminhões-pipa.

No Pantanal do Mato Grosso do Sul, o trabalho de combate aos incêndios florestais está concentrado em três regiões onde o fogo atinge grandes proporções. A atuação dos militares do Corpo de Bombeiros ocorre principalmente na região norte próximo da divisa com o Mato Grosso – conhecida como Pantanal do Paiaguás -, outra frente de trabalho está localizada na região do Passo do Lontra e o terceiro ponto é na região do Rio Negro.

Uma reunião entre representantes do Governo do Estado realizada no início dessa semana, traçou estratégias para o combate a grandes incêndios florestais, entre as medidas foi definido o acionamento de aeronaves para apoio logístico e também aeronaves específicas de combate a incêndios florestais. Segundo informações divulgadas pela Agência de Notícias do Governo de MS, três aeronaves apoiam o trabalho de combate às chamas, duas delas ‘air tractor’ que transporta até 3 mil litros de água para áreas de difícil acesso, que atuam no Paiaguás e no Rio Negro (onde já foram queimados mais de 85 mil hectares).

Corredor de fogo

Repercutem nas redes, imagens gravadas na BR-262, que mostram o fogo consumindo a vegetação, e a fumaça invadindo a rodovia, o que dificultou o trajeto dos motoristas. Segundo equipe de brigadistas do Prevfogo, o incêndio foi registrado na região do Buraco das Piranhas – a cerca de 150 km de distância da área urbana de Corumbá (MS). Nas imagens é possível ver a a baixa visibilidade que o motorista enfrentou no momento, ao passar por parte do incêndio, no qual se formou um verdadeiro ‘corredor de fogo’. Os registros são desta última terça-feira (14).

Incêndios na BR-262 – Foto: Fausto Ruas

Além do Pantanal

O cenário também é bastante alarmante em outros estados brasileiros e países sul-americanos. Considerando os dados para este mês de novembro – atualizados até o dia 15. No Brasil, o Pará lidera com 5.230 focos de incêndio, seguido por Mato Grosso, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Ceará. Já no contexto sul-americano, o Brasil lidera com 16.116 focos, seguido por Bolívia, Paraguai e Argentina. A cidade de Poconé, em Mato Grosso, registrou o maior número de focos de incêndio, com 1.526, seguida por Corumbá em Mato Grosso do Sul.

Alarmante – Imagens das de regiões afetadas pelas chamas podem ser vistas do espaço

Imagem do satélite mostra concentração de dióxido de carbono, resultado dos incêndios das últimas horas na América do Sul – Foto: Windy.

Os incêndios que afetam o Brasil e países vizinhos da América do Sul em 2023 estão causando um impacto significativo e alarmante não apenas no Pantanal, mas também no bioma Amazônico e além. Imagens de satélite revelam uma vasta cobertura de fumaça, evidenciando a gravidade e a extensão das das chamas em áreas florestais na região. A situação que já ‘se arrasta’ por meses – no Pantanal há mais de 30 dias com maior intensidade –, representa uma grande ameaça ao bioma das áreas afetadas. Conforme imagens de satélites, uma densa camada de fumaça já cobre parte do Brasil e dos países vizinhos, afetando a qualidade do ar e colocando também em risco a saúde da população.

Orientações

O Corpo de Bombeiros alerta e orienta aos condutores moradores das proximidades dos locais afetados, a tomarem cuidado ao transitarem na região afetada, principalmente no período noturno, devido à visibilidade prejudicada pela densa fumaça. Além do risco de os veículos poderem ser atingidos pelo fogo.

Junte-se a luta para defender

Saiba como doar e ajudar a construir um futuro para esse incrível bioma. Pensando no presente e em um cenário futuro, o foco da ação do Instituto SOS Pantanal é estruturar brigadas rurais voluntárias por todo bioma, investindo no treinamento, doação de equipamentos adequados para o combate e integração com o corpo de bombeiros, para que as ações sejam ordenadas e eficientes, dando maior segurança para os brigadistas e mais agilidade ao combate às chamas. Mais informações acesse https://www.sospantanal.org.br/apoie/#doacoes ou envie e-mail para contato@sospantanal.org.br

PIX SOS Pantanal – financeiro@sospantanal.org.br.

Escrito por: Redação Mais Floresta.